quarta-feira, dezembro 28, 2011

A solidão.



Sempre temi a solidão e todos que me conhecem um pouco, sabem. Podem não saber a razão, podem não entender o que eu tanto temia, mas sempre souberam que a solidão sempre me deu pavor. Não se trata apenas ficar sozinho, pois por muitas vezes exercitava a solidão viajando, ou ficando trancado no quarto por dias.

O que me apavorava era a solidão compulsória, aquela que você não escolheu e em uma situação da qual você não pode se livrar... Vários fatores me levaram a isto e mesmo odiando estar só, preferi fechar todas as portas e janelas do labirinto e me sentar em meu trono no escuro centro do labirinto, rever minha vida inteira, reconhecer meus erros e não poder voltar no tempo. Portanto, tinha que apreender seguir em frente.

Outra das coisas apavorantes da solidão é não ter ninguém por perto para esconder a minha loucura, sim escondemos nossas loucuras particulares sob mascaras sociais e na solidão esta necessidade se esvai e corremos o risco de enlouquecer irremediavelmente.

Este período em que passei quase que 100% sozinho, causaram uma série de mudanças inclusive fisiológicas, passei a comer quando tinha fome e a dormir quando tinha sono, isto me levou a passar dias comendo apenas uma vez por dia, ter picos de sono de 3 horas ficando muito tempo sem dormir causando alguns estados alterados de consciência e despertando algumas áreas da mente que eu desconhecia, voltaram algumas coisas e maneiras que eu tinha esquecido completamente serem minhas. A intuição foi ampliada passei a perceber coisas que não percebia e meus instintos e sentidos ficaram mais aguçados como se um animal adormecido despertasse depois de longo sono. Fiquei mais sensorial e menos intelectual. Com isto a escrita foi bloqueada e para manter uma aparência de normalidade para os que me conheciam, passei a simplesmente compartilhar mensagens nas redes sociais, ao invés de escrevê-las como sempre fazia. Eventualmente durante a sonolência causada pela falta de sono surgiam algumas idéias e pensamentos que eu anotava de qualquer jeito, e depois eu as editava e publicava, mas isto era raro.

Em muitos dias as únicas palavras que eu dizia era: “Não, obrigado”, quando me perguntavam no mercado se queria o CPF na nota fiscal ou “ dois lucky’s vermelhos” para o dono do bar da esquina. Enquanto caminhava ou andava de bicicleta, coisa que faço todos os dias, geralmente não pensava em nada, preferindo curtir o calor do sol na pele, o vento levando os meus cabelos ou o frio da noite eriçando meus pelos.

Em casa, no meu labirinto por muitas vezes urrei de dor, por muitas vezes me senti esquecido pelo mundo, porque ao invés de seguir a corrente como todos fazem, nadei contra ela em busca dos meus princípios, fui à busca da minha fonte, minha nascente, busquei nos deuses meus arquétipos e os mitos, que nunca me abandonaram, e aprendi com eles. Percebi que cada momento da minha vida que me empurrou a este ponto, um mito me explicava o acontecido. Meus amigos, ou aqueles que eu julgava amigos, não entendiam a minha obsessão pela dor, em me estraçalhar em mil partes para poder depois me reconstruir, para eles era mais fácil mentir que nada havia ocorrido e viver o presente, mas o presente é uma falácia para justificar os próprios erros, enganar a si próprio. È no passado que devemos buscar o futuro, já que o presente é apenas um átimo de tempo, que em segundos já se torna passado.
Estou voltando de uma viagem prevista na apresentação deste blog escrita há oito anos, profeticamente escrita antes de tudo acontecer “Percorrendo os meandros viscerais até o âmago do ser humano, o inferno da mente. E dali retornar um novo ser, sem mais nenhum medo, vencendo as trevas da ignorância".
Volto triste, com uma tristeza absurda por finalmente ver as coisas como elas realmente são, sem véus sem nada que atrapalhe a visão, volto sem esperança e precisando de novos sonhos, mas volto inteiro e renovado.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Infandum Regina iubes renovarem dolorem.



Ordena-me Rainha que renove dores indizíveis.  Assim respondeu Enéas para a Rainha Dido, que lhe pede que conte o fim de Tróia. Sabendo que seria doloroso, ainda assim, Enéas se dispõe a contar, pois sabia que apesar de todas as suas perdas e dor, ele Sabia que não poderia esquecer. Enéas não era apenas uma testemunha, ele participara da defesa de Tróia e viveu seu fim, esquecer, seria acreditar que nada valeu à pena, que não aprendeu com o ocorrido, que muros inexpugnáveis, poderiam cai por astúcia e que um traidor valeria mais que os mil navios carregados de gregos. Aprendera muito com a lição que lhe rasgaram a pele.

Não, o que ele passou não podia ser esquecido, por maior dor que lembrar lhe trazia, ele tinha que contar, pois as dores só existem no passado.  E a Gloria de ter estado na defesa de Tróia, lutado ao lado de tantos guerreiros que caíram ao golpe do destino, não podia ser esquecida.
Ele precisava lembrar, pois mais que a dor o dilacerasse, Tróia nunca poderia ser esquecida e apagada da memória do mundo. Na Cidade de Ilion ele havia feito seu nome como guerreiro, lá criara sua Aretê, sua fama e sua honra. Não importava mais sua dor, pois esta já fora chorada demais e o que contaria era a glória de ter sobrevivido, mesmo estando do lado da morte por tantas vezes. Enéas respirou fundo secou a furtiva lagrima que ameaçava correr por seu rosto e finalmente falou a rainha de Cartago:

Se é de seu gosto, ouvir a nossa tragédia e saber sobre o fim de Tróia, esquecerei toda a dor e a repulsa das lembranças, esquecerei todo o horror que vivi, e farei a sua vontade, contarei tudo o que queria esquecer, pela glória dos que morreram.

É isto que acontece com todos os contadores de história, precisam esquecer suas dores, costurarem seus peitos dilacerados e relembrar com certo distanciamento, tudo o que viveu. Pois só seremos honestos com nossa história, se sufocamos a dor e a raiva e a escrevemos como simples narradores, não esquecendo nenhum detalhe, não mais com dor, nem usando nosso sangue como tinta.

Durante boa parte deste ano, pouco escrevi de novidade aqui nas paredes do Labirinto, reciclei textos antigos e inéditos, pois foi para mim um ano difícil e dolorido, não quis de forma alguma dividir minhas dores, já que eram intimas e faziam parte do meu destino. Agora passadas as lagrimas e com as dores aliviadas, volto a falar sobre do muito que passou pela minha cabeça e de algumas coisas que realmente aconteceram... 

Mas, tenham certeza nunca direi o que é real e o que foi só pensamento, pois quem escuta uma história se importa apenas com a história, a verdade nunca foi enredo.