quarta-feira, novembro 19, 2008

Belas lembranças

A Graça de Cípris

Doce é a neve para o viajante que tem sede, no verão; Doce é a brisa da primavera para os marinheiros cansados do inverno; mais doce ainda, porém é a graça que Cípris concede a dois namorados que se mantiveram separados por longos dias.

Melita

Tens os olhos de Hera, Melita; tuas mãos são as mãos de Atena; seus seios são delicados como os de Afrodite; teus pés são mais alvos que os pés de Tétis.
Fita-me – e é uma alegria sem par!
Falas-me – e é uma felicidade!
Beijas-me – e eu me sinto um semideus!
Desposas-me – e torno-me Deus

A Oferenda a Cípris

Vê Boidion, a Tocadora de flauta, vê Pítia, ó rainha Cípris.
Outrora foram amadas: agora oferecem os seus cintos e colares.
Ó negociantes, ó marinheiros, vossas bolsas não ignoram de onde vieram os cintos,
de onde vieram os colares

Os olhos culpados

Olhos meus, intrépidos bebedores de beleza pura, será que sempre vos embriagareis com o néctar cruel de Eros?
Fujamos, fujamos para longe, para um recanto sereno, onde farei sóbrias libações em honra a Cípris tranqüilizadora. Se Eros ainda vier te aguilhoar-me, umidece-vos de lágrimas gélidas, olhos meus, sofrei para sempre esta pena. Terá sido justa: pois vós que me fizestes conhecer as criaturas encantadoras que, sem cessar, me lançam em fogueiras furiosas.

As Flores

Já se entreabriu a branca violeta, e o narciso hibernal, e o lírio amigo das montanhas. Já floresceu Zenóbia, que os amantes adoram, flor encantadora entre todas as flores, rosa delicada de todas as rosas.
Ela passa. Ó Campinas, vão o brilho de vossas folhagens, vosso sorriso se desfaz. A criança é mais bela que as coroas de frescos perfumes .


(Sexta estarei bem longe da rede, por isto esta semana os
epigramas amorosos da Grécia antiga que nos remetem aos encantos de Afrodite, foram publicados hoje.)

Bona Dea


O começo de dezembro se aproxima e é o momento de preparar a festa de Bona Déia. A principio não poderíamos simplesmente traduzir este epíteto de Fauna, por Boa Deusa, afinal “bona” é o feminino de bônus e até a época de Cícero, bônus ou bona nada tinha com bom ou boa, mas sim com “Valente”, “Aguerrido” ou “bravo” já que este escreveu: “multae et bonae et firmae... legiones” ou seja “Não apenas valentes, mas também poderosas as legiões. Portanto Bona ou bônus, só se tornaram bom e boa no período do Império e por associação, não pela etimologia da palavra”.
Assim, se o culto da Bona Dea é anterior a própria fundação de Roma, já que ela é a mãe de Latino, pai de Lavinia que casou com Enéas, portanto devemos esquecer o Boa Deusa e chamá-la de Deusa Valente, Brava ou Aguerrida, o que, por sua lenda faz muito mais sentido.
Existem duas variantes do Mito, em uma ela é a Esposa de Fauno, que tendo um dia se embebedado de vinho e ele ao chegar em casa espancou-a até a morte com varas de Mirto. Na segunda Fauna é filha do Fauno e era muito virtuosa. Um dia seu pai chegou embriagado em casa e decidiu estupra-la, ela defendeu-se como pode até ser surrada pela vara de Mirto até que encharcada de sangue conseguiu fugir.
É nesta segunda variante que se sustenta as festas a Bona Dea, as matronas romanas “sempre” virtuosas e castas se reuniam desde o inicio da republica, na casa do Pontifix Maximus ou na de um dos dois cônsules e na presença das Vestais, a dona da casa chamava as mais importantes damas da republica, para numa atmosfera de pureza e respeito comemoravam a Bona Dea. Nestas festas, exclusiva para mulheres só eram proibidas duas coisas, o Mirto e falar a palavra vinho. Não obstante as Matronas se embriagavam de vinho, porém durante a festa o vinho era chamado de copo de leite e as ânforas que o guardavam de potes de mel. Quem as ouvia de fora só ouvia elas pedindo que passassem o pote de mel ou lhe servissem um copo de leite.
Outra particularidade desta festa era que como nas saturnalias ocorria uma inversão de papeis, as criadas vestiam as roupas da patroas e eram servidas por elas.
Com o crescimento da republica Bona Dea ganhou um templo no monte Aventino, cercado por um bosque sagrado, onde ocorriam as festas em honra a deusa, para as mulheres plebéias.

Esta tão decantada pureza destas festas é traída por alguns relatos do final do período republicano:
Contam que no ano de 62 a.C. o depravado Públio Clódio Pulcro, disfarçado de mulher, penetrou na casa Pontifix Maximus, não para apreciar a festa, mas sim por estar apaixonado por Pompéia a esposa de César, que ocupava na ocasião o cargo de Pontífice. Foi um escândalo sem precedentes, que levou o degenerado ao exílio e obrigou por honra César a divorciar-se de Pompéia.
Se analisarmos os símbolos desta festa veremos que desde o seu inicio eram festas em honra da virtude de Fauna, que poderia ter morrido, defendendo a sua pureza, a proibição ao vinho tinha uma estreita relação com a proibição das Matronas de tomar vinho, numa clara repressão aos cultos de Pater Líber, o Baco romano e a Surra de mirto, planta consagrada a Vênus, que apesar de ser cultuada por ser mãe de Enéas, era vista no principio de Roma como a Vênus Calva, numa lendária atuação das mulheres romanas que em meio a uma guerra pela conquista da Itália, cortaram seus longos cabelos para fornecer cordas para os arcos do exército de Roma, Vênus sempre amedrontou aos Romanos.
A Valente Bona Dea simbolizava as virtudes que as mulheres romanas deviam ter e das quais o vinho dionisíaco e Vênus poderiam afasta-las. Sem duvida, A cidade precisava estimular a fecundidade feminina das Mães e pretendia assegurar-lhes a proteção de divindades castas e caridosas, não deixando que as matronas se enveredassem por cultos sensuais que inspirassem as suas devotas o desejo de utilizar desordenadamente os poderes que deviam celebrar.
Bona Dea por ter defendido a castidade e depois se tornar mãe de Latino, um dos ancestrais de Roma, era o exemplo que os romanos queriam para suas mulheres. Porém em tempos imperiais, onde Vênus Genetriz a protetora de Julio César e de seu filho Otavio Augusto, as festas de Bona Dea perderam toda a sua aura de santidade. No período imperial podemos ler o que escrevia o ferino e satírico Décimo Junio Juvenal, contando e trazendo até nós as depravações que ocorriam nos finais do primeiro século d. C. nos mistérios de Bona Dea no Aventino:
Todos conhecem o que se passa nos mistérios da Bona Dea, Quando a flauta excita os quadris e sob o efeito da trombeta E do vinho, as Mênades de Priapo, fora de si, soltam e sacodem as cabeleiras e vociferam” ( Satirae 6, 314-334)
E Juvenal não para aí:

A excitação, porém não admite delongas; é a fêmea na sua totalidade.
Um grito Ecoa e se propaga pelo bosque todo: Agora é permitido, deixemos entrar os homens! Se o amante está dormindo, deve despertar e tomar seu manto e vir imediatamente; se não existe amante agarra um escravo; Se não existem mais escravos, virá ajustado o preço algum servo; Se este não é encontrado e faltam homens, não há porque retardar mais, Ela se deixa possuir por um jumento. (Satirae 6, 327-334)
E triste com o que descreveu Juvenal termina:
Oxalá os ritos antigos e o culto público se celebrassem isentos, ao menos, de semelhantes infâmias. (Satirae 6, 335-336)

fontes: Dicionário Mítico-Etimológico da Religião Romana – Junito Brandão O amor Em Roma - Pierre Grimal A literatura de Roma – G.D. Leoni

sexta-feira, novembro 14, 2008

Sexta é dia de Afrodite



O Orgulho de Ródope
Ródope se orgulha da sua beleza. Se eu lhe digo a sorrir: – “saúde, Ródope!” – Ela despede sobre mim um olhar distante. Se eu suspendo coroas à sua porta, ela as retira e pisa-as com seus pés arrogantes. Vem, impiedosa Velhice! Marcai o rosto de Rodapé, ó rugas! Assim vencereis a soberba de Ródope!

As canções de Eros

Eu dormia quando Cípris apareceu. O pequeno Eros a acompanhava. Ela me disse?
– Pastor, aqui está Eros; ensina-lhe a cantar. Dito isto desapareceu. E eu tentei obedecer-lhe. Ensinei a Eros minhas canções de pastor; transmiti-lhe tudo o que Pã inventara outrora, bem como Atena; contei como Hermes fez a lira com um casco de tartaruga; cantei, ainda mais, a gloria de Apolo Citaredo, no entanto, ele não me ouvia. Pôs-se a cantar e me ensinou muito sobre os amores dos homens e dos amores dos deuses, tecendo louvores a sua mãe. Esqueci as canções que procurei ensinar a Eros, mas não esquecerei nunca, as lindas canções que ele me ensinou.

Penélope

Voltas de terras longínquas, viste a Arábia empoeirada e a Índia onde as mulheres dançam nuas . e não tens mais olhares para sua amiga ansiosa que te esperava fiel em casa.
Malditas sejam as viagens! E no entanto, Ulisses, entre os braços de Circe, ainda pensava em Penélope.

Cáriclo

Teus Olhos , ó Cáriclo, estão pesados de desejo; tua cabeleira, em desordem; e tuas rosadas faces, mal iluminadas por extrema palidez. Pareces fatigado.
Se os olhos da noite te puseram em semelhante estado, quão feliz é quem te possuiu entre os braços! Se ao contrario, o teo ardor não foi satisfeito, se o ardente Eros não te atendeu de modo completo, vem pra mim! Sou capaz de acalmar tua inquietude Amorosa.

Eros e o Caçador
Um jovem caçador viu Eros em Uma Arvore, em descanço. Julgou então que o deus alado fosse um grande pássaro e quis prende-lo. Eros porém, zombou de todas as astúcias do caçador.
Irritado, o rapaz procurou um velho camponês e mostrou-lhe o pássaro sutil que fugia. O velho sorriu e disse-lhe: – Não persigas este pássaro, meu amigo. Ele é muito mau. Tomara que não o prendas nunca. Enquanto ele fugir de ti, serás feliz. Mas evita que ele um dia venha ao seu encontro espontaneamente e, de súbito, desabe sobre sua cabeça.

O Juramento de Arsínoe
Fizemos a Eros o mesmo juramento: prometi a Arsínoe uma ternura eterna; ela prometeu ser-me fiel. Mas de que valem os juramentos para Arsínoe? Eu lhe consagro ainda um Amor ardente, e ela hipócrita, vive de aventura em aventura.
Os deuses não se interessam em demonstrar seu poder.

Os Beijos de Safo

Langorosos são os beijos de Safo; langorosos são os abraços dos seus braços alvos; langoroso bé seu corpo tentador. Mas sua alma é dura como ferro. Seus lábios desfiam palavras de amor; mas onde aquele a quem se entregou inteiramente? Safo, cruel Safo, quem pudesse viver a teu lado suportaria muito bem o suplicio de Tântalo.

Dionísio: O Senhor da Dança


É inquestionável, os relatos e a grande multiplicidade de fontes confirmam que em varias regiões do mundo grego e posteriormente no mundo romanos, as orgias (por favor, não leiam isto com o sentido atual) Dionisíacas ocorriam com regularidade bienal, como o ciclo do deus. As orgias não eram associadas como hoje à diversão, mas sim como participar de um rito religioso, ou ter uma experiência religiosa ou ainda a comunhão com o Deus. Os festivais das Tíades, também chamadas de Bacantes ou Mênades, segundo Diodoro, ocorriam em várias partes da Grécia a cada dois anos. E era permitido que mulheres solteiras empunhassem o Tirso e compartilhar o êxtase com as mais velhas, o que retira o cunho sexual do evento. Estes festivais aconteciam em Tebas, Opus, Melos, Pérgamo, Priene e Rodes, além de atestadas por relatos de Pausânidas em Aléia na Arcádia, por Aeliano em Mitilene, e por Firmicus Maternus em Creta.

Com tal recorrência de relatos fica difícil acreditar que não passavam de lendas, como muitos afirmaram. Diodoro as descrevia como uma dança feminina que ocorria no alto das montanhas durante o inverno, o que é confirmado por Plutarco, que relata ocorrências no monte Parnaso em Delfos, alem de outros lugares “a sacerdotisa de Dionísio em Mileto ainda conduzia as mulheres à montanha em tempos helenísticos tardios”.

Leia o texto completo em: http://www.tribosdegaia.org/gwydyondrake/drake27.html


quarta-feira, novembro 12, 2008

As Artes de Atena


É muito estranho perceber que, nestes tempos de neopaganismo, a Deusa mais importante da antiguidade é relegada ao segundo plano, quando na religião grega ela fazia parte da trindade mais adorada tanto pelos gregos, (Zeus, Atena e Apolo) quanto pelos Romanos (Júpiter, Juno e Minerva, a Tríade Capitolina).

A primeira vista seria muito simples explicar esta ausência, já que parece que a inteligência abandonou de vez o nosso planeta. É claro que para quem busca o superficial, o que encontram sobre Atena é também superficial. E como poucos se dão ao trabalho de buscar profundidade e o que vemos na superfície é que Atena é a Deusa da estratégia militar e dos trabalhos artesanais para os gregos e a Deusa da sabedoria e engenhosidade para os romanos, coisas bem simples, convenhamos.

Leia o texto completo em http://www.tribosdegaia.org/textos/mitologia17.html

sexta-feira, novembro 07, 2008

Epigramas, não tão amorosos.

É claro que numa coletânea de epigramas não veremos apenas a felicidade do amor, vemos também o amor que dói, que mata ou faz sofrer, vamos ver algumas dores de corno gregas, e por serem gregas também são trágicas.

Zeus Enamorado

Não houve namorado mais lamentável que Zeus, para amar Danae se transformou em Ouro, para Sêmele, touro, com Leda cisne: Nunca foi amado por si mesmo. E como foi triste sua sorte na noite que para agradar Acmena, se viu obrigado a mais dolorosa transformação, transformou-se no seu esposo querido.

Ródope

Ródope me repeliu! Quero rasgar este vestido, enfeitado com uma faixa púrpura. Meus cabelos cairão em desordem. Não cuidarei mais das mãos, e minhas unhas se tornarão garras.
Com estas garras ferirei os olhos. Eles já não vêem Ródope: Cessem, portanto, de ver a luz da Aurora.

A Velha

Ah, o ciúme e a inveja não nos permitem sequer uma simples conversa á toa; nem a linguagem furtiva dos olhares. Uma velha maldosa ali está, a espionar-no incessantemente. É mais feroz que o vaqueiro de olhos inumeráveis que montava guarda Io filha de Ínaco. Fica-te aí, velha, a espiar-nos; é em vão sua que te fadigas; teu olhar não penetrará jamais no fundo do nosso ser.

Sobre a Morte

Se os mortais pudessem comprar a peso de ouro Alguns instantes de vida, eu conseguiria grandes riquezas, e quando a morte passasse por mim, poderia dar-lhe dinheiro e gritar-lhe: - Vai-te embora. Mas não podemos comprar a vida. De que serviria o ouro? Todos temos que morrer. Porque perder tempo com esforços inúteis? Prefiro beber com meus amigos. Tragam-me um vinho perfumado! E tu, jovem amiga, vem pra mim, para que possamos honrar a divina Afrodite.

O Corvo Branco

Procura outra presa, Mesnéstion. Não sou caça que te convém. Prefiro as maçãs bem maduras. O fruto que desejo colher amadurou no mesmo verão que eu.
Tu me seduzires! Creio que te seria mais fácil ver um corvo branco.

Corina

Não cairei nunca em forma de chuva de ouro. Outro se transforme em touro ou em cisne de voz melodiosa. Deixemos tais brinquedos para Zeus. Dou a Corina os seus dois óbolos, e assim posso conservar minha agradável aparência.

Sim

Sim, pela cabeleira amorosa de Rodante; sim pela carne perfumada de Mírtis; sim pelos braços tentadores de Ílias; sim pela voz encantadora de Teano; Sim pelo olhar luminoso de Filina – asseguro-te, Eros que escapa de meus lábios um leve sopro, que vai se perder. Se o perceberes, não compreenderás a minha queixa.

Não

Não pela cabeleira de Timo; não, pelo gracioso pé de Heliodora; não, pelo olhar de Anticléia, ternamente risonho; não, pela fronte florida de Dorotéia – não, tua aljava, Eros, já não esconde nenhuma flecha: todas voaram contra mim, e todas me feriram.