sexta-feira, novembro 11, 2005

Azuis



Pablo Neruda

Traduções de Ari Roitman e Paulina Wacht

POEMA 15

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,

e me ouves de longe, e minha voz não te toca.

Parece que teus olhos houvessem saltado

e parece que um beijo fechara a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias de minh'alma

emerges das coisas cheia de alma, a minha.

Borboleta de sonho, tu pareces com minh'alma,

como pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.

E estás como a queixar-te, borboleta em arrulho.

E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:

permite que eu me cale com teu silêncio agudo.

Permite que eu te fale também com o teu silêncio

claro como uma lâmpada e simples como um elo.

Tu és como a noite, calada e constelada.

Teu silêncio é de estrela, afastado e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.

Distante e dolorosa como se estivesses morta.

Uma palavra, então, um sorriso são o bastante.

E fico alegre, alegre porque a verdade é outra.

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