quarta-feira, outubro 18, 2006

Desabafo Dionisíaco



Poucos sabem ou compreendem o porque das palavras, que muitas vezes perdem os seus sentidos originais e viajam pela egolatria dos humanos e se transformam em algo que nunca foram.
Palavras são signos, sinais que desesperadamente precisamos compreender, para que possamos realmente conhecer a nós mesmos.
Gênio tem a mesma raiz de Genitalis (o que gera, fecunda) no sentido de Lectus genialis, o leito onde seriam gerados os filhos. Depois, Genialis passou a ser aquele que sacrifica ao seu Gênio, sendo então aquele que se diverte, o alegre, o festivo.Portanto Genial não é aquele “nerd” enfiado em elucubrações e experimentos em busca de um prêmio Nobel. Genial é aquele que vive e deixa sua mente livre para ter novas idéias, o que gera as novidades espontaneamente e que se diverte com isto, com ter idéias únicas, genuínas.
Porém quando influenciados pelos gregos que filosofavam e que faziam questão de afirmar que pensar dava trabalho, que era um ato de poucos e que o genial só poderia vir da lógica, não apenas mataram o gênio, como também acabaram com a poesia e o impulso da arte, pois tanto o poema quanto a obra de arte necessitaram então da métrica e da lógica. Mataram o sonho, a criatividade e todas as coisas que eram geradas em momentos oníricos.
O mundo perdeu a graça e a fantasia, os Deuses que habitavam a Terra se entediaram com a chatice humana, e nem entravam mais no sono dos humanos, pois este sonho iria ser analisado e interpretado por sacerdotes cheios de regras e normas que inseriam lógica no que nascia livremente e com isto amordaçaram aos deuses que não mais falavam com seus filhos.
Tão distantes estavam os deuses que agora precisavam de intermediários e mandamentos escritos e se tornava tão complicado falar aos homens, que não existia mais nenhuma graça em ser deus, pois aguardar os augúrios e os decifradores de sonhos era tão cansativo que dava sono aos deuses. Muitos deles adormeceram e outros foram para lugares distantes e longínquos, onde a racionalidade e a lógica não impedissem o contato com os humanos.
Apenas um, o mais humano dos deuses, não abandonou os homens. Dionisio, através do teatro e da irracionalidade desta arte, não foi submetido às normas apolíneas das artes. Anárquico, ele desafiou desde os reis e imperadores até o período negro da inquisição, levando aos homens a possibilidade de honrar seu gênio e, a partir disso, novas correntes artísticas buscavam a genialidade e a originalidade.
Porém hoje até mesmo ele se esgota em vista da mediocridade reinante, que repete formas e formas pós-modernizando tudo. O último deus também agoniza. E a criatividade e genialidade humana agonizam com ele.
Quando uns poucos como nós se voltam ao paganismo em busca da nossa liberdade de pensar e viver, sempre aparece um moralismo retrógrado que impõe regras e grita do alto da sua boçalidade e ignorância as palavras do velho bordão Cristão e dominador, “LIBERDADE NÃO É LIBERTINAGEM” se esquecendo totalmente do antigo sentido da palavra.
Libertino para os romanos era o escravo liberto, aquele que ganhou a liberdade como um favor, e não por sua luta. Portanto devemos todos inverter esta frase e buscar a verdadeira Liberdade, que é a liberdade obtida não por regras no nosso pensamento. Busquemos a nossa criatividade, a nossa Genialis Genitalis, a Genialidade que nos foi dada desde o Berço, a liberdade de Pensar e Sonhar sem seguir as velhas regras impostas pelas sociedades dominadoras e retrógradas. Vamos despertar os deuses adormecidos e buscar nas matas, montanhas e desertos os antigos deuses que nos abandonaram, pedindo que eles novamente falem conosco, nos inspirem para que recriemos o novo. Então, ao lado de Dionisio, o Pater Líber, finalmente gritemos aos opressores, que sabemos o que é liberdade e que nossa palavra de ordem, daqui por diante, será:
“LIBERTINAGEM NÃO É LIBERDADE”

Um comentário:

Desoriental disse...

Drake, esses seus signos foram inspiradores. Foi interessante perceber como você casou um grande conhecimento etimológico com a liberdade da irracionalidade nas artes e no viver humano.