segunda-feira, janeiro 23, 2012

Vida & Mitologia


Um dia deste uma amiga me disse:

 – Adoro o jeito que você mistura a sua Vida com a Mitologia, quando escreve, fica parecendo tão real!

Juro que parei por uns instantes, sem entender o que ela estava falando, quando finalmente entendi respondi:

     – Eu não misturo nada, é assim que eu vivo! Sinto a presença dos Deuses em cada momento da minha Vida.

     – Você fala, conversa com os deuses diariamente – espantou-se ela.
 – Na verdade não, pelo menos, não na maneira que você pensa. Não me sento com eles na mesa, tampouco olho para os céus, pergunto e eles respondem nem  converso com eles no templo, Mas eles estão presentes o tempo inteiro na minha vida, eu os vejo e os escuto na natureza e em minha volta. Às vezes um raio responde uma pergunta que esta na minha cabeça, um vento, uma brisa me dão sinais, um pio de pássaro que não deveria estar por ali. As vezes a resposta vem de um mendigo que me fala coisas aparentemente sem nexo, mas que fazem um puta sentido, ou por acaso escuto uma conversa enquanto tomo café num balcão.

Sonho tenho visões principalmente naqueles momentos de modorra, aquela sonolência gostosa quando estamos quase fechando os olhos de sono, isto eu aprendi com o Monteiro Lobato que poucos lêem hoje. Sim creio que foi quando a crianças do sítio queriam ver o saci. Hoje eu sei que é um momento limítrofe, estamos entre o sono e a vigília, e todo momento de transição é por si mesmo mágico, como falei aqui no post “Aquele azul”

Assim vou vendo deuses e os sentindo a todo o momento, como se estivessem o tempo inteiro me alertando, me acariciando e dando um jeito de me avisar o que eu deveria saber. Porém temos um livre arbítrio, que nos dá a opção de segui-los o tempo inteiro ou seguir nossa própria cabeça e não é pecado nenhum não fazer o que os deuses mandaram eles não se incomodam, mesmo porque não acredito em pecados, nem na culpa imposta pois não sou dualista e  separo tudo em bem e mal, luz e trevas, masculino e feminino, acredito que tudo se interage, pelo bem ou pelo mal, dependendo o momento.

Assim, eu sinto sim a presença dos deuses e vivo exatamente da maneira que eu escrevo, ora louvando uns, ora aplacando outros e sempre buscando o equilíbrio ou como sempre fala o eixo da roda da fortuna, onde tudo gira em minha volta e eu permaneço no centro.

Creio que este papo não vai acabar por aqui, temos muito que falar sobre como viver como pagão, e não dizer que é pagão e viver querendo ser bonzinho para ir para o céu, ou optando pelo outro lado. Gente, o paganismo é o equilíbrio, sem ele nunca seremos pagãos

sábado, janeiro 21, 2012

A Prostituta com Cabeça

Adoro este conto, vai de presente de fim de semana pra vocês


A Prostituta com Cabeça de Woody Allen


Uma das coisas de ser um investigador particular é que você tem que aprender a seguir seus palpites. É por isso que, quando um trêmulo pedaço de manteiga chamado Word Babcock entrou em meu escritório e colocou suas cartas na mesa, eu devia ter confiado no arrepio que subiu por minha espinha.

"Kaiser?", ele perguntou. "Kaiser Lupowitz?"
"É o que diz minha licença", admiti.
"Você precisa me ajudar. Eu estou sendo chantageado. Por favor!"
Ele tremia como um cantor de orquestra de rumba. Empurrei um copo até ele e uma garrafa de uísque de centeio que sempre tenho à mão para fins não medicinais. "Trate de relaxar e me conte tudo."
"Você... você não vai contar para minha mulher?"
"Vamos ser francos, Word. Não posso fazer qualquer promessa."
Ele tentou tomar um gole, mas o bater de seus dentes podia ser ouvido do outro lado da rua e a maior parte da bebida acabou em seus sapatos.
"Eu sou um cara trabalhador", disse. "Manutenção mecânica. Eu monto e conserto vibradores de brincadeira. Você sabe - aqueles aparelhinhos que dão um choque quando as pessoas apertam as mãos?"
"E daí?"
"Muitos de seus executivos gostam deles. Especialmente em Wall Street."
"Vamos ao que interessa."
"Eu viajo um bocado. Você sabe como é - sozinho. Não é o que você está pensando. Veja, Kaiser, eu sou basicamente um intelectual. Claro, um camarada pode ter todas as vagabundas que quiser. Mas uma mulher com miolos - esta não é tão fácil de encontrar de repente."
"Continue."
"Bem, eu ouvi falar de uma garota. Dezoito aninhos. Aluna de Vassar. Por dinheiro, ela vem e discute qualquer assunto - Proust, Yeats, antropologia. Troca de idéias. Percebe aonde quero chegar?"
"Não exatamente."
"Quero dizer, minha mulher é legal, não me entenda mal. Mas ela não vai discutir Proust comigo. Ou Eliot. Eu não sabia disso quando casei com ela. Sabe, eu preciso de uma mulher que seja mentalmente estimulante, Kaiser. F, estou disposto a pagar por isso. Não desejo qualquer envolvimento - quero uma rápida experiência intelectual e depois que a garota vá embora. Cristo, Kaiser, eu sou um homem bem casado."
"Quanto tempo já dura a coisa?"
"Seis meses. Toda vez que tenho esse desejo, ligo para Flossie. Ela é uma madame, com mestrado em literatura comparada. Ela me manda uma intelectual, entende?"
Então, ele era um daqueles sujeitos cuja fraqueza era mesmo por mulheres inteligentes. Senti pena do pobre mané. Imaginei que devia haver um bocado de tolos na mesma situação, famintos por um pouco de comunicação intelectual com o sexo oposto e que pagariam os olhos da cara por isto.
"Agora ela está ameaçando contar para minha mulher", ele disse.
"Quem está ameaçando?"
"Flossie. Eles grampearam o quarto do motel. Conseguiram fitas onde eu discutia The Waste Land e Styles of Radical Will, e, bem, até entrava em certos assuntos. Eles querem dez mil dólares, se não contam
para Carla. Kaiser, você tem que me ajudar! Carla morreria se soubesse que não conseguiu me estimular nesse sentido."
O velho golpe da garota de programa. Eu já tinha ouvido boatos de que os camaradas da chefatura estavam lidando com alguma coisa
envolvendo um grupo de mulheres cultas, mas até o momento estavam impedidos de agir.
"Ligue para Flossie; eu falo com ela."
"O quê?"
"Vou aceitar seu caso, Word. São cinqüenta dólares por dia, mais despesas. Você vai ter que consertar um monte daquelas suas engenhocas."
"Não vai chegar a dez mil, tenho certeza", ele respondeu sorrindo e discou um número no telefone. Eu o tomei de sua mão e pisquei. Estava começando a gostar dele.
Alguns segundos depois, uma suave voz feminina respondeu e eu lhe disse o que pretendia. "Sei que você pode me ajudar e arrumar uma hora de um bom papo", eu disse.
"Claro, benzinho. Em que você está pensando?"
"Gostaria de discutir Melville."
"Moby Dick ou os romances mais curtos?"
"Qual é a diferença?"
"O preço. Só isso. Simbolismo é mais caro.
"Quanto vai me sair?"
"Cinqüenta, talvez cem para Moby Dick. Você quer uma discussão comparativa - Melville e Hawthorne? Dá para ajeitar por uns cenzinhos."
"O preço está bom", eu lhe disse e dei o número de um quarto no Plaza.
"Você quer uma loura ou uma morena?"
"Prefiro a surpresa", respondi e desliguei.
Fiz a barba e tomei um café enquanto repassava a série de Resumos do Monarch College. Nem uma hora havia se passado quando ouvia batida na porta. Abri e me deparei com uma jovem ruiva metida numas calças que pareciam duas grandes conchas de sorvete de baunilha.
"Oi, eu sou Sherry"
Eles realmente sabiam como apelar para nossas fantasias. Cabelos longos e lisos, bolsa de couro, brincos de prata, nenhuma pintura no rosto.
"Estou surpreso de você não ter sido barrada, entrando no hotel com essa roupa", eu disse. "O detetive da casa costuma reconhecer um intelectual."
"Por cinco dólares ele fecha os olhos.
"Vamos começar?", sugeri, levando-a para o sofá.
Ela acendeu uni cigarro e entrou direto no assunto. `Acho que poderíamos começar abordando Billy Budd como a justificativa de Melville para os métodos de Deus para com o homem, n'est-ce pas?"
"Interessante, contudo, não em um sentido miltoniano." Eu estava blefando, queria ver se ela iria cair.
"Não. Faltava a subestrutura do pessimismo em Paraíso perdido." Ela havia caído.
"Certo, certo. Por Deus, você está certa", murmurei.
"Creio que Melville reafirmou as virtudes da inocência em um sentido ingênuo, porém sofisticado - você não concorda?"
Eu a deixei continuar. Ela mal tinha dezenove anos, mas já havia desenvolvido a superficialidade calejada do pseudo-intelectual. Foi desfiando suas idéias desembaraçadamente, mas era tudo mecânico. Sempre que eu apresentava uma opinião, ela fingia dar uma resposta: "Mas, claro, Kaiser. Sim, meu bem, isto é profundo. Uma compreensão platônica do cristianismo - como não percebi antes?"
Conversamos durante cerca de uma hora, após o que ela disse que precisava ir. Levantou-se e eu lhe dei uma nota de cem.
"Obrigada, amorzinho."
"De onde esta saiu, há muitas mais."
"O que você está querendo dizer?"
Eu havia despertado sua curiosidade. Ela se sentou de novo.
"Suponha que eu queira, digamos, uma festa."
"Como? Que tipo de festa?"
"Vamos dizer que eu queira Noam Chomsky explicado por duas garotas."
"Nossa!"
"Acho melhor esquecer..."
"Você teria que falar com Flossie", ela disse. "Vai custar mais."
Era hora de fechar o cerco. Exibi minha carteira de detetive particular e avisei que ela fora apanhada.
«O quê?»
"Eu sou um tira, docinho, e discutir Melville por dinheiro é um artigo 802. Você pode pegar uma cana."
"Seu safado!"
"É melhor ficar fria, querida. A menos que você queira contar sua história no gabinete do delegado Alfred Kazin, e eu não creio que ele iria gostar de ouvi-Ia."
Ela começou a chorar. "Não me entregue, Kaiser", pediu. "Eu precisava do dinheiro para concluir meu mestrado. Pedi uma bolsa, mas não consegui. Duas vezes. Oh, meu Deus..."
Então ela desabafou e contou toda a história. Criada no Central Park West, acampamentos de verão de tendência socialista, Universidade de Brandeis. Era o tipo de garota que se podia encontrar na fila do Elgin ou do Thalia, ou rabiscando a lápis "Sim, é verdade" na margem de algum livro sobre Kant. Só que em algum ponto do caminho, fez a escolha errada.
"Eu precisava de grana. Uma amiga me disse que conhecia um sujeito casado com uma mulher meio bronca. Ele se interessava por Blake; ela não conseguia suportar. Eu disse, tudo bem, por uma grana eu converso com ele sobre Blake. No começo, ficava nervosa. Na maior parte do tempo eu tapeava. Ele não se importava. Minha amiga disse que havia outros. Ora, eu já fui apanhada antes; me pegaram lendo Commentary em um carro estacionado e uma vez fui parada e revistada em Tanglewood. Com esta, é a terceira vez que me dou mal."
"Leve-me até Flossie, então."
Ela mordeu os lábios e disse, "A livraria do Hunter College é a fachada."
"Como?"
"Como aqueles pontos de apostas que têm uma barbearia na frente para disfarçar. Você vai ver."
Dei um telefonema rápido para a chefatura e avisei a ela: "Tudo bem, docinho, você está livre. Mas não saia da cidade."
Ela levantou o rosto para mim, agradecida. "Posso conseguir para você umas fotos de Dwight Macdonald lendo", ofereceu.
"Talvez outro dia."
Entrei na livraria do Hunter College. O vendedor, um jovem com olhos sensíveis, se aproximou. "Em que posso servi-lo?", perguntou.
"Estou procurando por uma edição especial de Advertisements for Myself. Soube que o autor mandou imprimir alguns milhares de exemplares com douração para os amigos."
"Tenho que verificar", ele disse. "Temos uma linha direta para a casa de Mailer."
Encarei-o fixamente e disse: "Sherry me mandou vir aqui."
"Bem, nesse caso, vá até os fundos." Ele apertou um botão; uma parede de livros se abriu e eu entrei como um cordeiro naquele animado palácio de prazer conhecido como a toca de Flossie.
O papel de parede flocado vermelho e a decoração vitoriana davam o tom. Garotas pálidas e nervosas, com óculos de aros pretos e cabelos em corte reto se recostavam em sofás, folheando clássicos da Penguin provocantemente. Uma loura com um grande sorriso piscou para mim, fez um sinal na direção de um quarto no andar de cima e disse: "Vamos de Wallace Stevens?" Mas não se tratava apenas de experiências intelectuais - elas ofereciam experiências emocionais também. Por cinqüenta paus, fiquei sabendo, era possível "relacionar-se sem chegar à intimidade. Por cem, uma das meninas poderia emprestar seus discos de Bartók, jantar com você e depois deixá-lo observando enquanto ela tinha um ataque de ansiedade. Por cento e cinqüenta, era possível ouvir uma rádio FM com gêmeas. Três notas davam direito a um pacote: uma judia morena e magra fingiria apanhá-lo no Museu de Arte Moderna, deixaria você ler sua monografia de mestrado, levaria você a se envolverem uma discussão acalorada no Elaine's sobre a concepção de Freud acerca das mulheres e, por fim, simularia um suicídio de sua escolha - uma noite perfeita, para alguns camaradas. Quanta agitação. Grande cidade, Nova lorque.
"Está gostando?", ouvi uma voz atrás de mim. Virei-me e de repente vi-me diante do cano de um 38. Sou um sujeito de estômago forte, mas desta vez ele deu um pulo. Era Flossie. A voz era a mesma, mas Flossie era um homem. Uma máscara cobria seu rosto.
"Você não vai acreditar", ele disse, "mas eu nem terminei a faculdade. Fui excluído por causa de notas baixas."
"Por isso é que você usa esta máscara?"
"Eu bolei um esquema complicado para assumir o comando de The New York Review of Books, mas isto significava que teria de passar por Lionel Trilling. Submeti-me a uma operação no México. Existe um médico em Juarez que dá às pessoas as feições de Trilling - cobrando por isso. Mas algo saiu errado. Eu acabei parecido com Auden e com a voz de Mary Mc Carthy Foi então que passei a agir do outro lado da lei."
Rapidamente, antes que ele pudesse apertar o gatilho, entrei em ação. Atirando-me para a frente, com o cotovelo golpeei seu maxilar e, enquanto ele caía para trás, agarrei a arma. Caiu ao chão como uma tonelada de tijolos. Ainda estava se lamuriando quando a polícia chegou.
"Bom trabalho, Kaiser", disse o sargento Holmes. "Quando terminarmos com este sujeito, o FBI vai querer uma conversinha com ele. Um probleminha a respeito de alguns jogadores e um exemplar anotado do Inferno de Dante. Podem levá-lo, rapazes."
Naquela noite, procurei uma velha conhecida minha chamada Glória. Era loura e havia se diplomado com louvor. A diferença era que havia se formado em educação física. Parecia legal.




sexta-feira, janeiro 20, 2012

Obsessões, compulsões e névoas de fumaça.


Estava fazendo do meu jeito, ou tudo ou nada, (Aut César aut nihil) No dia da Lua, com uma dose razoável de Ziban no organismo, acordei e fiquem sem fumar até as 16:30. No dia de Marte, fiquei sem fumar até as 19:00 e meus planos no dia de mercúrio seria o de não fumar nenhum, pois ia na consulta e aproveitaria para pedir uns paths de nicotina.

Conversando com a médica que por sinal é ótima, ela levantou um ponto fundamental, e o que eu iria fazer com a minha compulsividade? Para onde eu iria direcioná-la? Comida, Ginástica, Sexo, sim já fui compulsivo sexualmente, e isto acabou com meus primeiros casamentos, ou para onde eu iria dirigir a compulsão e o meu comportamento obsessivo. Se eu parasse de fumar sem entender estas coisas, eu poderia desenvolver uma serie de outras obsessões e compulsões e que num destes momentos ou quando algo desse errado ocorresse eu voltaria a fumar compulsivamente.

De certa forma, isto já tinha acontecido, quando parei de fumar a uns oito o nove anos atrás; fiquei três anos me abstendo dos cigarros, após isto num check up, o médico olhando uma chapa dos pulmões, me deu os parabéns por nunca ter fumado, concomitantemente aconteceram duas situações de stress e em uma delas “precisei” fumar, mesmo que para mim naquele momento o cigarro não era mais gostoso, o gosto era ruim e me dava tonturas, mas mesmo assim fiz isto para não resolver as situações estressantes na impulsividade. Com isto voltei a fuma compulsivamente a duas carteiras de cigarro por dia.

Preciso então apreender a controlar, e perceber quanto realmente meu corpo necessita (sim necessita sou um viciado) da Nicotina, e quanto eu acendo um cigarro atrás do outro por obsessão?  O primeiro dia da experiência (ontem) eu fumei apenas 10 cigarros contra os 40 ou mais que eu fumava normalmente, hoje que observar isto ainda melhor e se possível reduzir mais. Quando chegar a uma decisão de quanto eu realmente preciso de nicotina por dia, troco o cigarro pelos adesivos, e minha luta será apenas contra a compulsão e o habito de fumar, pois o vicio e a dependência química estarão controlado pelos adesivos.

Achei interessante, e estou fazendo isto, creio que será menos sofrido que como eu queria fazer. Com o corte abrupto, o sofrimento seria maior e compulsivo, eu paro e pronto, e foda-se, no resto sou forte o bastante para parar com esta merda. Isto não seria consciente e racional.

Creio também que esta experiência também possa me fazer uma pessoa, melhor, afinal meus Dois primeiros deuses, Dionísio e Posídon, são ambos vulcânicos e explosivos e eu preciso aprender a lidar com estas características dele.

Hoje mesmo uma pessoa que amo, me ligou perguntando se eu tinha parado de fumar, e quando fui explicar tudo isto que expus acima, ela brincou: “há... Você está enrolando pra parar” isto foi o suficiente para um sonoro PUTAQUE O PARIU, PORRA vc não entende que estou fazendo um tratamento, e que estou sendo orientado por médicos especialistas nisso? Eu não precisava ter feito isto, mesmo estando numa situação limite, com tudo que deu errado na minha vida no ano passado e que preciso consertar toda a minha vida, para um novo e glorioso recomeço, que sei que acontecerá. Mesmos estando como o Chico escreveu:

“Deixe em paz meu coração / Que ele é um pote até aqui de mágoa / E qualquer desatenção, faça não /Pode ser a gota d'água”

Devo aprender a controlar estas explosões, terremotos e maremotos, mesmo porque fico terrivelmente triste, por ofender quem eu amo, por uma bobagem estúpida que foi dito em tom de brincadeira.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Labirintos Transitórios


Labirintos, eles podem ser feitos de qualquer coisa, eles sempre te darão outra visão da realidade, às vezes mais nítidas outras distorcidas, mas sempre que você deixa um labirinto, uma parte dele segue com você.

No SESC Pompéia a exposição - Olafur Eliasson – Seu Corpo da Obra transforma os salões do SESC em vários labirintos e como dizia Borges, é estranho que os homens construam coisas pra se perder,  o primeiro labirinto da exposição feito com enormes paredes de acetatos coloridos onde perdíamos a noção de cor pela sobreposição destas e perdíamos a significação do espaço víamos o outro lado e não podíamos atravessar as paredes coloridas ou encontrávamos o córrego artificial que corta o espaço.

O segundo labirinto, precisa ser visitado urgentemente por todos aqueles que buscam a luz e fogem das trevas, pois é um labirinto sem paredes,  um labirinto de nevoas luz e trevas. Entramos pelas trevas sem ver nem a luzes ou as névoas. Não distinguimos nem mesmo a pessoa com quem falamos, a escuridão nos toma inteiros não vemos nem o próprio nariz, mas não é tão aterrador, afinal não foi a primeira vez que a treva nos cegou.

Caminhamos buscando uma linha reta, para encontrar outra parede para poder chegar até a saída, mas nisso começa a clarear e e passamos a distinguir vultos e já não nos trombávamos com outras pessoas, aí chegamos a zona dos meios tons, onde podíamos até distinguir o rosto nas pessoas que como nós se perdiam no labirinto.

A grande Surpresa foi quanto mais avançávamos em direção a luz, nossa visão se esvaia na brancura da nevoa e novamente nos cegava...

Tanto a Luz quanto a escuridão nos cega, e sabemos que a luz pode nos cegar permanentemente e nas trevas a cegueira é passageira. Somos seres dos meios tons, nos perdemos tanto na luz quanto nas trevas e só vamos nos encontrar quando estamos longe das  extremidades.

O humano tem seus limites, e se quisermos alcançar algo é entre estes pólos que deveremos andar, qualquer tentativa de nos aventurar alem destes extremos nós desbaratamos e dissipamos e podemos não retornar jamais, a nós mesmo.

Nunca esqueçam as palavras do frontispício do Templo de Apolo em Delfos “Conheça a ti mesmo, mas deves lembrar ainda mais do que está escrito na saída “E se ajuste a sua própria Medida”.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Comida para a Alma.




Às vezes precisamos mais que apenas alimentar o corpo, precisamos trazer o nosso espírito de volta. Uma comida com história, passado que te traga lembranças da infância e de momentos onde não existia tristeza, uma comida alegre. Um rango caseiro e familiar, sem nada de sofisticado, nem com sotaque esquisito, nem receita em livro.

Não sei se fiquei caçando fotos antigas hoje , mas hoje nem mesmo o  Bistrô Ici, me satisfaria e creiam, foi lá que fui surpreendido pela ultima vez, por uma inusitada combinação, se um atum fresco quase cru com crosta de gergelim acompanhado com um purê picante. Não, eu queria comida de sábado, quando meu pai ou meu avô iam pra cozinha, comida de um ex. sogro nascido em Bolonha. Comida que eu exercitei ainda na adolescência, mas minhas primeiras incursões na cozinha. Nada elaborado, quase grosseiro, comida de camponês faminto, com gosto de lar, sabor de saudade daqueles que não virão nunca mais.

Degustar todos os momentos da sua vida que foram marcados pela simplicidade, muitas das vezes que se abriu a geladeira quase vazia e se foi encontrando um pedaço de calabresa perdido, tomates quase passados, cebolas com jeito de cansadas e juntar tudo num molho vermelho com cebolas cortada em oito pedaços , tomates cortados em quatro e a calabresa fatiada em rodelas, refogadas na manteiga temperada com ervas de Provence carregada com alecrim e sal marinho moído na hora.

Só pelo cheiro do molho abri um Chianti, uma taça grossa, carreguei no parmesão de verdade e moí pimenta na hora, já na primeira garfada, sabia que era isto que eu precisava. Chamei todos os meus mortos para comer comigo, pois foi com cada um deles que aprendi a me virar na cozinha.

A Comida da Alma é aquela que alimenta seu corpo e também eleva seu espírito a lembranças boas e verdadeiras.

terça-feira, janeiro 10, 2012

A força da iniciação.




Nos meus passeios de bike por São Paulo sempre vejo coisas interessantes e inusitadas, ontem quando mesmos esperava dei de cara com o grupo ILú Oba De Min, que é uma entidade feminina de preservação e divulgação da Cultura de Matriz africana, ensaiando na Praça do Patriarca. A batida estava boa e a dança bem coreografada, incluindo pessoas com pernas de pau. Reparei que tocavam pra Exú, encostei a bike, já que o mais comum é encontrar pregadores evangélicos por ali e fiquei apreciando, logo a seguir se tocou para Ogum e entendi que representavam um Xirê completo, fui ficando Oxossi, Xapanã... estava gosto ali sobre a bicicleta encostado na grade, e mesmo antes que eu me tocasse, já estava acompanhando as letras das cantigas na minha cabeça, o que é muito estranho pois não vou a um Ilê de candomblé para um toque há muitos anos. Não sei em que parte do meu subconsciente ou inconsciente tudo isto estava guardado, mas me peguei cantando praticamente todas as cantigas em Ketu, apesar de não ser a minha nação.

Após Oxumaré nas primeiras batidas para Xangô, descida bicicleta, encostei dois dedos no chão e os levei a testa, cocuruto e nuca, para saudar o rei da nação e quando finalmente chegamos a Oxalá meu orixá é Oxaguian toquei minha testa no chão.

Fiquei assombrado com a força de uma iniciação feita há quase quarenta anos atrás. E fiquei imaginando, porque vemos tanta gente iniciada que não só abandona a casa que é iniciada, como troca de culto como quem muda de roupa no dia de calor. Mesmo quando saí do candomblé, nunca o reneguei, trai meus juramentos ou revelei segredos iniciáticos. Deixei o culto, mas continuei amigo de meu pai de santo até a sua morte, e durante este tempo ainda apreendi muito com ele e com o candomblé.

O estranho é já não acontece isto nem mesmo no candomblé, hoje existe uma preocupação com o tempo, que não era tão forte há quarenta anos, transforma a iniciação em uma coisa muito simplificada, e que possivelmente não tem mais a força, que antes ela tinha.

Na minha iniciação passei quarenta dias preso no quarto de santo, sempoder sair exeto para ir ao banheiro ao lado, depois da saída passei 3 meses de preceitos, comendo sentado no chão e usando somente colher como talher, e não podia sair a rua com a cabeça descoberta e vestido de branco e foi assim que comecei a faculdade, com toda universidade olhando estranho para mim. Ainda passei pelo período de Iaô, um ano inteiro de total obediência os que eram iniciados a mais tempo que eu. Creio que tudo isto me moldou a ser que eu sou hoje. Vejo meus deuses acima de qualquer outra coisa, respeito a todos que sejam mais sábios que eu e não conto vantagens por ser iniciado.

O que vejo Hoje, nestes iniciados relâmpagos, não apenas nas religiões afro, como também nas religiões pagãs é que a falta de tempo leva a iniciações num fim de semana, não que o ato iniciático possa estar errado, mas pelo pouco tempo não é possível passar tudo o que um iniciado deveria saber e conhecer sobre sua vida dali por diante.

É isto a falta de tempo, que faz com que um iniciado não respeite aos mais antigos e sábios no culto, que faz com que não respeitem seus iniciadores e nem tampouco os seus juramentos, os tornando perjuros, gerando a possibilidade dos deuses ou orixás estragarem a vida deles, pela quebra de suas promessas.

Outra coisa é a falta de cultura e conhecimento das pessoas de hoje que buscam uma iniciação como se esta fosse uma grife, uma etiqueta que o indicariam como uma pessoa diferente do que ela realmente elas são a tirando da mesmice que é sua vida. E tanto que isto é verdade que logo após a iniciação, estas pessoas quase enlouquecem, acreditando que a divindade fala com elas o tempo inteiro, coisa que nunca acontece antes de um logo tempo após a iniciação. Já falei demais por hoje, outra hora voltamos ao assunto. Por hora gostaria de lembrar que a iniciação é a porta de entrada para um caminho iniciático, geralmente longo e penoso. A iniciação é o começo, e não o fim como muitos pensam.

P.S. Bem, na verdade não tenho muita certeza, com relação ao preço que esta pessoas pagam um dia, afinal, aos tolos e ignorantes os deuses geralmente perdoam

domingo, janeiro 08, 2012

Vênus Genetriz, a mãe dos romanos. (Parte II) A Presença



A volta de Vênus a minha vida, não foi como a volta de Perséfone no equinócio da primavera, tímida e titubeante, mas como o mês de outubro, quando a primavera se instala totalmente plena, prenhe de promessas e flores maravilhosas. Que no hemisfério norte acontece em abril, (aprilis), o mês consagrado a ela desde a Roma dos Reis. A Sua chegada nos transforma, espanta a tristeza e o enclausuramento do inverno, de dias tristes e cinzas e nos traz um mundo inteiramente renovado e colorido. Nossas mágoas de desfazem com a luz do sol e os fantasmas que nos atormentavam nas noites frias, que passamos encolhidos sob grossas cobertas, não resistem aos perfumes de dama da noite e jasmim, e fogem para os cantos escuros e soturnos, de onde nunca deveriam ter saído.
 
O auge da Primavera desperta o cio da terra, que recebe todas as sementes e as faz germinar. Com Tellus Mater receptiva todos os seus filhos sentem a vontade de se reunir aos pares para render suas graças a Vênus, que nesta época trás sempre pela mão seu filho aquele pequeno demônio que chamamos de Cupido, que com seu carcaz carregado de flechas de ouro e as dispara aleatoriamente. Para que o mundo se renove e as mulheres engravidem e se casem em Maio, mês de Maia, esposa de Vulcano e Apolo e mãe de Hemes.
Com tudo isto acontecendo fora de época, especialmente para mim, todas as feridas foram se fechando, cicatrizando e eu me restabelecendo. Na passagem do ano, que atravessei debaixo de chuva forte, foi como se as águas de Juno fossem mais fortes e poderosas que a de Possídon, pois me limparam de todas as más lembranças e dos humores em decomposição que haviam grudado em mim. As roupas brancas grudadas em meu corpo, os cabelos molhados ao invés de me incomodar, foram me alegrando, restabelecendo ao ponto de eu voltar a perceber que eu estava sendo visto e mulheres estavam me admirando, coisa que a anos eu tinha deixado de perceber.

 
Estava voltando a ser eu mesmo outra vez, encharcado, molhado até os ossos, passava frente uma vitrine espelhada e ria quase gargalhando do meu estado e isto era muito bom, pois sempre ri de mim próprio, e sempre sabia que tudo passaria um dia e que mais cedo ou mais tarde tudo se acertaria. Até que numa noite meu coração, sempre mais frágil que meu cérebro, lembrou da mulher que se foi, e voltou a doer e a me tirar o sono... Porem em pouco tempo uma musica leve e suave como um acalanto de mãe, em pouco tempo cochilei e começou um sonho muito real, sabem aquele que parece que estamos vivendo aquilo de verdade, pois temos todas as sensações e sentimos todos os nossos sentidos ativados?
No sonho encontrei uma filha de Vênus que conheci a anos, ainda adolescente, e veio falar comigo e perguntou por que eu estava triste. Contei das minhas perdas e assim quase do nada ela me beijou carinhosamente na boca e o beijo não terminou mais, até virmos para casa e continuamos a nos beijar na cama e de certa forma nos beijamos e fizemos amor a noite toda. Mas o sonho era muito real de sentir o toque dos lábios, o molhado da língua, o gosto da saliva o cheiro do seu corpo e quando acordei estas sensações ainda estavam tão presentes em mim que a procurei na cama e na casa.

 
Depois com certa frustração, percebi que havia sido um sonho, mas eu ainda sentia o cheiro dela no meu corpo e seu gosto em minha boca, os lençóis ainda úmidos e exalando a sexo. Eu passei a manhã cismado, mas ainda encantado pelo sonho até que as coisas começaram a se encaixar na minha cabeça, Vênus quis dizer alguma coisa pra mim e com certeza não era para eu virar um velho pedófilo onírico. Ela usou a menina, pois é a única filha de Afrodite Pandêmia a mesma qualidade da minha, que conheço, para reafirmar que era ela quem estava comigo. O fato da menina ainda ser uma adolescente, já que faz anos que não a vejo, ela já deve ter mais idade, possivelmente, ela estava me dizendo que preciso de um amor novo ou renovado, com o frescor de novidade, pois não devo mais seguir meu coração, ou me entristecer por uma história que se acabou, ainda que pra mim não tenha terminado. Todas as sensações que tive durante e depois do sonho, foram pra me mostrar que é isto que estou precisando. E constatei que é a pura realidade, passei os dois últimos dias com vontade de beijar horas, fazer sexo com carinho desde as preliminares até as posteridades a noite toda, quantas vezes o tempo permitir...

 
Bem creio que ela está certa mesmo, e ainda que não tivesse quem sou eu para discutir com Afrodite Pandemia, a querida por todos. A partir de hoje volto a olhar para os lados e para os olhos das mulheres bonitas, realmente minha cama já está vazia faz muito tempo e como já disse por aí, gosto mais de relacionamentos do que simplesmente sexo casual, vou a Luta!
Afinal nasci de duas Vênus, uma carnal e outra celestial, amar quem não me ama, não faz parte da minha natureza. 

 
Agora tenho certeza absoluta, o Julio César estava realmente certo: Vênus é a mãe de todos os romanos, e não nos abandona.

Vênus Genetriz, a mãe dos romanos. (Parte I) A Ausência

Embora Vênus seja minha terceira deusa, na casa da ancestralidade, quase sempre ela toma a frente dos dois primeiros para estar do meu lado nas horas difíceis, tanto que até estranhei ela não interferir em nada no ano passado. Não creio que fosse por ciúmes¹ de eu ter deixado ela um pouco de lado para cuidar da minha mãe carnal, uma linda filha de Afrodite.

Acredito que ela soube respeitar meus sentimentos durante a doença onde me doei de corpo, espírito e gênio, que nem tive forças para trazer de volta minha amada que foi embora no começo da doença. Depois de a minha mãe carnal atravessar o Estige e eu cuidar da alma dela com tal empenho, que pela primeira vez na minha vida me senti um sacerdote de Zagreus.

Foi um ano de mortes e perdas onde me reconheci mais e mais nos mitos do meu Deus percebendo como nunca havia visto antes o quanto ele e eu nos fundidos numa mesma personalidade. Repeti o mito em toda sua essência, descendo aos ínferos mundos em busca da minha mãe desenganada, e perdendo minha Ariadne.

Mas depois que minha mãe foi embora, percebi que não havia mais retorno e precisava matar em mim aquela que me deixara, já que tudo se confundiu a tal ponto que nunca mais voltaríamos a ser o que éramos, ainda que o amor ainda vivesse, estávamos em constante rota de colisão. Matar um amor que ainda vive em seu peito é quase matar a si mesmo. O luto por uma pessoa morta é definitivo, mas o luto por quem ainda vive é mais triste e negro. Do morto no máximo podemos encontrar sua sombra, seu fantasma perdido no entre mundos, mas de um amor vivo, estamos sempre em risco iminente de trombar em algum lugar, e estas coisas acontecem por mais que não queremos. 

Tranquei-me em minha dor como contei na postagem “A Solidão”. Mas depois de postar tive certo alivio, pois nos dias anteriores estive em comunhão com os deuses no ritual do solstício e colocar pra fora tudo que engoli no pior ano da minha vida foi uma catarse, deixei purgar a tristeza que me possuía, pois ela era estranha ao meu ser e a minha natureza. Lancetei o tumor que me consumia e deixei que o pus escorresse tanto que uma querida amiga questionou; se eu não tinha exagerado na dose e me exposto demais? Disse que não, pois minha maior defesa é ser sempre transparente, não guardando esqueletos em armários para que um dia fosse descoberto.

No templo, pois o ritual exigia uma vigília de uma noite à espera da Apoteose de Dionísio, e não de seu nascimento como queriam vários grupos pagãos, afinal não existe uma roda do ano, pois o ciclo de nascimento, morte, renascimento e apoteose de Zagreus/Dionísio é bienal, passei a noite em claro com alguns cochilos premonitórios onde os deuses sussurravam em meus ouvidos. Neste momento ela voltou e pediu que eu abrisse o seu assentamento e no que corri para fazê-lo e a pequena cataclava, uma panela especial para cozimento a pressão, de cobre estava quente, se não tivesse mãos de cozinheiro não conseguiria abri-la. Depois de aberto escutei nitidamente: – Chega Cezar, você já foi além do que você podia ter ido por amor. É hora de você voltar a viver. E mais uma serie de outras coisas foram vindo na minha cabeça, mas não vale à pena comentar aqui. Quando voltei a São Paulo comecei a escrever “A solidão”, o primeiro texto que consegui escrever desde Julho de 2011. E isto era a coisa que eu mais sentia falta, Ela voltou e com ela veio a vontade de retomar minha catagênese e falar de mim e dos deuses.

¹ Venus, não gosta do sofrimento nem do sangue... geralmente ela se afasta nestas horas, assim como Dioniso e Artemis não suportam a morte, ambos se afastam segundos antes dela acontecer...
 

sexta-feira, janeiro 06, 2012

A Distancia é o esquecimento*



*Conselho do Dr. Publius Ovidius Naso em seu livro Remédios do Amor

Embora você se sinta preso por fortes correntes, você precisa ir embora, embarcar em uma longa viagem. Você vai chorar e virá a sua mente o nome da amada e muitas vezes você vai parar no meio do caminho. Mas é preciso que você saiba que deve continuar, manter isto na mente, perseverar e por força nos pés e até correr para alcançar seu objetivo. A chuva e os pedidos para que fiques não devem te retardar, nenhuma festa no sábado, nem despedida dos amigos. Não se atrase nem finja doença para ficar perto de seu objeto de desejo.

Não se pergunte quantos quilômetros deve andar, mas sim, quantos você já percorreu, para distanciar-se do amor. Não conte os dias nem olhe continuamente para trás, esqueça Roma, pois lá tudo te lembra ela, entregue-se a fuga, pois não foge de um inimigo mas sim da dor e da esperança infundada. Embora meu conselho te pareça cruel, eu confesso, são sim severos, mas para curar-se terá que suportar a dor da perda. Muitas vezes doente, eu bebia, embora o suco amargo das uvas ter sido negado a minha mesa quando solicitado. 

Para salvar o seu corpo e espírito e não enlouquecer deve suportar a ferro e fogo, a sede de voltar. Molhe sua boca com água e siga em frente. Para recuperar a saúde em sua mente, você deve suportar tudo. O coração é a parte mais importante de seu corpo, você não viverá com ele despedaçado.

No entanto o inicio desta terapia é o mais difícil, é o período mais amargo, e deve se esforçar para ultrapassar esta fase inicial. Veja como os bezerros novos se incomodam com o Jugo, ou quanto o freio perturba o cavalo novo. Mas breve os bezerros aceitarão o jugo e os cavalos correrão velozes sem se preocupar com o freio. Você pode estar triste ir longe de Roma, mas, no entanto, você vai voltar um dia, a terra vai te trazer de volta. Não deixe que o amor te faça sentir com um covarde e não volte antes de estar curado.

Depois que estiver no caminho, a própria estradas e os campos lhe trarão conforto, novas amigas aparecerão, mas não penses que está curado ou volte antes da hora. A cura é demorada, a distancia e o tempo devagar apagarão a chama de seus sentimentos e as brasas se tornarão cinzas mortas, sem fogo. Quando isto acontecer, divirta-se conheça novas mulheres, apaixone-se crie novos laços, pois Eros é cruel e vingativo e se rebelará em armas, caso você volte com sede e fome, toda a sua ausência terá sido inútil e seu esforço minado.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Aquele Azul


* foto tirada com celular sem filtros nem Photoshop

Às Vezes a Natureza se mostra tão descaradamente linda na sua frente, que se você não fotografar, ela se recente e a beleza se esvai... Dizia eu para a Jane, minha aluna de “Olhar Fotográfico” quando ela comentava que ficou admirada com o numero de elogios que recebeu, por umas fotos de nuvens, que ela fez da janela do seu apartamento.

É admirável, perceber que ensinando nós passamos o conhecimento, mas para fazer isto corretamente precisamos aprender como passar coisas intangíveis. Como explicar aquela luz de fim de tarde, quase noite, em que o céu fica com um azul Royal profundo, e que dura apenas poucos minutos? Precisamos apreender de novo, lembrar quando vimos pela primeira vez esta luz, lembrar de cada sensação e de cada foto que tiramos neste momento. Recordar as emoções que aquele azul te fez sentir. Lembrar o cheiro do azul, do gosto, o som daquela cor e o reflexo daquele azul caído sobre a sua pele. 

É claro, que ela não sentiria aquele azul da mesma forma que eu. Eu conheço este azul há muitos anos, e ela esta conhecendo agora. Eu Fotografava, tinha que esperar terminar o filme, sim, porque você olhava muito mais e só fotografava o melhor, estudávamos o ângulo antes de clicar, passeávamos em torno do assunto, descobríamos a sua plasticidade e só então clicávamos, filmes e revelações eram caros, nós tínhamos que ver a foto revelada, antes de levantar a câmara e ajustarmos o foco, clicava muito menos, mas tirávamos fotos melhores, com o filme terminado, precisávamos terminar a viagem, voltar pra casa, levar o filme no laboratório, esperar alguns dias, para que ficassem prontas, não existia revelação em uma hora. Quando finalmente o envelope com as fotos estava na sua mão é que você via o resultado, se a foto saiu como você queria, era a maior alegria, algo te inundava o coração, tínhamos orgulho da nossa foto.

Hoje, com as câmaras digitais estas coisas todas se perderam... Clicam, clicam e clicam e depois apagam todas que não prestam por isto que as pessoas estão perdendo o Olhar Fotográfico.

E com todas estas facilidades de hoje, estamos perdendo também nossa maneira de sentir outras coisas e trabalhar com nossos sentidos, antes guardávamos telefones na cabeça, hoje nossas memórias estão guardadas no celular... E assim em tantas coisas que vivemos se perdem quando o HD do computador pifa.

Esta dificuldade de passar conhecimento, que falei no principio, começa a ocorrer em todas as áreas, veja que em qualquer estabelecimento comercial a contas, Mesmo as mais simples são feitas com calculadora, nem mais a tabuada ou somas como R$4,25 + R$4,25 ou seja dois maços de cigarros , são feitas nas calculadora, já que as pessoas perderam a capacidade de somar.

Na verdade o que eu queria dizer quando comecei este post é que não olhamos mais para o que a natureza nos mostra e em consequência disso, não olhamos de verdade nem para a pessoa que está ao nosso lado. Estamos nos individualizando cada vez mais, nos preocupando apenas com nós mesmos, e quando vamos ensinar ou explicar algo para alguém, fazemos com o que conhecemos, como se esta fosse uma verdade absoluta. Não nos importa se a pessoa compreendeu ou não. 

E é isto que está se transformando nossas vidas, não vemos mais as outras pessoas como víamos antigamente. Antes as observávamos buscando entender o que ela sentia e pensava. Hoje na maioria das vezes vejo que as pessoas só se importam com o que vêem e sentem, o outro é como uma foto numa câmara digital, se não gostamos de algo os deletamos.
Esquecemos do azul, esquecemos do encantamento, perdemos a paciência de esperar o dia seguir seu curso até que o céu se transforme. Queremos agora, temos pressa para tudo e o mesmo acontece com as pessoas que conhecemos, não temos paciência para esperar que ela se mostre, nem tempo para que o amor aconteça tudo deve vir pronto, instantaneamente.
Assim vamos perdendo o sentido da visão, hoje na paquera, poucos se olham, os rapazes vão agarrando as moças pelo braço e partindo para o beijo, outra vez como numa câmara digital, varias podem dizer não, mas serão tantas tentativas e as maquinas são tão automáticas que alguma foto sairá boa, como alguma garota ou varias aceitarão o beijo, pois o fenômeno não é só masculino, mas sim humano. Todos estamos perdendo nossa humanidade, nossa sensibilidade. Até onde vamos com isto? Sei lá, mas espero que acordemos logo deste sonho tecnológico, que tudo deve ser mais rápido, produtivo e que não podemos perder tempo.
Mas eu ainda gosto de olhar, dar voltas em torno do assunto, observar ângulos e facetas e esperar o momento de gloria da natureza eu prefiro esperar aquele azul, prefiro o encantamento que a pressa.