segunda-feira, outubro 08, 2012

VISTA DA LUA: UMA NOVA IMAGEM DO HOMEM Archibald MacLeish





            A CONCEPÇÃO que o homem tem de si próprio e de seus semelhantes sempre dependeu da ideia que ele fazia da Terra. Quando a Terra era o Mundo – o tudo todo que existia – e as estrelas eram luzes do céu de Dante, e o chão debaixo dos pés dos homens constituía o teto do Inferno, os homens viam-se como criaturas situadas no centro do universo, constituindo a única e especial preocupação de Deus – e, desse alto lugar, governavam, conquistavam e matavam como lhes apetecia.

E quando, séculos após, a Terra já não era mais o Mundo, mas um pequeno e úmido planeta a girar no sistema solar de uma estrela de pequena magnitude, ao largo da margem de uma galáxia insignificante nas distancias incomensuráveis do espaço – quando o céu de Dante desaparecera e já não mais havia Inferno (pelo menos já não havia Inferno debaixo dos pés), os homens começaram a ver-se, não como atores dirigidos por Deus no centro de um nobre drama, mas como vitimas indefesas, sendo que milhões deles poderiam ser mortos em amplas guerras mundiais, em cidades bombardeadas, ou em campos de concentração, sem um pensamento ou uma razão, salvo a razão – se a chamarmos assim – da força.
Agora, nas ultimas poucas horas, tal ideia talvez possa ter de novo mudado. Pela primeira vez em todo o tempo, homens viram a Terra: viram-na não como continentes ou oceanos vistos da pequena distancia de 100, 200 ou 300 quilômetros, mas das profundezas do espaço; viram-na inteira, redonda, bela e pequena como nem mesmo Dante – aquela “primeira imaginação da Cristandade”  – jamais sonhou vê-la; como os filósofos do absurdo e do desespero do século XX foram incapazes de supor que ela pudesse ser vista. E, vendo-a assim, uma pergunta assomou as mentes daqueles que a fitaram. “Será ela habitada? - perguntaram  entre eles a rir – mas, depois, não riram. que lhes assomou à mente a mais de 160 mil quilômetros no espaço – “metade do caminho ate a Lua” , como disseram –, o que lhes assomou a mente era a vida naquele pequeno, solitário, flutuante planeta: aquela minúscula balsa na noite enorme, vazia. “Será ela habitada ?” 
            
A ideia medieval da Terra colocou o homem no centro de tudo. A ideia nuclear da Terra não o pôs em parte alguma – colocando-o alem até mesmo do alcance da razão – perdido no absurdo e na guerra. Esta ultima ideia talvez possa ter outras consequências. Formada como o foi na mente de viajantes heroicos que eram também homens, ela talvez refaça a nossa imagem da humanidade. Não mais sendo aquela grotesca figura colocada ao centro, não mais sendo aquela vitima degradada e degradante posta ao largo das margens da realidade e cega de sangue, talvez o homem, finalmente, se torne ele próprio.
           
Ver a Terra como ela realmente e, pequena, azul e bela no silencio eterno em que flutua, e ver a nos próprios como passageiros unidos e comuns da Terra, irmãos naquele brilho encantador em meio do frio eterno – irmãos que sabem, agora, que são verdadeiramente irmãos.


sábado, outubro 06, 2012

Em Busca do Tempo Perdido



Às vezes, como nasceu Eva de uma costela de Adão, nascia uma mulher, durante meu sono, de uma falsa posição de minha coxa. Oriunda do prazer que eu estava a ponto de experimentar, imaginava que era ela que mo oferecia. Meu corpo, que sentia no dela meu próprio calor, procurava juntar‑se‑lhe, e eu despertava. 0 resto dos humanos se me afigurava como coisa muito remota em comparação com aquela mulher que eu havia deixado momentos antes; minha face estava ainda quente de seu beijo e meus mem­bros doloridos pelo peso de seu corpo, Se, como às vezes acontecia, apresentava os traços de alguma mulher a quem conhecera na vi­da, ia dedicar‑me inteiramente a este fim: encontrá‑la, tal como os que empreendem uma viagem para ver com os próprios olhos uma desejada cidade e imaginam que se pode gozar, em uma coisa real, o encanto da coisa sonhada. Pouco a pouco sua lembrança se dissi­pava, e eu esquecia a filha de meu sonho.

(Marcel Proust – No caminho de Swann)

Dialogo 7: DE HEFESTOS E APOLO*

(Do livro Dialogo dos Deuses de Luciano de Samósata)











HEFESTOS
Apolo, tu já viste o filho de Maia**, nascido há pouco? Como é belo, sorri para todos e já revela que há-de sair dali algo magnifico!

APOLO
Hefestos, um recém-nascido ou uma coisa magnífica, ele que é mais experiente do que Jápeto***, em artifícios?!

HEFESTOS
 (Admirado) Mas que mal é que um recém-nascido poderia ter feito?

APOLO
Pergunta a Poseídon, de quem ele roubou o tridente, ou a Ares, a quem ele tirou, às escondidas, a espada da bainha,
isto para já não falar de mim, que ele desarmou do arco e das Flechas

HEFESTOS
(Espantado) Esse recém-nascido, que mal se aguenta em 
pé nos seus cueiros, fez isso?!

APOLO
Já vais saber, Hefestos, basta ele aproximar-se de ti.

HEFESTOS
Mas ele já se aproximou.

APOLO
E então? Tens todas as tuas ferramentas e nenhuma delas e venceu-o imediatamente

HEFESTOS
 (Depois de conferir rapidamente) Todas, Apolo

APOLO
Ora vê bem.

HEFESTOS
(Verificando novamente e ficando aflito, de repente) Por Zeus, não estou a ver as tenazes!

APOLO
Mas hás-de vê-las nos cueiros do miúdo.

HEFESTO
 (Ainda incrédulo) Mas ele é assim tão ágil, como se ti­vesse exercitado a arte do roubo no ventre da mãe?

APOLO
De certeza que ainda não o viste a falar com desenvoltura e agilidade! E de resto, ele está preparado para acompanhar-nos. Ontem desafiou Eros e venceu-o imediatamente
na palestra, ainda não sei como. Depois, enquanto recebiaos elogios de Afrodite29, que o abraçava pela vitória, roubou-lhe o cinto e também o cetro de Zeus, enquanto ele se ria! E se o raio não fosse tão pesado, nem tivesse tanto fogo, provavelmente tê-lo-ia igualmente roubado.
HEFESTOS
Por essas coisas que dizes, é uma criança terrível.

APOLO
E não fica por aí — também é músico.

HEFESTOS
O que é que te faz pensar isso?

APOLO
Encontrou algures uma tartaruga morta e a partir dela construiu um instrumento musical. Adaptou e colocou braços, em seguida fixou as cravelhas e dispô-las por baixo do cavalete, esticou sete cordas e tocou tão graciosa e harmoniosamente, Hefestos, que até a mim, que toco cítara há tanto tempo, me causou inveja.
 E Maia dizia que à noite ele não fica no Céu, mas completamente tomado pela curiosidade, desce do Hades, certamente para roubar algo dali. Além disso é alado e inventou um bastão com um poder assombroso, com o qual guia as almas para os Infernos e faz descer os mortos.

HEFESTOS
Eu é que lho dei, para brincar

APOLO
Pois ele deu-te a recompensa, as tenazes...

HEFESTOS
Fazes mesmo bem em lembrar! Ora então, vou buscá-las ! Pode ser que estejam, como dizes, nos cueiros dele.


*A divindade de quem se fala neste diálogo é Hermes, filho de Zeus e de Maia e senhor do comércio e do roubo. São muitos e variados os episódios em que Hermes revela os seus atributos, desde a infância.
**Hermes
** Titã, Filho de Urano e Gaia, o Céu e a Terra
Por vezes a natureza rejeita sua própria criação, de tantas coisas que a natureza engendra, algumas não vingam. Infelizmente algumas destas malformadas criações insistem em nascer, como no caso do Arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, que excomungou a mãe, os médicos e outros envolvidos no aborto sofrido por uma menina de 9 anos, prenhe de gêmeos, após ser abusada sexualmente pelo padrasto.

A menina de 9 anos corria risco de vida, e qualquer idiota deve saber que uma criança não tem maturidade para ser mãe. Porém o Arcebispo é tão idiota que prefere seguir uma norma imbecil da igreja de manter a proibição do aborto mesmo em caso de estupro.

O padrasto da menina, um animal que deveria, assim como o arcebispo, ter sido abortado antes de nascer, saí ileso da condenação da igreja católica, e possivelmente por estupidez das leis brasileiras, sairá também livre da justiça dos homens, já que é primário.

Sou totalmente contra estes abortos da natureza humana, pessoas como este padrasto, deveriam ser castrados, para evitar que cometa outros atos de pedofilia, pois é claro que mais dia menos dia ele vai reincidir no crime.

A igreja católica já gasta milhões na defesa de seus padres pedófilos, agora vemos que a igreja defende também os pedófilos profanos. Será que tudo isto é uma interpretação errada das palavras do carpinteiro:

Vinde a mim as criancinhas.


terça-feira, setembro 25, 2012

Mulheres




É estranho, ando com uma terrível e avassaladora vontade de escrever, porém quando sento em frente ao teclado, só escrevo coisas que não quero escrever agora. Não quero falar de mim, de como estou e me sinto. Creio que não é o momento de falar, muita coisa tem acontecido numa seqüência de dissabores nos últimos dois anos terão que agüentar, pois só serão escritas e publicadas depois que toda a poeira deste vendaval assentar.

Falar do presente não é nada gratificante, afinal o espaço que chamamos de presente é tão liliputiano, que a cada ponto final se transforma em passado. O presente acontece aqui e agora, assim pode mudar a qualquer momento e por isto perde completamente o sentido.

Porém, neste meio tempo, milhões de idéias estão rolando na minha cabeça e estou lendo e relendo muito e me apaixonando por alguns autores que eu não conhecia, como o Amós Oz,  é fascinante ver ele transformando assuntos indigestos em uma literatura palatável e mágica que nos envolve completamente, fazendo inclusive que até nos esqueçamos o quanto “aquilo” não nos agradava.

Segue um texto do Livro “De Amor e Trevas”  com um pequeno comentário meu ao final.

“E aos noventa e três anos, uns três anos após a morte de meu pai, vovô deci­diu que era chegada a hora, pois eu já tinha idade bastante para que ele conver­sasse comigo de homem para homem. Convidou‑me ao seu gabinete, fechou as janelas, trancou a porta com chave, sentou‑se formalmente à sua escrivaninha ordenou­-me me sentasse à sua frente, não me chamou de pirralho, Cruzou as pernas, apoiou o queixo no punho fechado, pensou um pouco e disse:



"Chegou a hora de conversarmos um pouco sobre as mulheres."

E logo esclareceu:

Bem sobre as mulheres, em geral."

(Eu já tinha trinta e seis anos de idade, estava casado havia quinze e era pai de duas filhas adolescentes.)

Meu avô deu um profundo suspiro, uma tossidinha discretamente protegida pela palma da mão, endireitou a gravata, pigarreou duas vezes e disse afinal:

"Bem, a mulher sempre me interessou. Isto é, sempre. Você que não me venha de jeito nenhum entender coisas feias! 0 que eu estou dizendo é algo completamente diferente. Bem, só estou dizendo que a mulher sempre me interessou Não, não a 'questão feminina'! Nada disso, a mulher como pessoa”.

Sorriu e consertou a frase:

"Bem, sempre me interessou em diversos aspectos. Durante toda a vida sempre observei as mulheres. Sempre, mesmo quando era apenas um pequeno tchildak, um molequinho. E daí que, não, não, de jeito nenhum, nunca olhei para uma mulher como um pashkudníak, um cafajeste, nada disso, sempre olhei com todo o respeito. Olhando e aprendendo. Bem, e o que aprendi, é isso que quero ensinar a você agora. Então, preste toda a atenção, é assim:"

Interrompeu‑se e olhou bem para um lado e depois para o outro, como se quisesse se certificar de que realmente estávamos a sós. Sem nenhum ouvido estranho. Só nós dois. Deu uma tossidinha.

"A mulher", disse ele, "bem, em alguns aspectos ela é igualzinha a nós. Como nós, igualzinha. Mas em alguns outros aspectos", continuou, "a mulher é completamente diferente. Nada, nada parecida conosco”.

Aqui ele fez uma pausa e de novo pensou um pouco, talvez evocando lembranças, imagens, a face se iluminou com o seu sorriso infantil, e finalizou assim sua tese:

"Mas é aí que está: em quais aspectos a mulher é exatamente igual a nós e em quais ela é muito diferente de nós? Bem, sobre essa questão", encerrou o assunto e se levantou, "sobre essa questão eu prossigo trabalhando."

Tinha noventa e três anos de idade, e é provável que tenha continuado o seu “trabalho” sobre esta questão até o ultimo dia. Eu também ainda trabalho nessa questão.”

E eu aqui, esperando viver até os 100 anos... solto um UFA!!!!  Tenho muito tempo ainda pra trabalhar esta questão!

sexta-feira, junho 08, 2012

Operação Resgate.





Vendo os comentários novos e vendo que mais gente se perdeu no labirinto, comentei com uma amiga esta coisa de gente que cai de pára-quedas, começa a ler as paredes escritas e ao invés de se perder acaba se achando, lendo coisas que ela mesma podia ter escrito... Ou que quase escreveu, escreveu algo parecido ou não escreveu porque pareceria que estava ficando louca, imagine se alguém lesse?

Falando sobre isto, esta amiga com quem eu conversava me disse: “é porque você fala de seus sentimentos, fala de dentro, de coração e sem medo de que algum idiota te ache ridículo.” E continuou “Hoje, poucos mostram seus verdadeiros sentimentos. É tanto medo de sentir realmente alguma coisa verdadeira que as pessoas estão deixando de sentir.”

Não sei se concordei com ela, afinal eu escrevo assim, pois esta é a única maneira que sei escrever e isto vem desde a publicidade, nunca falei mentiras sobre os produtos que eu vendia, se o produto não tivesse um Plus, eu acabava achando e se não achasse de maneira alguma buscava somente despertar o apetite, a vontade, o desejo através de coisas subjetivas, mas preferia sempre a verdade pura e simples sobre o produto. É meu jeito, eu sou isto!

Embora concorde muito com esta amiga sobre as pessoas terem medo de viver, ou pelo menos viver a própria vida. Porque acredito que as pessoas queriam tanto sua individualidade, que fazem o impossível para parecer diferente de que realmente são, criam outra imagem, vivem uma vida que só existe para eles próprios.

Eu pelo meu lado tenho uma vida própria, minha e só minha onde alegria e tristezas se mesclam como um mosaico onde centenas de pequenos pedaços coloridos antes dispersos se juntam numa figura mágica que é uma vida plena. A plenitude está em viver todos os sentimentos, esgotar cada emoção e não fugir das emoções e sentimentos.

As vezes nem escrevo ou publico, para não expor uma dor indizível, uma tristeza profunda que possam causar pena ou uma alegria intensa que pode causar inveja e que para quem não me conhece pareça fingimento ou mentira, já que as pessoas fogem dos sentimentos com medo do estes possam causar e buscam uma mesmice, uma vida fria e sem emoções, preenchida de sentimentos e alegrias fabricadas, é o que vivem estes que só se gostam, quando estão fora de si.

Eu ao contrário, gosto de expurgar todos os sentimentos, de esgotá-los, de viver tudo com intensidade e integridade. Não escondo ou oculto o que sinto, e creio que todos são da mesma maneira, mas como temem a dor e buscam se esconder aquilo que tem de mais valioso que é a humanidade, e fogem do que acreditam ser ruim ou mau, sem compreender que a vida é feita de bem e mal e luz e sombras, sem isto não vivemos. Vamos passar pela vida sem entendê-la e muitas vezes acreditando que ela é injusta.

Passei por isto nestes tempos, o que sem duvida, me deprimiu um bocado, até que percebi, que não havia nenhuma injustiça e quem estava sendo injusto era eu, cobrando dos deuses algo que eles já estavam me dando. Percebi que minha vida estava andando e que eu estava mudando. Percebi então que estava imitando aqueles que eu tanto critico, os que olham apenas para o próprio umbigo, sem perceber o que está em nossa volta. Os deuses ensinam, e os deuses nos levam, mas quando não os percebemos, não os ouvimos, eles com certeza vão nos arrastar para que cumpramos o nosso destino.

segunda-feira, maio 14, 2012

As muitas faces de Vênus





Mesmo depois da revolução sexual em meados da década de 60 do século passado, a civilização ocidental se manteve preconceituosa e com uma série de equívocos em relação ao sexo e ao amor.

Recentemente o Papa Bento XVI, na encíclica Deus Caritas Est (em português: Deus é Amor), dividiu o amor em três partes utilizando os termos Eros, Ágape e Philia. 

Eros é o amor sexual, do mito de Eros e Psique, onde o amor físico e a alma não se encontram, não se vêem, e quando a Psique (a Alma), por curiosidade quer ver o rosto do amado, acaba por feri-lo e Eros (o Amor) foge. 

Ágape (refeição festiva) representa o amor maior, o amor do Cristo pelos homens, pois ele, através Transubstanciação, oferece na eucaristia seu sangue e corpo como a refeição da alma, como se apenas o amor a Deus alimentasse a alma. 

Philia é o amor entre iguais, mas como a igreja condena o homossexualismo, ele se refere ao amor pela humanidade, o amor de amigo. Um louvor à amizade. Vemos assim o amor do deus cristão aos homens e destes a ele como o amor superior, a amizade como o amor ideal entre homens e mulheres e o amor carnal (aquele que foge da alma por mais que esta o busque).

A civilização ocidental não é muito diferente ao falar em amor e sexo, como se pode observar em três visões da literatura. Há, por exemplo, os contos de amor cortês nos quais o sexo era praticamente eliminado, como em Lancelot e Guinevere, que se amam, mas não realizam o amor e, quando o fazem, a culpa que recai sobre eles e os leva a uma vida religiosa e de recolhimento. Ou o conto de D. Juan, o sedutor que arruína a vida de donzelas, pois seu impulso é sexual e, após a satisfação de seus desejos, abandona as donzelas desonradas e é condenado ao fogo do inferno cristão. Ainda na literatura, temos histórias de amores plenos, mas estes sempre terminam em tragédia, como em Romeu e Julieta, onde dois jovens se entregam de corpo e alma ao amor e, pela incompreensão dos humanos ao amor, se matam, “vem liquido amargo, vem guia cruel, e eu como um barqueiro desesperado lanço meu barco ao encontro das rochas” diz Romeu ao tomar o veneno.

Quando penso em amor, o mito que mais me recordo é o de Tristão e Isolda, que se entregam mutuamente e nada consegue destruir o amor de ambos, que fez com que os amantes perdessem os bens, propriedades e honra mas nunca um ao outro. Enfrentaram as mais cruéis necessidades e adversidades, mas sempre se buscavam, misturando o amor de alma com o físico, vivendo todas as faces do Amor e, mesmo que durante os séculos cristãos onde todos os antigos mitos e lendas foram deturpados, este mito termina com um final trágico, afinal amar sem pudor e com uma total entrega só pode mesmo resultar em tragédia. Os escribas não resistiram e fizeram dos seus túmulos nascerem uma videira e uma roseira, que se enroscavam e se emaranhavam sendo impossível separá-las, mostrando que nem a morte consegue separar aos que amam de verdade.

Sempre me pergunto como conseguiríamos quebrar este dualismo que divide o amor em amor bom e amor mau e que separa o sexo do sentimento e o corpo da alma ? Como amar com todo o sentimento sem fundir a carne na luxúria, sem entrar em êxtase e comungar com a amada o momento exato da criação do universo? Ou, por outro lado, como é possível fazer sexo sem sentimentos, ainda que com técnicas apuradas e pirotecnia, sem a partilha de sentimentos?

O que quero aqui é mostrar que o amor, como a deusa que o rege, tem muitas faces e, se queremos viver o amor, precisamos saber que devemos viver cada uma das faces de Cipris, a divindade que nasceu da ultima ejaculação do fértil Urano, o terceiro Deus dos deuses da mitologia grega.

Portanto peço às musas que me inspirem, pois falar de Vênus, a deusa que se mostra em plenitude nas noites insones dos amantes, é muito difícil, pois seu maior mistério é justamente não ter mistérios. Vênus se mostra por inteiro a nós todas as noites do ocaso até o amanhecer, percorrendo o corpo de seu pai, o céu noturno, e mora na simplicidade dos beijos, na suavidade das carícias e também no furor e urgência do sexo dos que se amam.
Por ser muito difícil falar dela, vou falar de palavras que derivam de seu nome e que mostram a diversidade do amor pleno.

Veneratio

O amor só acontece quando existe a entrega, pois sem esta, ou sem confiança e verdade, há apenas um simulacro do amor, que enquanto cópia reivindica sua autonomia e deixa de depender do original, se liberta deste e se transforma num substituto, e gera as distorções que vemos neste mundo pós-moderno em que vivemos. Portanto é necessária a entrega, e esta estava para os romanos na palavra “Veneratio” (Veneração em português) que muitos traduzem apenas como adoração ou devoção estremada, e usada pelos católicos nos cultos marianos. Porém para os romanos o “Veneratio” era muito mais, era uma entrega total a uma divindade, o abandono do seu destino a ela, é a isenção do orgulho e de toda presunção frente à divindade. O ser humano, no Veneratio, agrada aos deuses para que fiquem encantados, seduzidos e fascinados por quem se dirige a eles, e lhes dedicam atenção.

Um exemplo de Veneratio é o do cônsul romano Públio Décio Mure que, em uma batalha quase perdida contra os latinos na Campânia, invoca aos deuses e se entrega em sacrifício a eles, investindo sozinho contra todo o exército inimigo, pedindo aos deuses que infundissem terror e pânico nestes, e desse a vitória aos romanos. Tito Livio nos conta esta passagem no História de Roma - livro VIII; 9;13: “Assim, o terror e o pânico penetraram com ele nas primeiras fileiras do exercito latino e logo depois se propagaram a todo exercito. Ficou provado que por onde quer que passasse seu cavalo, os inimigos se aterrorizavam como se atingidos por um astro maldito. No momento que caiu transpassado pelos dardos, as coortes latinas, tomadas de pânico incontrolável, debandaram, deixando o terreno totalmente livre... ... No dia seguinte encontraram-no sob um montão de cadáveres inimigos, crivado de dardos.”

Veneratio, apesar do exemplo aparentemente negativo acima, é dizer sim aos deuses, é estar pronto para seguir o seu destino, e seguir o destino significa deixar de lado conceitos morais e sociais. É um abandono aos ressentimentos, pois afinal todo nosso passado já estava decidido pelas moiras. É se esquecer dos preconceitos e de idéias pré-concebidas sobre os outros, afinal, estes também só cumprem os seus destinos. Finalmente, Veneratio é não pensar no passado ou futuro e viver intensamente o presente. A veneração é impossível se não estivermos em paz com o mundo e com nós mesmos, com a época em que vivemos e com o que e aqueles nos rodeiam.

Venerar Vênus é estar disposto a reconhecer toda a gama de manifestações da divindade e aceitá-las. Castidade, orgia, matrimônio e prostituição, monogamia e poligamia, heterossexualidade e homossexualidade não são realidades incompatíveis entre as quais é obrigatório escolher de uma vez por todas, mas situações a serem apreciadas no momento oportuno sem que isto seja considerado pecado ou obrigatório.

Vênus se apresentava à veneração dos romanos sob duas formas (e suas variações) aparentemente incompatíveis: como Venere Verticordia (A Vênus que abranda os corações) e como Venere Erícina (da cidade de Erice). O culto da primeira tinha a função de levar o ânimo das jovens e das mulheres à pudicícia; o culto da segunda, de origem siciliana, mas, elevada à hierarquia de divindade romana e venerada com a edificação de um templo no Capitólio, estava, ao contrário, estritamente ligado ao exercício da prostituição. A atribuição de qualidades tão diferentes à mesma deusa não deriva em absoluto de um comportamento niilista ‑ que não quer comprometer‑se e por isso está ora de um lado ora de outro, favorecendo ambos ‑, e sim de uma profunda intuição que se manifesta na qualidade do culto. Conta Diodoro Sículo que os magistrados romanos, cada vez que iam à Sicília, nunca deixavam de honrar o santuário de Erice com sacrifícios e homenagens, "para comprazer a deusa, esqueciam a gravidade do seu compromisso para divertir‑se alegremente em companhia de mulheres".

Veneratio, enfim, é dizer sim a si mesmo. Não exatamente aos próprios desejos, aos próprios sonhos e aos próprios ideais: todas essas coisas estão muito impregnadas de negação e de ausência, são muito abstratas e inconsistentes para poderem ser tomadas de verdade como elementos ou aspectos de si mesmos. Venerar quer dizer estar em paz consigo mesmo, exercer a vontade retroativamente. É transformar nosso passado numa seqüência de fatos que nos fizeram ser o que somos hoje, sem mágoas ou arrependimentos, mas apenas destino. A veneração é amor fati (Amor ao Destino), aceitar aquilo que foi e aquilo que é, sem se fechar num círculo de eterno retorno do igual, da mesmice, mas sim, viver o presente sem estar condicionado ao seu conteúdo. Portanto, ao contrário de abandonar-se ao destino, a veneração transforma qualquer acontecimento presente em destino, mesmo porque todo o passado já foi marcado por ele.

Venia

Outra face de Vênus está em outra palavra derivada do nome da Deusa, “Vênia”, que hoje vemos como um pedido de licença ou desculpas, mas que para os antigos romanos significa muito mais.

Se o Veneratio é a entrega de sua vida aos Deuses, Destino ou a outra pessoa, a Vênia é a aceitação dos deuses ou do outro, sem licença nem perdão, já que não há o que desculpar ou perdoar. Portanto a Vênia é aceitação do Veneratio, é consentir o amor e corresponder a este amor, também se entregando.

Quando falo em entrega, não imagino aquelas juras ditas nos casamentos religiosos, as promessas de fidelidade e amor até que a morte os separe, mesmo porque não acredito em amor que dure por si só. Já dizia Ovídio em seu Arte de Amar: “a conquista é apenas parte do amor, pode ocorrer até por um lance de sorte, porém manter a conquista é onde se encontra a verdadeira Arte” (e sorte, como veremos abaixo, não é atributo de Vênus). Assim, amar é um exercício diário de conquista, é a aceitação (vênia) do outro por inteiro com defeitos e qualidades (todos somos humanos), é aprender a conviver com as diferenças. Afinal, quando amamos nos sentimos unos ao universo, mas é o amor entre pessoas e as influências da vida e da educação de cada um que formam a personalidade. Portanto o amor acontece pelas diferenças, o que falta em nós e o outro completa, e semelhanças que levam à identificação com o outro.

A Vênia é o sim dos deuses e da pessoa amada ao amor, pois sem esta aceitação vai ocorrer o que vemos acontecendo o tempo todo entre pessoas; apaixonam-se pelo outro e logo após a conquista buscam moldar o outro a sua cartilha, aos seus costumes, mas ninguém consegue mudar realmente ao outro. Mudanças podem ocorrer, mas serão porque o indivíduo percebe que pode mudar isto ou aquilo, pela manutenção do amor e não por obrigação do amor. Mudamos sim, quando existe a entrega e a aceitação de ambos e quando percebemos que erramos em algo e que isto pode ocasionar conflitos.

Venerium

Apesar de deturpado por quase dois milênios, o verdadeiro sentido da palavra Venerium não é sexual. Ele significava, para os romanos, o melhor lance no jogo de dados, um lance de muita sorte, um Royal Street Flash no jogo de dados, e conseguir um numa rodada era possível somente para aquele amado por Vênus. Às vezes alguém conseguia mais de um, o que era muito raro. Porém, se este ganhador se jactasse da sua sorte ou do amor da Deusa, perdia tudo rapidamente. Porque Vênus não tem nada a ver com a sorte e para os deuses gabar-se e exaltar-se é a expressão da insolência, algo que é exatamente o contrario do espírito venusiano.

“Nec semper Veneris spes est profitenda roganti” Nem sempre a expectativa de Vênus é um convite declarado. O charme venusiano está nas palavras de Ovídio “Muitas cobiçam o que foge, e a quem as assedia oferecem desdém”. Ele aconselha moderação, silencio, calma e cortesia para os que querem se desenvolver na arte de amar.

Anquises, pai de Enéas, era amado pela deusa, mas ela o tornou aleijado por ter se vangloriado aos amigos de se deitado com Vênus. Pompeu se dedicou à Vênus Victrix, associada à vitória, inaugurando templos e cultos para sua protetora, porém de nada isto adiantou quando seu inimigo foi César (da gens de Iulo – Julia –, o filho de Enéas, neto de Vênus). Na véspera da batalha decisiva, sonhou que enfeitava o Templo de Vênus e percebeu que o sonho não lhe era favorável, então trocou sua divisa “Vênus Victrix” por “Hercules Invictus” e perdeu a batalha de Farsalo.

César vitorioso, sabia que no charme venusiano, o próprio conceito de sucesso é fruto de encantamento e em sua volta à Roma, ao invés de fazer um templo para a Vênus Vitoriosa, ele o fez pra “Venus Genitrix” - a Vênus Geradora -, a Vênus Mãe, numa demonstração clara de que ele sabia que a vitória é simplesmente uma conseqüência da proteção venusiana.

Os benefícios dados por Vênus de forma alguma dependem de fatores aleatórios como a sorte ou o azar, mas sim de “Charme” (feitiço, encantamento) da Deusa, que dá aos seus protegidos a certeza da vitória não importando o tipo de empreendimento.

A deusa protege aqueles que lhe rendem culto, aqueles que fazem o Veneratio, não apenas se entregando totalmente a ela como também se entregando totalmente ao amor, sem pudor ou medo, pois a beleza é a mãe do amor. Vênus acolhe em seu seio os amantes e jamais os desampara. Alimentando tanto a paixão quanto o restante da vida terrena, aos amados de Vênus jamais faltará teto ou comida. Porém, àqueles que se amedrontam com seus próprios sentimentos, fogem ou desprezam os presentes de Cipris, ela reserva dor e lagrimas.

Ciúmes em demasia ou desconfiança afrontam a deusa, já que a paixão é presente dela. Como num Veneratio, devemos nos entregar por inteiro e não nos preocuparmos com mais nada, pois ela cuidará de tudo. Mas como no jogo de dados devemos lembrar que o Venerium não acontece toda hora, e se esperarmos que ele aconteça sempre cairemos na presunção que os deuses detestam e entregam a Nemèsis, aquela que exalta aqueles a quem vai derrubar.

Venenum

A palavra latina Venenum tem o mesmo sentido da phármakon grega, ou seja, “Droga”, que pode curar ou matar. É a mesma palavra para remédio ou veneno. Isto parece indicar o caráter da Deusa que, como vimos no Venerium, dá e retira suas bênçãos de acordo com seu humor. Mas não é somente esta afinidade com o termo grego que nos leva a uma das principais características do charme venusiano.

Também existia no grego uma muito próxima a phármakon, que fazia uma oposição ao termo “Droga”: Pharmakós, que designava o bode expiatório sacrificado para purificar a cidade dos males que a afligiam. O sacrifício de um cidadão, dentro da antiga lógica de uma parte pelo todo (Pars pro totto) que existe desde a pré-história, era aplicado na Grécia, tanto que suas cidades mantinham malfeitores e degradados para quando alguma praga ou mudanças naturais ameaçava a sobrevivência delas. Um membro da comunidade era sacrificado ou expulso para que os outros se salvassem. Em Roma houve poucos casos de sacrifício ou expulsão de cidadãos, e quando este acontecia, como o caso do cônsul Décio, era uma entrega do próprio cidadão de seu destino aos deuses, pela cidade, pelos seus cidadãos e por sua legião, como discursou em sua evocação o Cônsul.

Portanto o Venenum não tinha uma relação com o sacrifício tão direta quanto o Pharmakós dos gregos, mas em uma frase de Isidoro de Sevilha, encontramos este testemunho: “Veteres vinum Venenum vocabant” - Ao vinho os antigos chamavam de veneno. Esta frase, unida ao estudo das festas romanas da Vinalia, destaca o caráter sagrado do vinho como bebida venusiana e da substituição do sangue dos sacrifícios pelo vinho em seus cultos. Pois nas tradições mais antigas de Dionísio não se faz referências ao vinho; a embriaguez dionisíaca ocorre pela dilaceração da vitima e pelo consumo de sua carne e sangue, numa referencia ao sacrifício de Zagreus, o primeiro Dionísio pelos Titãs. Assim o a Homofagia (comer carne crua), o sacrifício sangrento a Dionísio funcionava como o Phármakon que restaura a ordem social e a paz (como na comunhão cristã). Na religião de Vênus, ao contrário, o Vinum-Venenum é considerado o sangue da terra que toma o lugar do sangue humano, e isto implica na recusa da violência no culto da deusa.

O charme venusiano também esta ligado à aparência. Venenum também quer dizer corante, tintura e cor, que por extensão nos remetem à maquiagem, cosméticos e também à água tinta de mirto, que as matronas e as mulheres castas de Roma usavam para se lavar nas festas da Veneralia (1º de abril) dedicadas a Vênus Verticordia, onde castus que tinha o significado de aquele que segue aos ritos, portanto purificado e limpo. E a todo 1ºde abril as Castae (mulheres castas e puras) eram tanto as matronas romanas, quanto as prostitutas que celebravam os ritos de Vênus.

Um antigo culto romano celebrava a Vênus Libitina, a deusa dos ritos funerários, numa mostra da sabedoria dos antigos, pois este culto não celebrava o lado trágico da morte mas fazia coincidir o aspecto cultural da morte com o nascimento, fazendo com que o encanto de Vênus esteja presente no principio e no fim da vida. E o charme* venusiano presente na vida inteira do ser humano.
Os muitos nomes atribuídos a Vênus, mostram que ela reinou sobre uma ampla gama de atribuições, chegando a espelhar-se com a grande mãe do neolítico em poder e participação da vida dos humanos. Dentro destas centenas de nomes, muitos dos quais ligados as cidades onde seu culto era feito, ou das suas atribuições em cada face, escolhemos 13 que podem representar a maioria destas faces, pois são momentos da vida humana, principalmente das mulheres. Os homens também sentem estas influencias, porém é na mulher que Vênus mais se mostra.
Vamos trabalhar a cada jornada, com um destes epítetos e buscar a compreensão do universo feminino, nesta que nos acompanha do nascimento ao tumulo, e até além dele com a face Persephaesa ou Persefada, a rainha do Submundo. Ou ainda aquela que caminha entre os túmulos a Vênus Epitrimbia.
Urania, a deusa da beleza universal, como nos fala Plotino: “Tais belezas só podem ser vistas por aqueles que vêem com os olhos da alma. E quando as vêem, experimentam um deleite, uma alegria e um assombro bem maiores do que os experimentados diante das belezas precedentes, pois nesse caso contemplam o reino da verdadeira beleza.” Tal como o amor que está acima do corpo, é aquele que a simples lembrança do ente amado, faz que o coração dispare.  É o amor que temos por nosso próprio sangue, como aquele que damos aos nossos filhos e netos, o amor em si, aquele que não queremos nada em troca.
Pandemia, a de todos os povos, a das múltiplas aparições, mais tarde considerada a Deusa dos da beleza e dos amores carnais e terrenos. Mas desde do principio a deusa da beleza terrena, a que faz brotar os jardins, e que quando caminhava sobre a terra a cada passo, brotava uma flor.
Vitrix, A que trás a Vitória, Uma variação da Vênus como a guerreira, como a Armata, Area, Turan, que é o momento que para proteger os seus Vênus veste a armadura e pega o escudo e a lança. Vênus Vitrix nasce da Vênus Ericina, a da Cidade de Erix, na Sicilia, quando durante a primeira guerra púnica, quando o cônsul romano na iminência da derrota, pede a Ela como Mãe dos Romanos, por causa de Enéias, que lhe conceda a vitória. Que é aquele momento que a mulher decide ir à luta, para se defender ou defender a quem ela ama.
Doritis, A Abundante, Com as bênçãos das Carites, Uma variação da Pandemos que também além de todas as Artes das Graças, tem o poder de Cura, pois ela cura os seus amantes. É um momento da mulher onde a sua força e concentração, são capazes curar a alma e o corpo do amado. O a própria capacidade de cura da mãe em relação aos filhos.
E assim seguimos até a Libitina, o Ultimo ato de Amor, que é a preparação do morto amado para sua viajem pelo mundo subterrâneo. Depois disso só a Vênus Perséfada, a Vênus subterrânea que poucos sabem sua funções e que ninguém ousa dizer o nome, mas deve ser aquela que visitamos quando descemos aos ínferos mundos em vida, quando perdemos um amor.

A busca de todas as faces da Deusa, nos levará a uma compreensão maior de Vênus como deusa e impulso da vida, e o que ela influencia em nossas vidas.


*Charme é uma palavra que vem de Carmen, versos rimados e cadenciados que eram também usados em encantamentos.


Bibliografia:
Tito Livio, História de Roma – Ab Urbe Condita Libri
Mario Perniola, Pensando o Ritual
Walter Burkert. Antigos cultos de mistérios
Ovídio, A Arte de Amar
Pierre Grimal, A Vida em Roma na Antiguidade


sábado, maio 12, 2012

Dª. Alaide estou triste. Muito triste mesmo, Mamãe!



Mãe, tem me dado uma agonia, pois desde que eu me lembro, devo não ter passado nenhum dia das mães longe de você. Vivemos os últimos 25 anos, com uma interrupção de dois anos, morando juntos, sinto muito sua falta, do convívio diário das briguinhas das conversas, e principalmente da companhia. Já se passaram 9 meses que você se foi, eu sei mais que ninguém que viver era extremamente doloso para você, depois da perda da Sonia, e que era puro egoísmo lutar pela sua vida como lutei no seu ultimo ano de vida. Que mais eu podia fazer, queria estar com você por perto mais tempo, lutei contra a morte, te arranquei dos braços dela algumas vezes até que um dia que a morte te tirou dos meus braços.

Não sei como vai ser o dia de amanhã pra mim, não tenho para onde ir, meus filhos tem as mães deles para visitar, meus irmãos tem esposas e sogras e eu neste momento não tenho ninguém, e também não quero estar com ninguém. Queria sim, poder te fazer um almoço gostoso, te servir meia taça de vinho e passar o dia contigo. Mas, mais uma eu vez seria egoísta, tinha muita gente te esperando do outro lado do rio.

Vou passar o dia de amanhã lembrando de ti, principalmente das risadas que demos juntos na véspera da sua partida, enquanto eu te enrolava para que você tomasse mais algumas colheres do caldo, já que era a única coisa que você conseguia engolir, mesmos com as lagrimas que agora correm soltas, meus lábios sorriem ao lembrar que te prometi ir comprar sorvete se você tomasse todo o caldo e quando você terminou. Sorriem mais ainda ao lembrar que você com a boca torta pelo AVC, pediu para que eu comprasse sorvete de morango. Nunca vou esquecer, a nossa ultima gargalhada juntos, enquanto eu lhe dava o sorvete e com dificuldade você me contou que sua prima morta há 30 anos, tinha vindo te chamar para passear e eu gritei rapidamente: Não vai não mãe, ela esta morta faz tempo! E caímos os dois na risada.

No dia seguinte você não falou mais nada e no comecinho da tarde, começou um processo de asfixia, e eu no afã de te ajudar te abracei e tentei te colocar sentada para respirar melhor e neste momento sua vida se foi e senti seu corpo vazio e flácido junto do meu. Não pude chorar naquela hora tinha muita coisa para ser feita. Preparei seu corpo para a travessia, fiquei firme para receber a família, tive que ser forte e consolar cada um que chegava, só puderam chorar no velório e em muitas vezes que a saudade apertava.

Amanhã é dia das mães, não sei como é não ter mãe no dia das mães, vou comprar rosas vermelhas para você, imprimir esta carta e a meia noite queimá-la na esperança que você a receba e saiba o quanto eu queria que você estivesse aqui.

Mas mãe, a vida continua. Quando você se foi o Thiago, meu filho estava na Grécia, rezou numa capelinha branca em cima de um morro, e em alguns dias a esposa dele engravidou entre a Grécia e a Sicília. Existe uma grande chance que mais um de seus bisnetos nasça amanhã, é um menino e vai se chamar Otto. A vida é assim, um vai outro vem, e seu sangue e DNA prossegue firme e forte.

Um beijo grande
Te amo, onde você estiver

Não podemos aceitar e nos conformar... É preciso agir!



Impossível descrever a sensação, de voltar para casa, que em nossa cabeça é o refugio seguro, para este mundo inseguro e ao invés da tranquilidade habitual encontramos esta nossa fortaleza e abrigo devastado por vândalos. Como se vivêssemos na antiguidade e voltássemos de uma viagem e encontrássemos nossa aldeia incendiada e nossos bens saqueados e nossos amigos e parentes desaparecidos.

Como todo brasileiro, tenho medo da insegurança das ruas, principalmente por já ter sido assaltado a mão armada. Mas mesmo tendo passado alguns minutos com uma arma apontada para meu rosto, nunca senti tamanha insegurança. Eu tinha tanta confiança na segurança do bairro, que nas estatísticas policiais, é um dos mais seguros de São Paulo, nunca fechei a porta com as fechaduras extras com chaves tetras, simplesmente fechava a porta com a fechadura simples. Sentir que qualquer um poderia ter entrado na minha casa comigo dormindo, foi como acordar de um pesadelo.

Por tudo que senti e pela perda de objetos que tinham além do valor financeiro, um grande valor sentimental e que eram utilizados para trabalhar e me divertir, como o notebook que utilizo no trabalho e câmara fotográfica que é quase um vicio, pois fotografo praticamente todos os dias, das plantas que florescem na minha área de serviço, ao amanhecer e por do sol e as noites enluaradas. Relógios que estavam comigo há mais de vinte anos.

É por isto que corri para a delegacia, fazer o boletim de ocorrência, para que pelo menos este assalto aparecesse nas estatísticas policiais. Infelizmente vivemos tal insegurança que uma invasão de domicilio e furto, não é considerada como grave em comparação com os crimes que ocorrem na cidade. Senti que não teria o empenho da policia em buscar estes assaltantes, afinal não houve mortos nem feridos.

Não consegui ficar em paz sabendo que a impunidade destes criminosos estaria assegurada, até que um dia matassem alguém. Procurei alguns amigos e através deles tive um contato com a produção do programa “Brasil Urgente“ da TV bandeirantes do apresentador José Luiz Datena, que imediatamente se interessou por exibir os vídeos das câmaras de segurança da porta e portaria do edifício, que mostra claramente os assaltantes. A exibição do vídeo na TV, pode fazer com que estes assaltantes sejam identificados e denunciados pela população.

A equipe do Programa, com o repórter Lucio Tabarelli  acabou de sair de casa, colheram os vídeos e dei uma entrevista sobre tudo isto que senti, pois não podemos nos esquecer que esta violência psicológica que passei é tão sofrida que a própria violência física, e talvez os seus resultados faça que cada vez que eu voltar para casa, sinta receio de colocar a chave na fechadura, e a imagem de minha casa devastada permaneça muito tempo em minha mente. Senti-me melhor após a entrevista, pois agora sei que existe uma possibilidade de que estes marginais não fiquem impunes.

Se todos os brasileiros, agirem assim, não aceitando mais a insegurança que hoje faz parte do nosso dia a dia, poderão consertar o Brasil. Existem dezenas de movimentos contra a corrupção e pela moralidade que tenho participado sempre que posso, e que agora vou participar mais ativamente pois apenas com a população indignada com este estado de coisas, poderá mudar a postura política que impunidade e o crime façam parte do nosso cotidiano.

Convido a todos a assistir hoje ao programa “Brasil Urgente”  na TV Bandeirantes não apenas para ouvir minha entrevista como também olhar as imagens e quem sabe reconhecer um dos assaltantes.

·  18:00 Brasil Urgente
Informativo com linguagem coloquial e opinativa com flexibilidade e dinamismo, dando prioridade aos temas do cotidiano de cada cidadão. O foco é a segurança, a saúde, o trabalho, a mobilidade, o comportamento.
·  18:50 Brasil Urgente - SP
Para São Paulo o programa segue até a entrada do Jornal da Band. São mais 30 minutos de noticias sobre a vida na maior cidade do país. 


sexta-feira, maio 11, 2012

Os Deuses só podem estar brincando..



É surrealista ter sua casa invadida e saqueada, e ainda agradecer os deuses por não estar em casa e nem ter chegado durante o assalto.

Infelizmente é esta a realidade que vivemos neste país da corrupção e da impunidade. Qual um acha que pode fazer o que quiser, seguindo o exemplo dos governos, que dão o exemplo que neste país se pode fazer tudo de errado, que todos vão sair impunes como os políticos.

Entrar na sua casa e encontrá-la totalmente revirada, e saber que pessoas que você não conhece, entraram em sua intimidade, mexeram em todas as suas roupas, levaram coisas que você gostava e outras necessárias para o seu trabalho. A vontade que deu foi sair da casa, chamar uma faxineira e só voltar quando todas as roupas estivessem lavadas e passadas e sua casa arrumada como havia deixado antes de sair.

Mas nestas horas precisamos ser fortes, ou perdemos toda a vontade de viver... correr a um chaveiro, instalar novas fechaduras a prova de Chave Micha, ir a delegacia fazer um boletim de ocorrência pois entre as coisas furtadas estava uma carteira de identidade antiga, o que ainda pode me causar dissabores ainda piores que o assalto em si.

Mas enfim, não podemos nos entregar, devemos lutar afinal este é o nosso país e entrar em depressão só vai colaborar para que as coisas continuem assim. Nesta hora, devemos canalizar a frustração e a raiva para transformá-la em indignação contra o estado que se encontra o nosso país.

Ainda estamos numa democracia, nós os eleitores, somos os únicos que podemos mudar as coisas, através de nossa participação nos movimentos contra a corrupção e contra leis e normas que propiciam o assalto ao erário publico. Sem a corrupção sobraria muito dinheiro para a aplicação em áreas fundamentais como educação, segurança e saúde.

Portanto, saibam que hoje aconteceu comigo, amanhã pode acontecer, e acontece mesmo, com todos os brasileiros. É hora de dar um basta, é hora de exigirmos que os nossos representantes no governo sejam tão éticos e morais como nós. 

Chega de ser representados por bandidos e corruptos. 

Chega de ter medo. 

Vamos a luta!

sexta-feira, abril 27, 2012

ÍTACA





Quando partir rumo a Ítaca, peça que a estrada seja longa,
repleta de aventuras e descobertas.
Não tema os lestriões, os cíclopes,
e nem o irado Poseidón. Você não encontrará tais seres 
em seu caminho enquanto mantiver o pensamento elevado
e uma rara emoção dominar o seu corpo e espírito.
Não encontrará lestriões, cíclopes
e nem o feroz Poseidón, se não os levar em sua alma, 
se a sua alma não os puser em seu caminho.

Peça que a rota seja longa.
Que sejam muitas as manhãs de verão 
Nas quais, com que prazer, que alegria, 
Chegará em portos onde nunca esteve: 
detenha-se nos mercados fenícios
E adquira belas mercadorias,
madrepérola, coral, âmbar e ébano,
voluptuosos e variados perfumes,
tantos perfumes voluptuosos quanto puder;
visite muitas cidades egípcias
e aprenda avidamente com os sábios.

Tenha sempre Ítaca na memória.
Chegar lá é a sua meta.
Mas não apresse a viagem.
Melhor que se estenda durante anos
e que você chegue já velho à ilha,
rico de tudo o que ganhou pelo caminho, 
sem esperar que Ítaca o enriqueça.

Ítaca já o presenteou com a bela viagem. 
Sem ela, você não teria partido.
Nada mais, porém, pode lhe dar.
E mesmo que a encontre pobre,
Ítaca não o terá enganado.
Sábio e experiente como se tornou, 
Você a essa altura já terá compreendido 
o que significa Ítaca.

(por Constantine P. Cavafy, 1911)

segunda-feira, abril 09, 2012

Sacolas plásticas 1 de FEVEREIRO de 2012


“A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP) , órgão vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, apoia propostas que tenham por objetivo promover o consumo sustentável e consciente como forma de preservação do meio ambiente, observados em qualquer hipótese os direitos dos consumidores, assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

No caso da campanha realizada nos supermercados, que visa a substituição de sacolas plásticas comuns por biodegradáveis, o Procon-SP esclarece que a par da informação prévia e adequada acerca de eventual cobrança e, ainda, do devido e contínuo esclarecimento e conscientização da população quanto a tais procedimentos, os estabelecimentos devem oferecer uma alternativa gratuita para que os consumidores possam finalizar sua compra de forma adequada, devendo essa medida ser adotada pelo tempo necessário à desagregação natural do hábito de consumo.

É importante destacar que, na ausência de opção gratuita para que o consumidor possa concluir sua compra, fruindo de maneira adequada o serviço, o estabelecimento deverá fornecer gratuitamente a sacola biodegradável, respeitando assim os ditames do Código de Defesa do Consumidor (CDC)."

O consumidor que tiver dúvidas ou quiser fazer uma reclamação, pode procurar um dos canais de atendimento da fundação:

Orientações: 151 (Só para a capital).

Pessoalmente: de segunda à sexta-feira, das 7h às 19h. Sábados, das 7h às 13h, nos postos dos Poupatempo, sujeito a agendamento no local.

Sé - Praça do Carmo, S/N, Centro.
Telefone: 0800-772-3633

Santo Amaro - Rua Amador Bueno, 176/258 - São Paulo - SP (próximo ao Largo Treze de Maio).
Telefone: 0800-772-3633

Itaquera - Av. do Contorno, S/N, Itaquera (ao lado do metrô).
Telefone: 0800-772-3633
Nos postos dos Centros de Integração da Cidadania (CIC) Norte, Leste, Oeste, São Luiz, Imigrantes e Feitiço da Vila (endereços no site: http://www.justica.sp.gov.br/modulo.asp?modulo=52&Cod=52) , de segunda à quinta-feira, das 9h às 15h.

Por fax: (11) 3824-0717.

Por cartas: Caixa Postal 3050, CEP 01031-970, São Paulo-SP.

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/proconsp.
Siga-nos no Twitter: www.twitter.com/@proconspoficial.
Dicas e orientações sobre defesa do consumidor no blog Educação para o Consumo.

31/01/2012
Fundação Procon-SP
Assessoria de Comunicação

terça-feira, março 27, 2012

Feliz, feliz...


Feliz, feliz eu não estou, até porque concordo totalmente com o Tom Jobim: “Fundamental é mesmo o amor / É impossível ser feliz sozinho...

Mas no geral, o que os olhos já não podem ver, é que estou até que feliz comigo mesmo. Durmo bem, agora que consegui estabilizar a falta de nicotina com um patch de 3,5 mg, que insisti tanto em não usar.  Acordo feliz cantando, pois não tem ninguém mal humorado por perto que detesta quem acorde feliz. Gente que acorda mal humorada é uma merda, já te corta sua alegria logo de manhã.

Canto, danço e dou risadas sozinho das minha coisas, afinal eu realmente acabo fazendo tudo da maneira mais difícil, que mais fácil para mim, por saber fazer daquele jeito meio atrapalhado e engraçado.

Não pensem que entrei naquela onda das pessoas do facebook, que estão sempre bem (da boca pra fora) ainda que estejam fodidos intimamente. Quem me acompanha sabe que não sou assim, tampouco sou hipócrita como muita gente que se faz parecer algo que não é. Gosto de ser eu mesmo, gosto de ir até o fundo dos meus sentimentos ao invés de ignorá-los. Sofro, choro, desço ao tártaro, o mais profundos dos ínferos mundos, deixando pra trás todas minhas roupas, conquistas e sonhos, pra poder tomar impulso para voltar e criar uma nova vida, como nascendo de novo.

Dificilmente falo aqui da minha felicidade, da minha perfeição como pessoa, da minha magnífica espiritualidade, mesmo porque, não sou nada disso. Geralmente, além de mitologia falo de mim mesmo, da minha dor, que muitas vezes não se cala se eu não grito aos céus. Falo da minha humanidade e da minha humildade perante a divindade, pois vejo o divino e os deuses a cada momento da minha vida.

Mesmo durante este período que sofri perdas terríveis, de nenhuma maneira me senti abandonado pelos deuses, eles e principalmente o meu Deus, estiveram sempre ao meu lado, me confortando, me dando paciência e me mostrando o quanto era importante eu passar por tudo que eu estava passando.

Agora a cada dia mais percebo, que tudo está melhorando e com o tempo tudo vai melhorando, estou sonhando e vou concretizar novos sonhos, construir novas coisas, afinal recomeçar de novo sempre foi o meu forte. Embora tudo esteja um pouco diferente, não sei se pela idade ou pelo tamanho das perdas, pois esta vez tudo foi mais lento, e exigiu mais empenho, mas ainda assim, as coisas estão andando.

A felicidade é composta de uma série de pequenas felicidades, e sem que eu percebesse como um conjunto, comecei a ver muitas pequenas felicidades na minha vida. Estou feliz com meu corpo, minha cabeça, a casa e seu cheiro de limpa e o aroma de boa comida no horário das refeições, geralmente ela está arrumada. Sinto-me feliz quando entro entre os lençóis perfumados, na banheira com sais e com as toalhas secas e fofinhas. Sou feliz com o conjunto das pequenas coisas da minha vida. Nunca espero explosões de felicidade, pois sei que isto é fugaz, me contendo com amores possíveis e nem busco mais os impossíveis já faz algum tempo e amores de cinema eu já tive, faltava dores de corno de literatura, que acabei também tenho, então daqui pra frente eu quero calma, amizade, confiança e alguém disposta a viver do meu lado o resto da vida. Tudo bem, que sempre quis isto, mas creio que agora é hora realmente de pensar seriamente nisto, antes de entregar meu coração.

E como todo bom taurino como sou só resta dizer, não tenho tudo que quero, mas é só uma questão de tempo, heheheh!

terça-feira, março 20, 2012

Vida após a morte!


É engraçado como até mesmo os textos parecem ter vida própria, ontem eu queria escrever o que vou tentar novamente hoje, mas à medida que fui escrevendo ele foi se desenvolvendo para algo que nem pensei escrever. O que eu realmente queria falar é sobre algumas tomadas de consciência que aparecem como um insight. Algo que já se cristalizava e consolidava, se que isto estivesse bem claro para você mesmo.

Há uma duas ou três semanas, estava fazendo meu jantar, quando um irmão me chamou na porta do prédio para me entregar alguma coisa, desci, passei uns 10 minutos conversando e subi porque tinha deixado coisas no fogo.

A surpresa foi quando abri a porta, o cheiro da comida e o calor que vinham da comida, me deram a sensação exata de estar voltando para o lar. Sim senti que minha casa era o meu lugar, ele me protegia e aconchegava mesmo eu estando sozinho.

Até então eu ainda pensava que meu lar era onde meu coração estava, mas ultimamente nem mesmo eu sei onde está meu coração, se com meus filhos e os filhos deles, os com os filhos distantes um ao norte e outra ao sul, ou se dividido em pedacinhos em cada mulher que amei. Amor recente que me machucou, amor antigo que deixou muita saudade, sei lá por onde anda meu coração, mas ainda não senti falta dele. Algumas vezes ainda dói, outras sente saudade, mas deixo quieto e logo ele acalma.

O que mais eu precisava era esta constatação de que eu tenho a minha casa e esta é um lar, casamentos eu já tive, filhos tive quatro com três mulheres diferentes, e a te sentir o cheiro da minha própria comida e o calor de meu fogão, eu acreditava que um lar é onde existe uma família, porém percebi que a família pode orbitar a casa paterna, afinal os meus filhos mais próximos nasceram aqui, meus pais morreram aqui, assim entre ascendentes e descendentes sou o elo mais forte entre o passado e o futuro da gens (guens) e dos gens.

O meu lar é onde eu me sinto bem, e a cada dia que passo estou mais adaptado a estar sozinho,  já acerto a fazer boas receitas em porções individuais, e nas vezes que exagero, aprendi a guardar ou congelar, pois agora aceito comer comida requentada. A casa está (quase) sempre arrumada, minhas plantas estão lindas. E eu começando a criar novos sonhos...

A vida sempre retorna, por mais que tenhamos descido ao mais profundo dos ínferos mundos, sempre podemos voltar à vida, e o que mais me garante esta fé é ver que as plantas brotam até em concreto de viadutos. Por mais que a morte seja inevitável, a vitória final é da vida.

sexta-feira, março 16, 2012

Múltiplos Horizontes

Às vezes me surpreendo vendo as coisas acontecerem sem que eu tenha projetado ou pensado em fazer algo para que acontecessem... Às vezes eu faço alguma coisa que por si só iniciam uma série de coisas de maneiras aleatórias, mas totalmente ligadas as minhas necessidades do momento. E é nesta hora que me pergunto: Será que só eu vejo assim? Será que só eu vejo a força dos deuses e das senhoras do destino agindo sobre mim?

Percebo que uma ação, por mínima que seja, coloca em movimento não apenas a minha vida, como também a de todos que me cercam. A cada ato, não apenas o universo que vivo, mas também alguns universos paralelos de movimentam e se realinham. Uma simples decisão, não importa se certa ou errada, desencadeia uma série de eventos inesperados e impensados como se existissem muitos horizontes, além dos horizontes visíveis. Véus que nublavam a nossa visão são rompidos um por um até que consigamos enxergar a verdade que nunca conseguíamos ver.

Aquilo que deu errado, sempre esteve errado desde o começo, por mais que todos nossos alarmes e intuições tivessem disparado lá no princípio, e ainda assim, nossa mente ou coração, insistiram em levar em frente aquilo que estava destinado ao fracasso, talvez porque nós quiséssemos que desse certo. Eu não sei se existe em nós esta vontade de enfrentar o destino, ou se foi incutido na nossa mente esta idéia religiosa de Livre Arbítrio, que afinal de livre não tem nada, pois você tem a liberdade apenas de escolher obedecer ou desobedecer, e a partir disso ir para o céu ou o inferno. Eu por não acreditar nem em um nem no outro, pois definitivamente sou contra as coisas absolutas, não creio numa bondade absoluta e tampouco em uma maldade plena. Acredito num equilíbrio e que tudo se encaminhe para um senso onde tudo se nivele.

Assim vejo que cada pequeno movimento que faço desencadeia outros, e que mesmo sem perceber tudo que até pouco tempo estava um caos, se encaminha sem nenhum esforço para o equilíbrio e a ordem, naturalmente. É isto que chamo de providencia divina, e este é o trabalho dos deuses.


quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Quem fica no sufoco é o consumidor e não o Planeta


Por mais que se retirem as sacolinhas práticas do supermercado, não tiraremos o planeta do sufoco. A prefeitura de São Paulo Por exemplo exige que o lixo seja colocado na rua embalado em sacos plásticos. Portanto este acordo dos supermercadistas com o governo estadual, alem de inconstitucional, por ferir a lei federal e o código de defesa do consumidor, onde o comerciante é obrigado a fornecer gratuitamente embalagem ao consumidor.

Quem ganha com isto além dos Supermercadistas, que já tinham incluído o preço das sacolinhas nos seus custos, o que já era contra o código do consumidor, pois as sacolinhas não eram gratuitas, seu preço já estava incluído em tudo o que comprávamos...

Agora os supermercados, eliminam as sacolinhas, não reduzem seus custos e ganham vendendo sacos de lixo, ou as mesmas sacolinhas que sufocavam o planeta para carregar compra.

Portanto em nada adianta para o planeta este esforço de propaganda da ABAS. Associação Brasileira de Supermercados, ao invés de tirar o planeta do sufoco este acordo com uma secretaria do governo de São Paulo, só coloca, como sempre, o cidadão consumidor no sufoco, que paga as contas dos lobys e corrupções dos governos em qualquer instancia.

A solução como veremos abaixo não é ceder as caixas vazias para transportamos nossas compra, como veremos mais abaixo, num projeto de lei de um vereador de São Paulo. A solução vira, se os associados da ABRAS, usarem sacolinhas como o próprio governo de São Paulo tem usado como vocês viram no início deste post, Recicladas e bio-degradáveis que se decompõem em 18 meses.

Afinal os governos em todas as esferas, deve imediatamente parar de sufocar os cidadões, consumidores e pagantes de imposto, que já são por demais onerados.

Veja agora a Bondade dos supermercados oferecendo caixas de papelão usadas:

PROJETO DE LEI 606/11

do Vereador Francisco Chaga

“Dispõe sobre a proibição do uso de caixas de papelão usadas para embalar compras no varejo e supermercados no Município de São Paulo

A CÂMARA MUNICIPIAL DE SÃO PAULO, decreta:

Artigo 1º - Fica proibida no âmbito do Município de São Paulo a utilização de caixas de papelão usadas para embalar compras em mercados, mercearias, quitandas, supermercados, hipermercados, açougues, bares, restaurantes, padarias, congêneres e todo e qualquer estabelecimento comercial do Município de São Paulo.

Artigo. 2º - A empresa que violar ou, de qualquer forma, concorrer para violação do disposto nesta lei estará sujeita à advertência, multa de 1000 (mil) UFMs, suspensão da atividade por 5 (cinco) dias e fechamento definitivo, conforme as reincidências, a serem regulamentas pelo órgão competente no prazo de 60 (sessenta) dias da data de sua publicação.

Artigo 3º - Compete aos órgãos municipais de fiscalização e de vigilância sanitária.

Artigo 4º - O Poder Executivo regulamentará esta lei, no que couber, no prazo de 90 (noventa) dias, a contar da sua publicação.

Artigo 5º - Esta lei entrará em vigor ria data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Às Comissões competentes”.

“JUSTIFICATIVA

Tem se tornado prática corrente o fornecimento “gratuito” por parte de estabelecimentos comerciais de caixas de papelão já utilizadas originalmente para seus clientes transportarem suas compras. O que aparentemente pode parecer, à primeira vista, preocupação com o meio ambiente, na verdade é mais uma estratégia daqueles estabelecimentos em se livrar do encargo e da responsabilidade de dar uma destinação adequada aquelas caixas.

O que ocorre entretanto com a utilização destas caixas de papelão já usadas, é um elevado risco à saúde pública, pois estudos científicos mostram que, com relação à contaminação por bactérias, as caixas de papelão apresentam maior quantidade de baterias quando comparadas com outras possibilidades de transporte de mercadorias, como por exemplo as sacolas plásticas e com as chamadas ecobags (sacolas de pano).

Nas caixas de papelão foram verificados que 80% das amostras apresentaram coliformes totais, 62% das amostras apresentaram coliformes fecais e 56% Escherichia coli, além de fungos, bolores e leveduras.

As caixas de papelão revelaram ainda elevada carga microbiana quando por exemplo, comparadas às sacolas plásticas (cerca de 8X mais para bactérias e 12X mais para fungos), além da presença de bactérias do grupo coliforme e inclusive Escherichia coli. Estas contaminações podem ser oriundas da própria matéria prima dessas caixas, mas também das condições de armazenamento quando ainda com seus produtos originais ou até mesmo do armazenamento nos estoques para seu reaproveitamento. As caixas são, em alguns casos, verdadeiros berços de insetos de todo tipo.

Some-se ainda às bactérias, fungos, carga microbiana, insetos etc, a possibilidade do contato de produtos de limpeza armazenados nas caixas de papelão com os alimentos adquiridos e transportados pelo consumidor nas mesmas caixas “gratuitamente” fornecidas pelos estabelecimentos.

Além da séria questão de saúde envolvida na utilização de caixas de papelão, outro ponto relevante é o fato de que os estabelecimentos comerciais são responsáveis pelo gerenciamento e destinação adequada dos resíduos sólidos gerados pelas suas atividades, e fornecendo para os consumidores as caixas de papelão para serem reutilizados, os supermercados estão repassando diretamente para o consumidor tal responsabilidade, livrando-se do referido encargo
.
Por estas razões é que venho contar com o apoio de meus pares a esta importante questão de saúde pública.”