sexta-feira, novembro 11, 2005

Para minha Deusa




Quando te perdi, me esqueci dos deuses e o universo deixou de ter sentido. Penetrei num mundo amorfo envolto em brumas, e não reconhecia nem mesmo os sendeiros do meu próprio labirinto. Tateava pelas paredes buscando os caminhos para o centro que não mais existia, repetia de olhos fechados a dança do grou, que antes sempre me levava de volta ao meu trono, mas o que agora conseguia era apenas me estatelar pelas paredes de pedra, que mudaram todas de lugar.
Não reconhecendo minha casa, não me conhecia mais. Perdendo-te, perdi também a mim mesmo, perdi rumo e vontade, e sem mais referencias parei de reagir e caminhando sem os deuses na nevoa percebi, que você, que eu acreditava ser o meu derradeiro amor, era na verdade o primeiro, o único amor que tive, numa vida que julgava plena de amores.
Aí descobrindo o amor, depois que te perdi, acabei me redescobrindo. Percebi em mim as dores humanas e parte da minha humanidade perdida, e aí como homem reconheci meus erros. E embora sendo tarde demais, busquei você.
Ao te reencontrar vi nos seus olhos as escuras fontes de onde brotam as águas potáveis e límpidas, nascentes de toda a vida, e neles ainda existiam amor e não mais me importavam suas palavras, pois o seu olhar não conseguiu mentir pra mim, o nosso amor ainda era vivo e forte, e os deuses que eu havia abandonado, um a um voltavam a se aproximar.
Eros este pequeno demônio, filho da beleza e da guerra, que para Platão era filho da necessidade e penúria, pois era o ultimo dos sentimentos a abandonar aos homens, foi o primeiro a voltar e antes mesmo que eu recobrasse o juízo, arrancou meu coração do peito. Athena, que simboliza a razão, endureceu seu coração, para que os sentimentos ali não penetrassem, e você atendesse aos meus apelos. Hera que não admite rompimentos, me deu de presente a loucura, que tal qual a Dionísio, me dava gana de devorar a Terra, percorrendo as estradas sem destino para fugir da suas palavras e atitudes racionais. Por muito pouco não me perdi, pois, pouco conhecia do mundo que cerca o meu labirinto onde sempre fui o rei e o senhor.
Assim vazio e louco, tudo que eu queria era apagar minhas lembranças e esquecer você, mas fazendo isto, eu estaria negando a mim mesmo, e tudo de bom que existiu entre nós. E ao me negar, mataria aquele que me transformei ao te conhecer. Mas melhor a morte do ego, que a dor de viver sem você.
Planos feitos, durante minha insanidade, a minha vingança seria que você também me perderia, pois jamais eu voltaria a ser quem eu era.
Foi quando chegou Afrodite, que ao invés de suas bênçãos, me ofereceu a dor, pois me chamou a razão, como imaginar uma vida sem seus beijos, como imaginar o nunca mais? Nunca mais seu cheiro, nunca mais seu calor, nunca mais sua voz seus carinhos, e sua presença. Com isto a Deusa de Chipre, me despertou, pois muito pior que perder você seria nunca mais te ver.
Fui voltando da loucura lentamente, e me perguntando, o que havia acontecido conosco ? afinal, você já tinha me despertado a atenção na primeira vez que nos vimos, anos antes de nos conhecermos, de você se declarar minha pretendente e de nos conhecermos numa noite inteira de beijos. E mais de um ano de uma vida plena a dois.
Aconteceu, que eu me julgava um Deus capaz de controlar todas as minhas emoções, deixando minha lua em câncer, abandonada num canto qualquer. Sentir amor, sempre senti, sempre te amei, mas não o explicitava com as palavras que tanto te faziam falta. Meus atos duros e secos, não eram contra você, mas contra meus erros passados, e para nós, eu queria tudo diferente do que havia sido, e por querer diferente errei, e acabei sendo quem nunca fui, eu mesmo inteiro na relação, e isto me amedrontou, e com medo de tudo que sentia fugi de você.
Afrodite desvelou-se, e mostrou sua face negra, quando a beleza e o amor são instrumentos de tortura e assim, após perder você, perdi o medo de te amar, perdi também meu orgulho e minha força, e me mostrei humilde e fraco. E sem rédeas desembestei como um potro nascido livre a lhe dizer o que sentia e tudo aquilo que havia calado, falei de amores planos e de todas as loucuras que o amor nos leva a dizer.
Com isto descobri que nunca havia te perdido, a verdade é que me perdi de mim mesmo. E agora vejo que é impossível controlar o tempo, e que os erros do passado, só podem ser consertados no futuro e pergunto a você minha deusa:
Vamos recomeçar ? Você quer namorar comigo ?



SUPERHOMEM - A CANÇÃO

Gilberto Gil


Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter

Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver

Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh, mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe
O Superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher

4 comentários:

Anônimo disse...

Que coisa mais linda! Espero que estas palavras inspiradas por todos os Deuses tenham tocado fundo o coração de sua Deusa amada...

Anônimo disse...

Bem... ;-)
Pra variar um pouco, quase sem palavras, nem deixei-as qdo passei aqui pela primeira vez, deixo hoje apenas as bênçãos d'Ela e a afirmativa de que o caminho se completa.
Beijos

Anônimo disse...

Concertados com `c` ????
Melhor "consertar", ficou muito feio....

Cezar Drake disse...

Pois é ... quando envolvemos sentimentos muitas vezes nos perdemos na razão e na métrica.
mas obrigado pela correçao, já mudei.