quarta-feira, julho 27, 2011

Hecáte


 Um grito foi tudo que ficou no ar. Um grito que a menina que colhia jacintos, deixou no ar como um aviso a sua mãe de que ela já não caminhava na luz, alguns disseram que este grito foi de terror e medo ao ver-se arrebatada pelo auriga de uma escura quadriga de corcéis negros, outros que o grito foi de horror por se ver refletida nas negras pupilas cercadas pelas Íris amarelas de seu captor, e ao ver-se assombrou-se por perceber que ela a partir daquele momento este seria o seu nome, Core, a menina dos olhos do senhor dos subterrâneos.

A loura Deméter, ao ouvir o grito o reconheceu como vindo de sua filha, mas não conseguiu perceber de que direção vinha, o que aumentou seu desespero, rasgou suas roupas e as lançou aos ventos e por onde Boreas, Zéfiro, Euro e Notos, por onde carregavam os restos da roupas da poderosa deusa, levavam a dor de uma mãe ferida, a dor de Gaia e Rea, que antes viam seus filhos aprisionados ou comidos pelo pai, a dor que revertia o cio da terra, que fazia a vegetação e as espigas morrerem e a crosta da terra endurecer-se, para que não mais as sementes a penetrem e arrebentem. A dor da mãe transformou a terra em deserto de onde a vegetação fenecia e secava. Deméter desesperada correu o mundo perguntando por sua filha e ninguém sabia onde ela poderia estar. A deusa dos dourados cabelos de trigo, vestiu se de luto azul, cobriu a cabeça e decidiu que toda a flora morreria, por sua ferida, pela sua filha desaparecida. Vestiu se de azul, caminhou nove dias e nove noites, indagou aos pássaros, aos animais e aos elementos, e nenhuma pista de sua menina. Ao Olimpo, apenas o choro nos mortais chegava, nenhuma fumaça de sacrifício, nem o cheiro da gordura, e tampouco os cânticos ou louvores, apenas as lamentações e a raiva dos humanos por tão repentino castigo, a morte da terra e de toda a criação.

Até então ninguém sabia o motivo de tanta dor, pois a boca da loura dona das espigas e do pão se fechara, e dela nem mais nenhum gemido se ouvira. De seus olhos nenhuma lagrima rolara, nem tristeza, nem revolta, apenas a determinação de que nenhum imortal recebesse nada, nenhuma oferta dos humanos, enquanto a alegria não voltasse aos seus olhos, enquanto Perséfone não voltasse a luz.

Os olímpicos se desesperavam, pois nem mesmo Zeus tinha o poder de destruir assim todas as graças de Gaia, se olhavam assustados. Que poder antigo havia sido desperto para que a Gaia ressecasse seu ventre como se ainda estivesse envolta por Urano,e  nenhum de seus filhos pudessem ter vindo a luz, e a terra morria como se dela nunca nada tivesse brotado.

Apenas uma filha dos titãs, que do submundo havia visto os ínferos se abrirem, e Hades, o invisível, sair e voltar rapidamente com sua presa e a terra novamente fechar-se silenciando o grito, e deixando penetrar a vida na terra dos mortos. Isto iniciaria uma nova era e um novo regime ao mundo, mas se ela não agisse logo o Orco receberia todos os habitantes da superfície, e nenhum reino ainda existiria na superfície da terra, e Gaia seria apenas, a cobertura do imenso reino de Dite. Hécate correu a Hélios o titã que tudo via, e pediu que ele mostrasse onde Démeter estaria com sua dor. Porem antes foi saber de Perséfone se ela sofria ou estava feliz com seu cativeiro.

Correu para a superfície e buscou Iaco, filho de Dionisio com Aura, conhecido como aquele que traz a felicidade, pois sendo salvo da mãe que pisoteava seu irmão gêmeo, por Ártemis, que engendrara o plano de Dionisio, estuprar Aura. uma de suas ninfas que a ofendera, se dizendo mais desejável que a senhora das feras e infalível flecheira. Quando esta guardou Iaco sob suas vestes, o recém nascido, ávido pela vida, grudou sua boca nos seus seios de virgem de Ártemis até que deles jorrasse o leite que o alimentou. Levado por ela a Atena, pois Aura, corria possessa pela floresta, atingindo e matando todos os animais com sua lança ou flechas. Novamente a fome de Iaco, falou mais alto, e também tirou leite dos seios pequenos e fortes da deusa da sabedoria. Assim amamentado pelo leite de duas virgens que julgavam isto impossível acontecer, darem a vida e o alimento para este pequeno deus, que por esta alegria dada a elas se tornou conhecido por trazer a felicidade.

Carregando Iaco pelas mãos tomou a forma de Baubó, um feiticeira, uma das muitas que assumia quando na superfície e correndo para a pedra onde Deméter estava imobilizada após os nove dias de busca, Hécate contou para ela o destino de sua filha, que estava feliz pelo seu novo reino e com a possibilidade de existir um novo regime, pela vida ter entrado no reino dos mortos, fazendo que a partir de então os humanos renascessem da morte, assumindo novos corpos, e buscando o conhecimento em cada vida ao invés de apodrecerem, e se dissolverem, no Hades. Apenas uma coisa agoniava Perséfone, a saudade de sua mãe Deméter, que a fazia sofrer e chorar.

A deusa dos cereais não moveu um músculo de rua face fechada, numa mascara de dor, como se fosse de pedra, moveu apenas os olhos quando soube que sua filha sofria de saudade, assim ela não daria este novo regime de morte para os humanos, eles que morressem todos de fome na terra e que seus corpos e almas se dissolvessem nas profundezas do tártaro.  

Para ela, a única coisa que queria era sua filha voltasse à luz ainda que para isto, todos os humanos morressem, e que os deuses sem culto se revoltassem contra aquele que roubou sua filha e contra aquele que permitiu que isto acontecesse, pois ainda que estes fossem crônidas como ela, apenas Deméter podia invocar o poder de Rea a mãe de todos ou de Gaia a mãe de toda criação e por nada abdicaria de seus direito de deusa e mãe, nada a tiraria dali, ainda que aquela filha dos titãs, falasse horas da regeneração das almas, que com Perséfone o reino invisível seria apenas um lugar de passagem, para a psique dos humanos, nada, mas nada mesmo a tiraria daquela pedra até que o solo se abrisse e sua filha fosse devolvida.

Porem as artimanhas da rainha das feiticeiras, não estava apenas no seu poder, de transformar a natureza e a vontade dos deuses e dos humanos, pois quando mais a dupla mãe, a De Meter, fechava sua mente para os feitiços , quando mais se endurecia como pedra, para que ela não a atingisse mais estaria exposta para a armadilha que esta havia lhe preparado, pois como filha das antigas gerações sabia que só uma coisa reverteria a situação do mundo, apenas um gesto poderia mudar tudo.

Hécate era a dona dos caminhos, dominava as encruzilhadas, sabia de todos os caminhos que os humanos precisariam passar para chegar ao seu destino, sem a dupla via da natureza humana, sendo carne e sendo espirito, nunca estes cumpririam os desígnios de Gaia. A velha bruxa sabia, que novos alimentos deveriam chegar aos humanos, a caça seria escassa, a agricultura teria que se desenvolver, os humanos deviam aprender com a reencarnação que o trigo poderia ser novamente enterrado, e que nasceria novamente, que suas sementes amassadas se tornariam o pão alimento do corpo, que Dionisio, daria aos homens o alimento do espirito, o vinho e o transe, que libertaria a mente  que desenvolveria  intrincados raciocínios. Todo o progresso humano dependeria do ato que ela faria agora, o inesperado que quebraria a resistência de Deméter, e que a cada ano Perséfone, descesse ao submundo, e que neste período, a terra morresse com ela, para que assim descansasse e se preparasse para o próximo ciclo, e que com a volta de Perséfone a vida brotaria do solo empurrada por ela, Hécate e o equilíbrio entre a superfície e a o subterrâneo ocorresse, como já havia acontecido com o céu e a terra, e entre a terra e o mar. Para que tudo isto ocorresse, Hécate/Baubó precisava criar algo totalmente novo, algo que quebrasse a resistência e que restabelecesse a ordem e foi o que fez.
Levantando a Roupa exibiu sua genitália, pintada como se fosse um rosto e os grandes lábios a Boca, que cantava musicas obscenas.



Iaco que estava mudo de terror pelo senho fechado de sua bisavó Deméter, surpreendido gargalhou, surpreendida com o riso infantil, A grande deusa, deixou escapar um sorriso, que observada por Iaco que agora ria dela Deméter, as gargalhadas, não resistiu e também gargalhou.
Ao som desta gargalhada a terra voltou a sorrir e floresceu e a partir daquele momento, o mundo mudou, e os mortos puderam voltar à vida.

segunda-feira, julho 25, 2011

A Adega


(Creio que este foi o meu primeiro conto. Escrito há muito, e burilado com o tempo.)
 
O Senhor Hunterman tinha uma casa, grande e espaçosa, ele se preocupava em organizar sua vida para o futuro. Pensava muito na sua velhice. Organizou uma biblioteca, com tudo o que já tinha lido, e comprava livros que ele gostaria de ler mais tarde, quando chegasse a idade. Em sua discoteca, com um grande volume de discos, juntava músicas que foram temas de todas as partes da sua vida. Assim como, organizou durante anos uma filmoteca, escolhendo todos os filmes que gostaria um dia de rever.

O Sr. Hunterman esperava um dia, poder sentar-se no escritório, para na velhice escrever seus livros, onde contasse sua vida e todas as coisas que lhe aconteceram, sua vida havia sido bastante rica, por isto ele capturava cada fragmento de vida ou emoção, cenas de filmes, trechos de musica, poesias e romances.

Ele levava a sério, cada prato que comia e lhe chamava a atenção em restaurantes ou viagens, ele buscava recriar em sua cozinha, buscando temperos exóticos e raras especiarias e ingredientes originais. Muitas vezes a sua casa inteira recendia, aromas maravilhosos que vinham da sua cozinha.

Para completar ele tinha a adega, onde ele guardava os vinhos que havia tomado na vida, densos, encorpados, frutados, suaves. Cada sabor, cada travo relembrava, não o ano da sua safra, mas sim o momento e a companhia com quem foram divididos. Há quem diga, que o Senhor Hunterman, afirmava poder lembrar dos beijos, a partir do sabor dos vinhos e dos pratos que havia comido com uma de suas amadas.

Porém, o que praticamente ninguém sabia é que ele, guardava mais na sua adega que qualquer um podia imaginar, lá no fundo, num canto escuro da adega, existia uma pequena porta sempre trancada com 3 cadeados, poucos a viam, e os que olhavam para ela, acreditavam que fosse um pequeno quarto de despejo, um depósito de coisas inúteis e antigas. Apenas uma mulher, uma de suas últimas namoradas, com uma imaginação acima da média, acreditou que ali era o esconderijo do barba azul, onde ele guardava, as cabeças mumificadas de suas antigas amantes, presas pelos cabelos em ganchos na parede, o seus corpos enterrados em covas rasas logo abaixo do piso.
Tanto esta mulher fez e ameaçou, desde ir embora e nunca mais voltar, como de chamar a polícia, pois sentira pelo vão da porta o cheiro de carne putrefata, que ele finalmente abriu a porta.

Assustada e ressabiada por suas próprias fantasias e já imaginando sua cabeça pendurada por seus longos cabelos loiros, ela entrou, pé ante pé. Para sua surpresa encontrou outra adega, mais limpa, menos empoeirada, melhor organizada, com prateleiras circulares, e uma poltrona e um pequeno aparador ao lado dela. De estranho mesmo apenas as garrafas, com um líquido transparente como água e estranhos rótulos escritos a mão , nomes de mulheres e datas em uma caligrafia caprichada. Todas as garrafas organizadas por ordem alfabética em cada família, colocada  por ordem de datas. E na parte inferior do rótulo, estava escrita alguma referência aos momentos. Cada uma das garrafas estava bem arrolhada e depois coberta de parafina e por fim lacrada, como se o liquido que estava guardado pudesse escapar se volatilizando pelo ar como éter. Satisfeita a sua curiosidade a mulher loira, não se preocupou muito com mais uma das esquisitices do Senhor Hunterman, tanto, que nem percebeu que havia já algumas garrafas marcadas com seu nome, Odete, escrita com caligrafia caprichada.

Odete ficou tão frustrada em suas fantasias, que não percebeu que no chão desta segunda adega, bem no centro,  próximo a poltrona com o aparador havia um alçapão. Mas todo mistério tinha se quebrado, que havia de oculto ou de interessante em uma adega dentro de outra? Incrível, mas sem a aura da barba azul, ou do feiticeiro poderoso e misterioso, o Sr. Hunterman era uma pessoa comum. Findo os mistérios, ele era apenas, um homem interessante, e que fazia sexo gostoso. Mas isto existiam vários e possivelmente muitos com mais dinheiro que ele. Assim, logo após a descoberta, começaram os desentendimentos, e pouco mais de um mês depois estavam separados. Porém, por mais que o tempo passasse crescia nela uma impressão que havia perdido o homem da sua vida, não sabia dizer por que, mas sentia como se parte de si, das suas lembranças ou da sua vida tivesse ficado com o Sr Hunterman. Para ele a vida continuou normal, depois da loira veio, a morena, a mulata clara, a ruiva, outra morena, a cada uma, ele buscava o seu par, acreditava que tinha encontrado a mulher da sua vida. Ele amou todas as mulheres que haviam passado por sua vida e de cada uma delas guardou momentos, sentimentos e um pouco da alma delas, nada que fizesse falta, apenas aquela parte que realmente amara ele. Pois, por mais que acreditasse que havia encontrado o amor que duraria por uma vida, sabia que seu destino, na velhice seria a solidão.

Por muitas vezes acreditou nas mulheres, acreditou que o amor nunca se acabaria, acreditou que houvesse o que houvesse, elas  honrariam seus juramentos e seus pactos. Para estas ele tinha o maior numero de garrafas na sua segunda adega, guardava todos os momentos felizes cada gozo, cada alegria, sorrisos cheios de promessas, palavras sussurradas ou gritadas dos momentos de amor. Praticamente toda noite ele descia para o porão da adega dentro da adega e com seus encantos e poderes insuspeitáveis, ele destilava junto com a água, todos estes momentos, os eternizando para que quando chegassem os dias de solidão.

Assim ele encararia numa boa ficar sozinho, teria, seus discos, seus livros, filmes e  lembranças felizes que ele podia beber tanto tranqüilamente, revivendo os momentos felizes ou com sofreguidão, quando o peito dói forte. Muitas vezes entre uma paixão ou outra, nos períodos de entre-safras de amores, era na sua adega que ele se refugiava. Passava por todo um ritual, cozinhava enquanto escutava musicas da época, comia acompanhado de um vinho que haviam tomado juntos, depois descia as escadas vagarosamente, carregando a garrafa do vinho. Abria a porta com cuidado, como se algumas daquelas emoções pudessem escapar e se perder pela casa, fugindo do controle e o assombrasse durante as noites frias. Entrava fecha a porta e naquele silencio subterrâneo dos túmulos, bebia pelo gargalo, os últimos goles do vinho do jantar, enquanto escolhia o momento que queria reviver. Cuidadoso, relia os rótulos, garrafa por garrafa daquela safra, escolhia o momento que necessitava, aquele que supriria a sua carência de paixão, corpo e sentidos; às vezes só pequenas caricias lhe bastavam, noutras queria tudo, com chamas e o calor que tudo consumia. Por isto a escolha criteriosa, para não, gastar nenhum destes momentos gloriosos, ou buscar um momento que não satisfaça plenamente o desejo, e se faça necessário abrir mais uma garrafa naquele dia.

Escolhida a garrafa, sentava na poltrona, rompia o lacre, retirava com cuidado a parafina, e delicadamente penetrava a rolha com a espiral de aço, e sacava a rolha. Deixava a garrafa aberta para que o pouco de alma que existia na garrafa tomasse o ambiente. Bebia as ultimas gotas da garrafa de vinho, enquanto as lembranças se espalhavam. Respirando o passado, ele colocava um pouco do conteúdo no copo, cheirava sentia o buquê entrava no tempo das lembranças, e só então bebia o primeiro gole. Ao contato do liquido com a boca, o que era lembranças e imaginação tomava corpo, e as sensações se tornavam físicas, todos os sentidos eram despertos, as palavras e vozes retornavam no timbres exatos e penetravam vivas pelos ouvidos, indo diretamente para o cérebro, trazendo para o presente, aquilo que já se tornara passado. Com as vozes vinham os aromas, os odores da respiração, o perfume, o cheiro dos cabelos, do corpo. Vinham também os sabores da saliva, do suor e em seguida das sensações táteis. E finalmente a visão. As lembranças tomavam corpo, e se transformam em realidade, como se o tempo voltasse a trás ou como se nunca houvesse passado. Naquele momento, depois do primeiro gole, o tempo deixava de existir, toda a eternidade era apenas aquele momento que se repetia, repetia até que o Sr. Hunterman perdesse os sentidos e acordasse na manhã seguinte como se tudo tivesse ocorrido noite anterior. Quando abria os olhos, percebia que tudo fora efeito da garrafa da noite anterior, aí ele recolhia o copo, as garrafas, fechava cuidadosamente a três fechaduras da porta, e subia lentamente as escadas, preocupado se seu estoque era suficiente ou se precisava de mais almas e lembranças...

segunda-feira, julho 18, 2011

Helena




Desde o seu nascimento, pairam duvidas sobre Helena, com certeza ela é filha de Zeus, mas persistem duvidas se é filha de Leda ou de Némesis. Contam às lendas que ela seria filha de Leda depois do coito com Zeus transformado em cisne, porem, outras tradição conta que Zeus desejou Némesis, que fugiu de Zeus percorrendo o mundo todo mudando de forma, afinal a Vingança tem a capacidade de se metamorfosear em qualquer coisa para atingir seu objetivo. Mas contra o rei dos deuses não foi possível, pois a cada metamorfose, Zeus a acompanhava e depois de fugir por todo o mundo, Némesis transformou-se em gansa Zeus transformou-se em Cisne e mais rápido que ela a possuiu em pleno vôo.

Indiferente de seja sua mão Helena, é filha de Zeus transformado em cisne, qual seria a razão disto, já que Zeus é geralmente identificado com o Carneiro, ou Touro ou a Serpente.
Dando uma pesquisada rápida via o Dicionário de Símbolos do Chevalier, pode ser que encontremos o porque do Cisne. Na Grécia antiga, e por toda a Europa o Cisne era a Ave imaculada, cuja a brancura o poder e a graça fazem dele uma epifania da luz, encarnando tanto a Luz Solar e masculina, como a lunar e feminina tornando o animal como um andrógino síntese de toda a luz. Mas como existem também o Sol negro, e cavalos Negros da Noite também existe o cisne negro, que continua sagrado mas carregado de um simbolismo oculto e invertido.

Outras vezes é vista como a virgem celeste a ser fecundada pela água ou pela terra, não mais a luz celeste que fecunda, mas como a luz fecundada, deixando de ser a luz celeste masculina e se tornando feminina como na hierogamia egípcia, quando o céu é fecundado pela terra.
Bachelard conclui um seu trabalho de analise de um verso de Goethe: " a imagem do cisne é hermafrodita. O cisne é feminino na contemplação das águas luminosas; masculino na ação. Para o inconsciente, a ação é um ato. Para o inconsciente, não há senão um ato". A Imagem do cisne para Bachelard se sintetiza como o Desejo, para que se fundam as duas polaridades do mundo. O canto do cisne, em consequência, pode ser interpretado como as eloqüentes juras do amante... com este termo tão fatal à exaltação que é, verdadeiramente, uma morte .amorosa. O cisne morre cantando e canta morrendo. Torna-se na realidade o símbolo do primeiro desejo que é o desejo sexual.

Imaginando, não era apenas desejo, mas era o realizador de todos os seus desejos, pois engoliu toda a criação e todos os deuses para devolvê-los em seguida, se tornando assim o pai de todos os deuses. Procuramos então qual o objetivo de Zeus ao querer uma filha humana?
De todas as aventuras de Zeus a partir de Metís (A Prudência ou no sentido pejorativo a Perfídia) antes do casamento com Hera, de onde acreditando que geraria um filho que o suplantaria, engoliu Metís, e gerou sozinho na sua mente a filha Athena. Ele gerou apenas filhos homens entre os mortais, os semideuses ou heróis, que ajudaram a criar as cidades e a eliminar monstros e tiranos que ainda haviam ficado na terra.

Por que então Zeus se transforma em Cisne, no mais primitivo dos desejos e se faz feminino para gerar Helena ?

Por que Helena era tão especial, a ponto de ter duas mães, uma a vingança dos deuses (Némesis) e outra uma rainha humana (Leda) por que existia a necessidade de Helena ser a mulher mais linda do mundo, ainda precisava nascer sendo filha do desejo? 

Creio que é neste momento que devemos imaginar o quanto Helena não comandaria o seu destino, o quanto ela nunca satisfaria os seus desejos, ela seria por vontade de Zeus uma pela de um jogo nas mãos dele, e quando por vezes ela se livrava das mãos de Zeus era utilizada por outros jogadores, é provável que em nenhuma vez Helena realizasse um de seus desejos.
A filha da luz fertilizada, a filha do desejo, nunca veria os seus realizados. A beleza e a sensualidade nascida da Necessidade (Ananké), nunca teriam o prazer de ser bonita para si mesma, ou apenas para seu amado. Esta cria do duplo feminino, nunca seria uma mulher, seria sempre a mais linda mulher do mundo, a Afrodite caminhando entre os mortais. O destino cruel de Helena é ser um objeto em eterna disputa, tanto que quando um dia aquele príncipe vindo da Ásia, chegou vestido de ouro no palácio de Menelau, ela sentiu se pela primeira vez apaixonada. Ele não a jogou nos dados como fizeram Teseu e Peritoo, nem a disputaram fazendo que a Grécia inteira temesse a destruição numa guerra entre todos os seus pretendentes. Aquele moço, que apesar de tanta realeza a encantou com seu sorriso simples dos homens do povo, e o seu olhar de desejo real, mas contido por sua timidez e respeito à Menelau, encantou Helena, pela primeira vez em sua vida, depois de dois filhos tidos na casa real da Lacedemonia, ela se sentiu mulher, e não apenas um objeto cuja posse era disputada ou mantida.

Ela não sabia que aquele inocente príncipe da Longínqua Tróia estava ali em função de que ela havia sido fruto de uma disputa entre 3 deusas, e mesmo sem saber acabou sendo um prêmio, mas pelo menos aquela vez Afrodite foi honesta, Páris não teria um objeto, teria o amor da mulher mais linda do mundo, que o amaria até fim de sua vida.

Hécuba, nas Troianas, faz questão de acusar Helena de não ter amado Páris, mas sim ter se impressionado com aquele Divo, pois era conhecido como Divo Alexandre, o seu verdadeiro nome, o seu nome de pastor. Hécuba chorando a morte de 50 filhos ataca Helena a chama de Meretriz. Priamo, em seus últimos momentos a perdoa," para mim, - Você não é a causa, só os deuses são a causa" - a culpa foi da profecia, Páris seu filho incendiaria Tróia, e combater a profecia, fez com que ela ocorresse. Expor Páris fora o seu erro, se tivesse sido criado como um príncipe e não como um pastor, não teria sido o escolhido para julgar a qual deusa entregaria o pomo. 

Mas Tróia ainda arde, enquanto Helena é acusada. Menelau, que quer matá-la por sua traição, vê seus seios semi expostos para sua espada se ajoelha e a perdoa.
Ela não pediu, esperava como sempre a vontade dos deuses, esperava o seu destino de princesa de Tróia, como a paciente Andrômaca, que vê seu pequeno filho Astíanax, o Herdeiro de Heitor ser arrancado de seus braços para deitar-se no frio leito dos seios das Queres, gritando ainda a Imponência da mulher do maior herói de Tróia:

" Pois seja assim! Arrebatai-me esta Criança,
Levai-a já de mim, lançai-a das Alturas
Se vos apraz! Fartai-vos desta carne tenra!
Os deuses Decretaram nossa perdição
E não posso impedir a morte do meu filho!..."
(Eurípides As troianas).

Espera Helena a mesma sorte, ou até mesmo uma mais cruel, de morrer pelo fio da espada, mas Aphrodite (Afrodite) ou a Aphrosyne ( insanidade, a loucura) Que tem o mesmo radical no nome e por vezes se confundem, a leva de volta para Esparta.

Onde mais uma vez o destino e os deuses a levam para onde querem, tanto para ser morta em Taurica, num sacrifício por Ifigênia, ou para ser morta por Tetis no mar por seu filho Aquiles, como a forca, morrendo entre o Céu e a terra, meio deusa, meio humana pendurada numa Arvore em Rodes, traída por sua amiga Polixo, ou atormentada pelas Erínias. Mas dizem que até hoje, as mulheres em Rodes apontam, para alguma arvores a beira de um penhasco, e dizem aquela é a arvore de Helena, num desprezo típico de quem por pura inveja da beleza, diz que o fim justo da beleza é a morte.

Zeus fez a necessidade (Ananké) e a Vingança (Némesis) gerarem a Beleza, e esta se transformou em morte, Na planície de Ilion, Aos Brados da suada e nua Ênio ( O grito de Guerra).

A necessidade se fez bela, para dar corpos para Queres, e povoar o Hades de heróis, Helena nunca foi nada, era apenas um objeto que era manipulado pelos Deuses e Homens.

terça-feira, julho 05, 2011

Vida, Amor, Rinocerontes e os Porcos-espinhos


P.Vocês sabem como os porcos espinhos fazem amor?
R. Com muito cuidado...

Tudo bem, a piada é velha, mas ilustra muito bem como é nossa vida e nos dias de hoje e o cuidado que devemos ter para construir um amor de verdade.
Atualmente, vivemos preocupados com uma série de coisas que são muito importantes para nós e estas nos estressam demais, nos tornando insensíveis para os nossos próprios sentimentos.

Corremos o diatodo, para garantir um salário, temos medo de perder o emprego, e olha que tem gente na empresa querendo nos passar a perna, ficamos horas no transito com medo de assaltos com os motoqueiros (super agressivos) disparando a milímetros de nossos retrovisores, e se por acaso um deles se enroscar e cair, logo terão 20 motoboys, nos cercando e ameaçando. Tudo isto vão minando nossa paciência, tirando nosso bom humor e como defesa temos tanto a visão de Ibsen, nos os rinocerontes, que o ser humano moderno, vai criando cascas grossas, para se tornar insensíveis aos fatores externos. Protegido por sua couraça de placas, o ser humano vai se isolando e ficando impassível ao toque de outro ser humano e indiferente ao pensamento, ao sentimento alheiro e centrado no eu.
Outras pessoas menos radicais acabam ficando como os porcos-espinhos, criando afiadas pontas em torno de si próprias, evitando a aproximação de alguém e por mais que tentem, se aproximar e relacionar-se, estão sempre machucados ou machucando aquele a quem queria amar.

Como então amar os rinocerontes, que quase cegos, investem em velocidade para qualquer sombra que vêem, atropelando tudo que está no caminho, ou como namorar um porco espinho e eles são como um punhado de longas agulhas sempre prontas e espetar e ferir.
Como na piada do inicio desta postagem, com muito cuidado. Não que antes não precisávamos cuidar e alimentar diariamente o amor, isto sempre foi necessário, já pregava Ovídio, em seu “Arte de Amar”ainda no período de Augusto. Mais recentemente, o Gabriel Garcia Marques, quando perguntado se o Amor no Tempo da Aids era mais perigoso que o “Amor nos tempos do Cólera”? e ele simplesmente respondeu – Amar sempre foi perigoso.

Assim, devemos baixar a voz quando falarmos com a pessoa amada, pois duas pessoas estressadas, podem brigar por coisas banais se não tomarem cuidado. Pode parecer trabalhoso, mas é bom sempre escolher cuidadosamente as palavras, afinal um casal são duas pessoas diferentes, com educação e criação diferentes, e uma palavra boba pra um, pode ser terrivelmente agressiva para o outro. Algo normal pode ser um tsunami incontrolável, visto por um outro. Seja econômico com as palavras, já que estas quando, como nos conta Homero, quando escapam pelo redil dos dentes, jamais voltam ao aprisco, e ninguém para uma flecha atirada ou a palavra dita. O Vinicius de Moraes era bom nisso, escutem e gravem o que ele disse: - Pra não morrer de amor. É preciso um cuidado permanente Não só com o corpo mas também com a mente, Pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - E esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia;  Doce e conciliador sem covardia;  Saber ganhar dinheiro com poesia.

Portanto, não fujam do amor na primeira derrota, e perder uma batalha não é perder a guerra, e melhor que a guerra é viver em paz. Amem, amar é a melhor parte da vida, mas cuidem da pessoa amada, como a uma flor rara, regue o suficiente, sem afogar, mas sim com um pouco a cada dia, converse fale baixo e cuidado com as palavras e com o tempo isto será automático para vocês, e quando chegar a este ponto, vocês consolidaram o amor para o restante da vida, e aí é só continuar amando, mas sempre vão precisar de cuidados.