terça-feira, setembro 25, 2012

Mulheres




É estranho, ando com uma terrível e avassaladora vontade de escrever, porém quando sento em frente ao teclado, só escrevo coisas que não quero escrever agora. Não quero falar de mim, de como estou e me sinto. Creio que não é o momento de falar, muita coisa tem acontecido numa seqüência de dissabores nos últimos dois anos terão que agüentar, pois só serão escritas e publicadas depois que toda a poeira deste vendaval assentar.

Falar do presente não é nada gratificante, afinal o espaço que chamamos de presente é tão liliputiano, que a cada ponto final se transforma em passado. O presente acontece aqui e agora, assim pode mudar a qualquer momento e por isto perde completamente o sentido.

Porém, neste meio tempo, milhões de idéias estão rolando na minha cabeça e estou lendo e relendo muito e me apaixonando por alguns autores que eu não conhecia, como o Amós Oz,  é fascinante ver ele transformando assuntos indigestos em uma literatura palatável e mágica que nos envolve completamente, fazendo inclusive que até nos esqueçamos o quanto “aquilo” não nos agradava.

Segue um texto do Livro “De Amor e Trevas”  com um pequeno comentário meu ao final.

“E aos noventa e três anos, uns três anos após a morte de meu pai, vovô deci­diu que era chegada a hora, pois eu já tinha idade bastante para que ele conver­sasse comigo de homem para homem. Convidou‑me ao seu gabinete, fechou as janelas, trancou a porta com chave, sentou‑se formalmente à sua escrivaninha ordenou­-me me sentasse à sua frente, não me chamou de pirralho, Cruzou as pernas, apoiou o queixo no punho fechado, pensou um pouco e disse:



"Chegou a hora de conversarmos um pouco sobre as mulheres."

E logo esclareceu:

Bem sobre as mulheres, em geral."

(Eu já tinha trinta e seis anos de idade, estava casado havia quinze e era pai de duas filhas adolescentes.)

Meu avô deu um profundo suspiro, uma tossidinha discretamente protegida pela palma da mão, endireitou a gravata, pigarreou duas vezes e disse afinal:

"Bem, a mulher sempre me interessou. Isto é, sempre. Você que não me venha de jeito nenhum entender coisas feias! 0 que eu estou dizendo é algo completamente diferente. Bem, só estou dizendo que a mulher sempre me interessou Não, não a 'questão feminina'! Nada disso, a mulher como pessoa”.

Sorriu e consertou a frase:

"Bem, sempre me interessou em diversos aspectos. Durante toda a vida sempre observei as mulheres. Sempre, mesmo quando era apenas um pequeno tchildak, um molequinho. E daí que, não, não, de jeito nenhum, nunca olhei para uma mulher como um pashkudníak, um cafajeste, nada disso, sempre olhei com todo o respeito. Olhando e aprendendo. Bem, e o que aprendi, é isso que quero ensinar a você agora. Então, preste toda a atenção, é assim:"

Interrompeu‑se e olhou bem para um lado e depois para o outro, como se quisesse se certificar de que realmente estávamos a sós. Sem nenhum ouvido estranho. Só nós dois. Deu uma tossidinha.

"A mulher", disse ele, "bem, em alguns aspectos ela é igualzinha a nós. Como nós, igualzinha. Mas em alguns outros aspectos", continuou, "a mulher é completamente diferente. Nada, nada parecida conosco”.

Aqui ele fez uma pausa e de novo pensou um pouco, talvez evocando lembranças, imagens, a face se iluminou com o seu sorriso infantil, e finalizou assim sua tese:

"Mas é aí que está: em quais aspectos a mulher é exatamente igual a nós e em quais ela é muito diferente de nós? Bem, sobre essa questão", encerrou o assunto e se levantou, "sobre essa questão eu prossigo trabalhando."

Tinha noventa e três anos de idade, e é provável que tenha continuado o seu “trabalho” sobre esta questão até o ultimo dia. Eu também ainda trabalho nessa questão.”

E eu aqui, esperando viver até os 100 anos... solto um UFA!!!!  Tenho muito tempo ainda pra trabalhar esta questão!