segunda-feira, maio 26, 2008

Santa Sara Kali e Eu

É incrível a força que as coisas tem, quando elas precisam acontecer.

Santa Sara Kali, sempre foi para mim uma devoção do povo Cigano, e portanto algo que pertencia a tradições que não estavam ligadas a minha.

Nos cruzamos a primeira vez há uns anos atrás, quando eu pesquisava Maria Madalena e o Santo Graal e estava no sul da França, seguindo a trilha de Maria Madalena na Europa. ( isto aconteceu uns anos antes do lançamento do livro O Código Da Vinci e eu seguia a trilha do Livro “O Santo Graal e a linhagem Sagrada” que me fez percorrer o sul da França e a região Cátara. Num pequeno bistrô próximo a Montpelier, uma outra paixão falou mais alto escutei sobre o Sal das Camargues e soube que estava a poucos quilômetros desta região. E fui em frente em busca deste sal culinário e cheguei numa cidade chamada Saintes-Maries-de-La-Mer. Fui em busca do sal, mas não pude deixar de ver uma grande Igreja de tijolos aparentes e entrei.

Era a Igreja onde contam as lendas foram enterradas Maria Jacobina, Maria Salomé, que junto com Maria de Madalena dão nome a Cidade ( Santas Marias do Mar) e uma jovem escrava negra, que veio com elas da Palestina, Sara, a Negra (Kali em romanie hindú). Vi a imagem desta Santa, não reconhecida pela igreja católica, que ajudou na conversão dos habitantes da região. Visitei a igreja onde no dia 24 de Maio acontece a peregrinação dos ciganos e a festa de Santa Sara Kali e a cripta onde se encontra a mais antiga de suas estátuas. E corri de volta para a região Cátara, com 3 quilos dos cristais brancos do sal de Camargue.

Passou o tempo, e há 3 anos fui convidado por um amigo cigano para uma festa familiar de Santa Sara, infelizmente, outro compromisso impediu que eu fosse, e mais um ano se passou e nele conheci melhor o Hermínio Portela, pela rede trocavamos textos e conhecimentos teóricos e práticos sobre paganismo Greco –romano. Infelizmente não conseguimos nos encontrar neste ano, mas deixei minha agenda livre para o mês de maio, já que minha curiosidade em torno deste grupo cigano que cultuavam os deuses antigos aumentava a cada dia.

E em Maio de 2006, finalmente conheci o Hermínio e sua tribo, e foi como um reencontro de amigos ou irmãos, que não se viam há muito tempo. Cada um daquela família, me tocou com seu abraço, me senti bem vindo como fazia tempo que não sentia. E acompanhando a procissão de Sara, comecei a ver que a cada passo algo estava significando mais do que meus olhos viam. A procissão com a Santa em seu andor, atravessava um pequeno riacho carregada pelos Homens e depois voltava por uma outra ponte onde era recepcionada pelas mulheres. Era por demais estranho existir duas pontes a menos de 3 metros uma da outra, mas enfim não era minha tradição, não era meu sangue. Mas eu observava ali tinha coisa, tinha babado... tinha baraka.

E logo depois fui convidado para entrar na Tenda junto com os homens da tribo e de mero observador passei a integrante do ritual e senti a força que tinha tudo aquilo.

Até a minha segunda festa de Sara, visitei várias vezes a chaca e a tribo, vivíamos inventando motivo, almoço, jantares e fomos estreitando a amizade. No ano de 2007 fui convidado para participar das Slavas sazonais em honra aos deuses, para conhecer a roda do ano da Tribo. E assim participei da festa já bem mais familiarizado com os seus costumes e nesta meus 25% de sangue andaluz gritaram bem alto. Ainda em 2007 aceitei o chamado de Dionísio e minha iniciação foi confirmada na Tribo e ganhei uma espécie de dupla cidadania. Não virei cigano, afinal ninguém vira cigano. O povo cigano é uma etnia, assim como ninguém vira japonês, chinês ou cracoviano, não tem o porque eu me considerar cigano, apesar de que, se revirar minha ancestralidade da Andaluzia devo encontrar algumas gotas do sangue cigano misturadas ao meu.

Me senti acolhido, por gente que gostava das mesmas coisas e adorava os mesmos deuses que eu. Ciganos pagãos e politeístas, talvez uma exceção aqui no Brasil, já que a maioria dos ciganos que moram no Brasil, são católicos ou evangélicos ( como disse cigano é o sangue, não a religião). Encontrei o meu povo, a minha família com laços tão forte como os laços de sangue, já que não escolhemos nossos pais e irmãos e a Tribo é a “Família” que escolhi.

Depois da minha aceitação pela tribo, comecei a conhecer o que realmente acontecia nas slavas sazonais, já que antes de confirmada a iniciação eu via apenas as festas, sem saber realmente o que acontecia. Depois de confirmado e recebido o Kamia, passei a participar do que acontecia antes e depois da festa, e aí vi e compreendi o sentido de tudo que eu via. E gostei ainda mais, pois tudo o que eu tinha estudado na teoria, era ali na tribo e nas suas slavas aplicado na prática. Uma pratica que eu perseguia a anos.

E finalmente chegou minha terceira festa de Santa Sara Kali. Agora eu não era mais um convidado, era um membro da família e pude participar da montagem da festa; Três dias de trabalho duro junto com todos os membros da família. E finalmente pude perceber que o sentido da festa era agradecer por tudo que nos foi dado no ano anterior e neste agradecimento louvamos Santa Sara convidando os nossos amigos para comungar conosco deste agradecimento a maneira dos ciganos, com musica, dança, comida, bebida e a alegria que apenas povos sofridos e perseguidos podem sentir.

Para nós da Tribo beber e comer com amigos é mais que um simples ritual, é a Celebração da Vida que começa a brotar dentro do negro e escuro ventre da terra e que virá a luz com o nascimento da criança divina que reinará durante o próximo ciclo.

Hoje sou um Devoto de Sara, e como tal me irrito ao ver que ela e sua festa virou moda e que todo maio, terreiros de Umbanda, espaços esquisotéricos e outros aproveitadores fazem dela um comércio que leva a nada. Me irrita que folhetos de festas de Santa Sara sejam distribuídos pelas ruas e que eu receba convites de festas ciganas pela internet. Me irrita ver que as pessoas aceitam qualquer simulacro, que lhes dê a impressão de estar participando de algo sagrado, que poderia mudar suas vidas ao invés de procurar a seriedade e uma fé que realmente as transforme. Hoje o culto a uma divindade passou a ser considerado como uma grife, que as destaque dos demais e estes se esquecem que a divindade está na natureza e na simplicidade das coisas naturais.

Santa Sara Kali está intimamente ligada a etnia cigana e perde todo e qualquer sentido se não for cultuada entre eles e em família. Infelizmente muitos não percebem isto.

quarta-feira, maio 07, 2008

Um Livro para mulheres,

Ou para Homens que gostam de mulheres

“Um dia, chegando bem tarde em casa, em Paris, encontrei na porta um livro grego, com os seguintes dizeres em letras maiúsculas: “PARA SER LIDO COM PRIORIDADE ABSOLUTA”. Peguei o volume e comecei a folhear as primeiras páginas. Quando o pus de lado, depois de ter lido até a última linha, vi que já amanhecera há muito, e eu ainda nem havia trocado de roupa! Um choque, foi realmente um choque! Finalmente, ali estava o livro esperado, desejado, o livro de um grego sobre a Grécia que não era um romance de tese nem guia folclórico, mas uma obra verdadeira, original, universal! Sim aquela obra que eu tinha nas mãos era o romance intitulado To trito stephani, “A terceira grinalda” – de casamento, de um desconhecido chamado Kostas Taxtsis. Era um romance que relatava a história de duas mulheres de meios muito diferentes, mas cuja vida, relações, encontros, obsessões, amores, ódios, diálogos e monólogos descreviam, com um sentimento de verdade atordoante, a vida de duas famílias gregas, em Atenas e em Salônica, antes, durante e logo depois da guerra. E isso num texto tão magistral e ao mesmo tempo tão fluido, que não se consegue largar o livro. Sim, uma obra prima.” Jaques Lacarrière, em Grécia um olhar amoroso pág. 524, Ediouro, Rio de Janeiro, 2003.

Amei este livro, ainda que não tenha conseguido ler inteiro ainda, (estou na metade)mas deu pra sentir que ele é fantástico, mostra mulheres em estado bruto com seus sentimentos a flor da pele, falando dos seus casamentos, filhos, traições e da vida que levam. Melhor do que as coisas psicológicas ou feministas que rodam por aí.