segunda-feira, junho 26, 2006

O Tributo.



Sempre que volto de uma caminhada na mata, é hora de contabilizar o quanto paguei pelo passeio em pele, sangue e suor, os arranhões e esfolados, pois creio que sempre volto com alguns e deixei na natureza no mínimo umas gotículas de sangue como pagamento pelo o quanto me renovo e pelo oxigênio que usei na minha caminhada.
Já me acostumei, e por mais que me paramente com botas e tecidos grossos, o tributo sempre é pago, tanto que como sei que a mãe terra vai cobrar sua parte, nem mais me preocupo com proteção e entro nas trilhas de bermuda, afinal é sempre melhor que os arranhões ocorram nas pernas que no rosto. Pois, se me cubro todo, um galho ou espinho acaba me cortando na face.
Assim, como a experiência me ensinou que o tributo deve ser pago, o melhor é incluir uma caixinha de primeiros socorros na mochila, com antisséptico e vários tamanhos de curativos Band-aid, pois como não é possível prevenir, o melhor é remediar, ao contrario do que diz o dito popular.
Ultimamente, cuidando do sítio, tenho apreendido um pouco mais sobre os diversos tributos que acabamos pagando à Gaia: calos nas mãos criados por enxada, enxadão, machado e pás; dores em músculos que nem sabíamos a existência; e é claro os inevitáveis cortes e arranhões e litros de suor derramados na “lida” com a terra. Isto tem me ensinado muito, tenho visto cada vez mais que para tirarmos algo da terra temos que deixar um pouco de nós para ela, a mãe não dá nem tira nada de graça, e nunca é uma questão de ganhar ou perder, ser derrotado ou vencer, mas sim uma troca honesta e justa. É assim que devemos compreender o mundo se pensamos em ser pagãos. A Mãe nos dá ou tira, depende do que estamos dando a ela, assim como o nosso mundo e nossa vida são sempre uma troca. Se alimentarmos nossa vida e aquelas que nos rodeiam, se dermos amor, suor (sim, amor e suor estão juntos, dá trabalho amar de verdade) conhecimento e compreensão, vamos tornar nossa vida mais agradável e vamos receber do mundo o que estamos dando. E com relação à Terra, o nosso planeta, é a mesma coisa. Se trabalharmos nela e cuidamos da sua biodiversidade, vamos receber seus melhores frutos. Porém quando a envenenamos com agrotóxicos, não matamos apenas suas pragas, mas também minhocas e microrganismos que renovam a vida da terra.
Quando tiramos o homem da terra e o substituímos por tratores e grandes máquinas, além de ferirmos nossa mãe mais profundamente que o necessário, também tiramos um pouco da sacralidade da terra e nos perdemos das nossas raízes.
É claro que a grande lavoura é necessária, são bilhões de pessoas que devem ser alimentadas, mas quando criamos grandes fazendas automatizadas, tiramos o homem da terra e aprofundamos as disparidades de renda e chegamos a paradoxos como o que vivemos hoje: a obesidade fazendo tantas vitimas quanto a fome, e os alimentos chegando às nossas mesas envenenados com substâncias nocivas a nossa saúde.
Precisamos lembrar que temos o Universo como Pai e a Terra como Mãe, e precisamos estar mais em contato com eles, conhecê-los e compreendê-los melhor para restaurarmos o nosso equilíbrio, pois alguns milênios de práticas voltadas apenas aos deuses universais transcendentes afastaram-nos do contato com Gaia, nossa mãe imanente. Com isto nos perdemos de nós mesmos, nos soltamos das nossas raízes e nos afastamos do solo, desrespeitando não apenas a nossa natureza humana mas também toda a natureza que nos cerca.
O ser humano há muito tempo tem feito o possível para se excluir da natureza, considerando-se superior a todos os outros seres vivos, e por esta pretensa superioridade busca dominar a natureza ao invés de trabalhar em parceria com esta, e fazendo isto aliado a religiões que reafirmam este como o centro da criação e prometendo uma nova vida imaterial e celestial para seus crentes, contribuem para que percamos a nossa identificação com nosso planeta.
Quando penso em paganismo, imagino que nele está a melhor maneira de voltarmos a perceber a sacralidade da terra e da natureza, e não em magia ou bruxaria. O paganismo é nossa volta a natureza, onde percebemos que o sagrado está nas coisas simples como o ver uma semente brotar e florescer. Mas para que isto aconteça devemos pagar o tributo em tempo, suor e sangue.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu amigo...
Tomei a liberdade de pegar esse seu texto e mandar para uma lista de amigos da minha cidade, no intuito de desde já divulgar seu livro, avisando que estará aqui para divulga-lo...Esse é só um começo, pois sei que ainda não está pronto, mas quero muito levar suas idéias, sua visão à todos...
Abençoado sejas pelos Srs.
Beijos
Obs: Claro que coloquei sei nome na colagem...rsrsrs