sexta-feira, março 07, 2014

Retornando ao ponto onde interrompi a jornada.


Por vezes, temos que dar um passo atrás para seguir o caminho, ou pegar estradas tortuosas para chegar onde se desejava, ainda que pra isto muitas vezes nos perdêssemos em lugares obscuros.
O importante é não perder seus sonhos ou sua identidade, afinal, quando deixamos de sermos nós mesmos, abdicamos dos nossos sonhos.
Há 11 anos voltando de uma viagem ao Mato Grosso, após visitar alguns sítios arqueológicos com pinturas rupestres e com milhões de minhoquinhas na cabeça, conheci um Padre salesiano, no museu D. Bosco de Campo Grande, onde está um dos melhores acervos de artes e instrumentos indígenas e paleameríndios, que já conheci, este padre tinha interesses parecidos e já tinha rodado toda a região do centro oeste, em seu trabalho e aproveitou para visitar praticamente todos os sítios arqueológicos que existiam por lá. Nesta longa conversa, onde debatemos uma infinidade de conceitos religiosos e antropológicos (adoro gente inteligente) ele me deixou bem claro que eu apenas estava raspando as camadas superficiais do que existia no Brasil, de histórias antes da História escrita de nosso país. E para não prolongar esta conversa com vocês, ele finalizou dizendo que eu deveria ir para Costa Rica, uma cidade emancipada há pouco tempo que tinha em seu entorno sítios ainda inexplorados, em que eu acharia algumas preciosidades.
Estava no fim da viagem, precisando voltar pra casa, pois o trabalho recomeçaria em dois dias, guardei as dicas para uma viagem futura, quem sabe no próximo ano.
Mas o tempo passou e muito do que eu pensava em fazer, não importa por que motivo não pode ser feito. Em pouco tempo minha vida mudou, minha visão sobre a religiosidade ancestral mudou completamente, pois passei a cultuar junto a natureza e é aí que as forças da natureza que comumente chamamos de deuses, falam mais forte e muitas das minhas verdades foram desmoronando, e comecei a ver o universo com outros olhos ao ver que muito que cultuávamos na terra estava reproduzido nos céus, com as constelações, planetas e seus mitos. Orion e o Escorpião, nunca estavam juntos no céu, o Sol para três dias na sua caminhada pelo horizonte nos solstícios e tantas outras coisas que nunca tinham me passado pela cabeça, ainda que eu me autointitulasse neopagão.
Mas meu interesse, pelos antigos cultos nunca deixou de existir e revendo várias das minhas antigas posições sobre deuses e panteões foram balançadas, pois estes deuses que brotavam na natureza se repetiam em várias civilizações e muitas vezes mantinham as mesmas características e muito da iconografia destes deuses também se repetia desde do paleolítico há mais de 30 mil anos em todos os continentes... Desde que o homem começou a contar suas histórias fazendo pinturas e gravações nas pedras de suas cavernas.
Neste meio tempo tive a oportunidade de conhecer a grande arqueóloga brasileira Niède Guidon, que numa conversa informal, confirmou uma das minhas suspeitas, a temática das pinturas rupestres, se repetiam de acordo com a idade delas de maneira muito parecida em três continentes, o americano, o europeu, e o africano. Ou seja, o homem em sua evolução repetia temas de outros povos que nem mesmo sabiam existir, numa clara visão de que o olhar para as forças naturais e universais, fazia parte desta evolução. Os deuses falavam com os homens de maneira muito parecida, possivelmente no mundo inteiro, como se deuses e homens caminhassem juntos.
Mais um tempo se passou e finalmente consegui chegar à região de Costa Rica e Alcinópolis e me surpreender com alguns sítios Arqueológicos e entender tudo o que aquele padre conversou comigo há 12 anos. E por mais estranho que possa parecer, não teria adiantado muito ter ido ver aqueles sítios, já que sem dúvida nenhuma, não iria vê-los com toda a compreensão que tenho hoje, o que teria sido uma viagem praticamente inútil.

Tudo isto para dizer pra vocês, principalmente para aquelas pessoas que me seguem a muitos anos, que minha crença no Destino, é muito bem fundada por coisas que acontecem na minha própria vida. Ter retomado algo que cortei há muitos anos é uma prova que eu precisava ganhar conhecimento para descobrir muito sobre mim mesmo, sobre o que acredito e sonho. Posso tranquilamente agora parar de dar voltas sobre voltas no meu Labirinto, e finalmente voltar a escrever...

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