Sempre temi a solidão e todos que me conhecem um pouco, sabem. Podem não saber a razão, podem não entender o que eu tanto temia, mas sempre souberam que a solidão sempre me deu pavor. Não se trata apenas ficar sozinho, pois por muitas vezes exercitava a solidão viajando, ou ficando trancado no quarto por dias.
O que me apavorava era a solidão compulsória, aquela que você não escolheu e em uma situação da qual você não pode se livrar... Vários fatores me levaram a isto e mesmo odiando estar só, preferi fechar todas as portas e janelas do labirinto e me sentar em meu trono no escuro centro do labirinto, rever minha vida inteira, reconhecer meus erros e não poder voltar no tempo. Portanto, tinha que apreender seguir em frente.
Outra das coisas apavorantes da solidão é não ter ninguém por perto para esconder a minha loucura, sim escondemos nossas loucuras particulares sob mascaras sociais e na solidão esta necessidade se esvai e corremos o risco de enlouquecer irremediavelmente.
Este período em que passei quase que 100% sozinho, causaram uma série de mudanças inclusive fisiológicas, passei a comer quando tinha fome e a dormir quando tinha sono, isto me levou a passar dias comendo apenas uma vez por dia, ter picos de sono de 3 horas ficando muito tempo sem dormir causando alguns estados alterados de consciência e despertando algumas áreas da mente que eu desconhecia, voltaram algumas coisas e maneiras que eu tinha esquecido completamente serem minhas. A intuição foi ampliada passei a perceber coisas que não percebia e meus instintos e sentidos ficaram mais aguçados como se um animal adormecido despertasse depois de longo sono. Fiquei mais sensorial e menos intelectual. Com isto a escrita foi bloqueada e para manter uma aparência de normalidade para os que me conheciam, passei a simplesmente compartilhar mensagens nas redes sociais, ao invés de escrevê-las como sempre fazia. Eventualmente durante a sonolência causada pela falta de sono surgiam algumas idéias e pensamentos que eu anotava de qualquer jeito, e depois eu as editava e publicava, mas isto era raro.
Em muitos dias as únicas palavras que eu dizia era: “Não, obrigado”, quando me perguntavam no mercado se queria o CPF na nota fiscal ou “ dois lucky’s vermelhos” para o dono do bar da esquina. Enquanto caminhava ou andava de bicicleta, coisa que faço todos os dias, geralmente não pensava em nada, preferindo curtir o calor do sol na pele, o vento levando os meus cabelos ou o frio da noite eriçando meus pelos.
Em casa, no meu labirinto por muitas vezes urrei de dor, por muitas vezes me senti esquecido pelo mundo, porque ao invés de seguir a corrente como todos fazem, nadei contra ela em busca dos meus princípios, fui à busca da minha fonte, minha nascente, busquei nos deuses meus arquétipos e os mitos, que nunca me abandonaram, e aprendi com eles. Percebi que cada momento da minha vida que me empurrou a este ponto, um mito me explicava o acontecido. Meus amigos, ou aqueles que eu julgava amigos, não entendiam a minha obsessão pela dor, em me estraçalhar em mil partes para poder depois me reconstruir, para eles era mais fácil mentir que nada havia ocorrido e viver o presente, mas o presente é uma falácia para justificar os próprios erros, enganar a si próprio. È no passado que devemos buscar o futuro, já que o presente é apenas um átimo de tempo, que em segundos já se torna passado.
Estou voltando de uma viagem prevista na apresentação deste blog escrita há oito anos, profeticamente escrita antes de tudo acontecer “Percorrendo os meandros viscerais até o âmago do ser humano, o inferno da mente. E dali retornar um novo ser, sem mais nenhum medo, vencendo as trevas da ignorância".
Volto triste, com uma tristeza absurda por finalmente ver as coisas como elas realmente são, sem véus sem nada que atrapalhe a visão, volto sem esperança e precisando de novos sonhos, mas volto inteiro e renovado.