segunda-feira, dezembro 26, 2011

Infandum Regina iubes renovarem dolorem.



Ordena-me Rainha que renove dores indizíveis.  Assim respondeu Enéas para a Rainha Dido, que lhe pede que conte o fim de Tróia. Sabendo que seria doloroso, ainda assim, Enéas se dispõe a contar, pois sabia que apesar de todas as suas perdas e dor, ele Sabia que não poderia esquecer. Enéas não era apenas uma testemunha, ele participara da defesa de Tróia e viveu seu fim, esquecer, seria acreditar que nada valeu à pena, que não aprendeu com o ocorrido, que muros inexpugnáveis, poderiam cai por astúcia e que um traidor valeria mais que os mil navios carregados de gregos. Aprendera muito com a lição que lhe rasgaram a pele.

Não, o que ele passou não podia ser esquecido, por maior dor que lembrar lhe trazia, ele tinha que contar, pois as dores só existem no passado.  E a Gloria de ter estado na defesa de Tróia, lutado ao lado de tantos guerreiros que caíram ao golpe do destino, não podia ser esquecida.
Ele precisava lembrar, pois mais que a dor o dilacerasse, Tróia nunca poderia ser esquecida e apagada da memória do mundo. Na Cidade de Ilion ele havia feito seu nome como guerreiro, lá criara sua Aretê, sua fama e sua honra. Não importava mais sua dor, pois esta já fora chorada demais e o que contaria era a glória de ter sobrevivido, mesmo estando do lado da morte por tantas vezes. Enéas respirou fundo secou a furtiva lagrima que ameaçava correr por seu rosto e finalmente falou a rainha de Cartago:

Se é de seu gosto, ouvir a nossa tragédia e saber sobre o fim de Tróia, esquecerei toda a dor e a repulsa das lembranças, esquecerei todo o horror que vivi, e farei a sua vontade, contarei tudo o que queria esquecer, pela glória dos que morreram.

É isto que acontece com todos os contadores de história, precisam esquecer suas dores, costurarem seus peitos dilacerados e relembrar com certo distanciamento, tudo o que viveu. Pois só seremos honestos com nossa história, se sufocamos a dor e a raiva e a escrevemos como simples narradores, não esquecendo nenhum detalhe, não mais com dor, nem usando nosso sangue como tinta.

Durante boa parte deste ano, pouco escrevi de novidade aqui nas paredes do Labirinto, reciclei textos antigos e inéditos, pois foi para mim um ano difícil e dolorido, não quis de forma alguma dividir minhas dores, já que eram intimas e faziam parte do meu destino. Agora passadas as lagrimas e com as dores aliviadas, volto a falar sobre do muito que passou pela minha cabeça e de algumas coisas que realmente aconteceram... 

Mas, tenham certeza nunca direi o que é real e o que foi só pensamento, pois quem escuta uma história se importa apenas com a história, a verdade nunca foi enredo.

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