Percorrendo os meandros viscerais até o âmago do ser humano, o inferno da mente. E dali retornar um novo ser, sem mais nenhum medo, vencendo as trevas da ignorância.
terça-feira, setembro 13, 2005
Pesos e Medidas
“O corpo, devido ao peso, tende para o lugar que lhe é próprio, porque o peso não só tende para baixo, mas também para o lugar que lhe é próprio. Assim o fogo encaminha-se para cima, e a pedra para baixo. O azeite derramado sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste: movem-se segundo o seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que não estão no próprio lugar agitam-se, mas quando o encontram, ordenam-se e repousam.
O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva.”( Sto. Agostinho- Confissões)
É incrível, mas limitados como somos. Nós humanos, nos julgamos capazes de dar pesos e medidas para coisas tão sagradas quanto o amor. Em jogos românticos, ficamos dizendo e abrindo os braços, tentando dar medida ao nosso amor que muitas vezes naqueles momentos é maior que todo o universo.
Discutimos e apontamos o dedo dizendo ao companheiro/a; que nós o amamos muito mais que este nos amou, ou que nunca ele/a nos amou de verdade.
Medimos o amor segundo os nossos conceitos, e dificilmente tentamos sentir com a experiência do outro, usamos nosso referencial e esquecemos que falamos de outra pessoas, que viveu uma outra vida, geralmente muito diferente da nossa.
Estas desmedidas medidas que muitas vezes usamos, nos afasta de quem amamos, pois quando medimos ou damos pesos para sentimentos, esquecemos que estes são coisas impalpáveis e que portanto não podem ser quantificados por nossa limitada mente.
Podemos apenas falar de nós mesmos e até porque o amor é confiança, e se não confiamos no amor do outro de certa forma é porque duvidamos do nosso próprio querer.
Relembrado neste fim de semana sobre um livro do Jean Paul Sartre, O Ser e O Nada, onde vemos que a razão de ciúmes e desconfianças sobre os amores passados vemos que ocorre é porque enquanto o ser amado, amava no passado, para ele não existíamos, e quando passamos a existir não aceitamos que outros sentimentos e outras pessoas já haviam feito aquele a que amamos sentir emoções que hoje queríamos que fossem todas as emoções e sentimentos fossem todos a nós devotados. Esquecendo que cada amor é único, e que cada sentimento, beijo e sonho é novo, é portanto maior e mais forte do que aqueles do passado.
Aí então pensamos que nossa dor é única e que por não sermos compreendidos e consolados o amor não existe, quando inocentemente aquele que nos ama por nenhum momento acredita que nosso ciúme tenha fundamento, o que só faz a dor aumentar.
Não percebemos em nossa dor, que com o nosso sofrimento causamos dor naquele que só queríamos dar felicidade, mas machucados e doloridos só olhamos para nós mesmos e sentindo pena pela nossa dor nunca imaginamos o quanto isto causa de dor no outro.
Assim, como o amor existe para trazer alegria e prazer, a dor só consegue matar o amor, as vezes devagar com muito sofrimento ou se encontramos alguém que mesmo ferido, não perdeu as esperanças da felicidade, que se vai nos deixando com a nossa dor e sai carregando as suas, já que é um sobrevivente e sabe que que a dor não mata e que um dia acaba.
"Notícia de Jornal"
Luís Reis e Haroldo Barbosa
"Tentou contra a existência
no humilde barracão
Joana de tal,
por causa de um tal João
Depois de medicada,
retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe,
ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma
mulata triste que errou
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou
Na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal."
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4 comentários:
Um bruxo leve e romântico....cara, eu não poderia deixar de fazer um comentário, legal!
é tão dificil ser perfeito no amor.
não se deixar levar por esses sentimentos. não machucar ao ser machucado.
mas. corretíssima teu post.
abs
Realmente você escreve muito bem o que sente. Consegue transmitir em palavras escritas sentimentos intensos que não temos coragem as vezes nem de confessar a nós mesmos.Acho que nem devo comentar mais porque vc já disse tudo. Parece que estamos maduros quando aceitamos que o outro tenha vivido antes de nós. E não misturemos as relações.
Ah !!!
Como gosto dessa música...
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