Por vezes, temos que dar um passo
atrás para seguir o caminho, ou pegar estradas tortuosas para chegar onde se
desejava, ainda que pra isto muitas vezes nos perdêssemos em lugares obscuros.
O importante é não perder seus
sonhos ou sua identidade, afinal, quando deixamos de sermos nós mesmos,
abdicamos dos nossos sonhos.
Há 11 anos voltando de uma viagem
ao Mato Grosso, após visitar alguns sítios arqueológicos com pinturas rupestres
e com milhões de minhoquinhas na cabeça, conheci um Padre salesiano, no museu
D. Bosco de Campo Grande, onde está um dos melhores acervos de artes e
instrumentos indígenas e paleameríndios, que já conheci,
este padre tinha interesses parecidos e já tinha rodado toda a região do centro
oeste, em seu trabalho e aproveitou para visitar praticamente todos os sítios
arqueológicos que existiam por lá. Nesta longa conversa, onde debatemos uma
infinidade de conceitos religiosos e antropológicos (adoro gente inteligente)
ele me deixou bem claro que eu apenas estava raspando as camadas superficiais
do que existia no Brasil, de histórias antes da História escrita de nosso país.
E para não prolongar esta conversa com vocês, ele finalizou dizendo que eu
deveria ir para Costa Rica, uma cidade emancipada há pouco tempo que tinha em
seu entorno sítios ainda inexplorados, em que eu acharia algumas preciosidades.
Estava no fim da viagem, precisando
voltar pra casa, pois o trabalho recomeçaria em dois dias, guardei as dicas
para uma viagem futura, quem sabe no próximo ano.
Mas o tempo passou e muito do que eu
pensava em fazer, não importa por que motivo não pode ser feito. Em pouco tempo
minha vida mudou, minha visão sobre a religiosidade ancestral mudou
completamente, pois passei a cultuar junto a natureza e é aí que as forças da
natureza que comumente chamamos de deuses, falam mais forte e muitas das minhas
verdades foram desmoronando, e comecei a ver o universo com outros olhos ao ver
que muito que cultuávamos na terra estava reproduzido nos céus, com as
constelações, planetas e seus mitos. Orion e o Escorpião, nunca estavam juntos
no céu, o Sol para três dias na sua caminhada pelo horizonte nos solstícios e
tantas outras coisas que nunca tinham me passado pela cabeça, ainda que eu me
autointitulasse neopagão.
Mas meu interesse, pelos antigos cultos
nunca deixou de existir e revendo várias das minhas antigas posições sobre
deuses e panteões foram balançadas, pois estes deuses que brotavam na natureza
se repetiam em várias civilizações e muitas vezes mantinham as mesmas
características e muito da iconografia destes deuses também se repetia desde do
paleolítico há mais de 30 mil anos em todos os continentes... Desde que o homem
começou a contar suas histórias fazendo pinturas e gravações nas pedras de suas
cavernas.
Neste meio tempo tive a oportunidade de
conhecer a grande arqueóloga brasileira Niède Guidon, que numa conversa informal,
confirmou uma das minhas suspeitas, a temática das pinturas rupestres, se
repetiam de acordo com a idade delas de maneira muito parecida em três
continentes, o americano, o europeu, e o africano. Ou seja, o homem em sua
evolução repetia temas de outros povos que nem mesmo sabiam existir, numa clara
visão de que o olhar para as forças naturais e universais, fazia parte desta
evolução. Os deuses falavam com os homens de maneira muito parecida, possivelmente
no mundo inteiro, como se deuses e homens caminhassem juntos.
Mais um tempo se passou e finalmente consegui
chegar à região de Costa Rica e Alcinópolis e me surpreender com alguns sítios
Arqueológicos e entender tudo o que aquele padre conversou comigo há 12 anos. E
por mais estranho que possa parecer, não teria adiantado muito ter ido ver
aqueles sítios, já que sem dúvida nenhuma, não iria vê-los com toda a
compreensão que tenho hoje, o que teria sido uma viagem praticamente inútil.
Tudo isto para dizer pra vocês, principalmente
para aquelas pessoas que me seguem a muitos anos, que minha crença no Destino,
é muito bem fundada por coisas que acontecem na minha própria vida. Ter
retomado algo que cortei há muitos anos é uma prova que eu precisava ganhar
conhecimento para descobrir muito sobre mim mesmo, sobre o que acredito e
sonho. Posso tranquilamente agora parar de dar voltas sobre voltas no meu
Labirinto, e finalmente voltar a escrever...