sexta-feira, agosto 18, 2006

ANTÍGONA/ZUZU



Filha do incesto de Édipo com a sua própria mãe Jocasta. Quando Édipo, inteirado dos seus crimes pelo oráculo de Tirésias, se privou da vista e se exilou de Tebas, partindo como cego a mendigar o pão pelos caminhos, Antigona foi a sua companhia. O caminho que seguiram levou‑os até Colono, na Ática, onde Édipo morreu. Após a morte de seu pai, Antigona regressou a Tebas, onde viveu com a sua irmã Ismene. Aguardava‑a aí uma nova provação. Na Guerra dos Sete Chefes contra Tebas, os seus dois irmãos, Etéocles e Polinices, encontravam‑se em campos opostos: o primeiro, no exército tebano; o segundo, do lado inimigo, atacando a sua própria pátria. Quando a batalha se deu, frente às portas de Tebas, Etéocles e Polinices morreram ambos às mãos um do outro. Creonte, o rei, tio de Polinices e de Etéocles e das duas jovens, organizou funerais solenes para Etéocles, mas proibiu que se desse sepultura a Polinices, que conduzira estrangeiros contra a sua pátria. Antígona recusou‑se a cumprir esta ordem. Considerando um dever sagrado, imposto pelos deuses, dar sepultura aos mortos e, sobretudo, aos parentes mais próximos, infringiu a ordem de Creonte e espalhou sobre o cadáver de Polinices uma mão‑cheia de pó, gesto ritual suficiente para o cumprimento da obrigação religiosa. Por este ato de piedade, ela foi condenada à morte por Creonte e encerrada viva no túmulo dos Labdácidas, de quem descendia. Enforcou‑se aí e Hémon, seu noivo e filho de Creonte, matou‑se sobre o seu cadáver.

Zuzu Angel, estilista de Moda, chamada de alienada por seu filho Stuart Angel, se transformou quando este foi morto pela ditadura militar aqui no Brasil, de socialite que criava vestidos para as mulheres dos generais, não se conformou com o desaparecimento do seu filho e iniciou uma guerra contra a ditadura pelo direito de enterrar seu filho. Uma guerra solitária e com poucos aliados, já que a esquerda tradicional deve ter achado futilidade uma alienada, que costurava para as mulheres de generais, querer enterrar o filho.


Zuzu lutava pelo direito de enterrar seu filho que ela sabia estar morto e reivindicava “o sagrado direito de uma mãe de fazer o funeral de seu filho”. Usando estampas com silhuetas bélicas, pássaros engaiolados e balas de canhão disparadas contra anjos. O anjo tornou-se o símbolo de Tuti, o filho desaparecido - caracterizando suas coleções de moda: anjos amordaçados, meninos aprisionados, sol atrás das grades, jeeps e quépis.
Soube tirar proveito de sua fama, para envolver, a favor da sua causa, inúmeros clientes e amigos importantes: Joan Crawford, Kim Novak, Veruska, Liza Minelli, Jean Shrimpton, Margot Fontein, Henry Kissinger, Ted Kennedy, entre outros. Dizia sempre: "Eu não tenho coragem, coragem tinha meu filho. Eu tenho legitimidade".
Seu lamento e direito incomodava as autoridades, tanto que o acidente de automóvel em que veio a morrer foi bastante estranho, não ficando claro até hoje as circunstâncias dessa tragédia. Há testemunhas que afirmam que havia um jipe do Exército, logo após o acidente, na saída do túnel Dois Irmãos.Ela própria denunciou seu fim: "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho".

Estas sagas que podem ser vistas nos livros, teatro e cinema ( a Tragédia Grega Antígona e o Filme Zuzu Angel, em cartaz nos cinemas) nos mostram pontos de similaridade entre a Antiguidade e o Contemporâneo, pois mostram a revolta de duas mulheres contra as leis da sociedade em contrapartida das leis divinas e da natureza. É claro que não são apenas estas duas mulheres em épocas tão distintas que nos mostram a importância das leis divinas, as Mães da praça de Maio, chamadas pela ditadura Argentina de “las locas”, também fizeram isto, tanto pelos corpos de seus filhos quanto pela volta dos seus netos, outra lei da natureza, o direito do sangue.
Hoje nas pequenas notas dos jornais vemos um grupo de mães no Rio de Janeiro que gritam por seus filhos seqüestrados, pelo trafego ou pela policia, e que estão desaparecidos. Em todo mundo entes queridos são jogados nas valas comuns de cemitérios clandestinos, em florestas e descampados privados do sagrado direito de terem um funeral. Porém isto não causa comoção da mídia, que precisa do horror dos corpos estraçalhados nas guerras sujas. Os desaparecidos não tem fotos agonizando nem corpos físicos a serem fotografados, portanto, não são noticias.

Desde a pré-história quando o homem começou a criar sociedades, que as leis tem o intuito de controlar e regular as sociedades, e geralmente estas leis sempre favorecem as classes dominantes, aquelas que detém o poder, os ricos, os governantes e o clero em detrimento às classes menos favorecidas. Alem das Leis as sociedades se utilizam da religião para o controle das populações. Dogmas religiosos criam leis que se interpõe as leis divinas, num flagrante desrespeito a natureza humana.


O ser humano é parte da natureza e portanto deveria seguir suas regras, mas no entanto, as religiões e filosofias criadas pelas elites, coloca o Humano como ápice da criação e portanto com direitos sobre todo o restante da vida no planeta. Isto acaba dando o direito de humanos se considerarem melhores que outros humanos, criando um sistema de classes sociais e castas que nos dizem que alguns homens têm o direito de subjugar outros, criando a escravidão e a inferioridade feminina.

Mas no entanto o que vemos é que são mulheres que se revoltam quando as leis divinas são quebradas, possivelmente por ter ciclos e regras o feminino, tem uma ligação maior com a natureza, e certamente por isto é que buscam fazer com que as leis naturais sejam obedecidas.

Antígona, a filha de um Rei, morre pelo direito de dar sepultura ao irmão, de cobrir seu corpo com terra, para que este volte ao seio da Mãe, ao invés de sua alma vagar sem rumo sobre a superfície da terra.
Zuzu Angel, luta pelo direito de dar um funeral para seu amado filho e também morre por isto. Mesmo as leis humanas são quebradas quando o interesse dos poderosos são atingidos, afinal não existe em nosso país a Pena de Morte, portanto nem mesmo os agentes do governo ou suas forças amadas tem o direito de condenar alguém a morte, porém tanto Stuart quanto sua mãe, foram condenados a morte sem direito a um julgamento e a defesa, coisa que a constituição brasileira garante. Mas que quando se trata de pobres ou de “inimigos” dos poderosos, é completamente esquecida.


A igualdade, a liberdade, o direito a alimentação, o respeito aos mais fracos e aos idosos e mais uma serie de coisas são direitos naturais do ser humano e portanto não podem ser suprimidos pelas leis humanas, e nós que buscamos no paganismo uma volta dos valores essenciais e naturais, não podemos ficar indiferentes as injustiças cometidas em nome das leis e da ordem, pois estas aviltam a condição humana e são manipulados pelos poderosos.

Fiquemos então com as palavras de Antígona (narradas por Sófocles) ao responder Creonte quando indagada por que cometera o crime de ir contra o Decreto Real.


- “Desobedeci, porque não se tratava de uma determinação de Zeus. Nem a Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas, jamais estabeleceu tal decreto para os homens. Não creio, por isso, que teu decreto tenha tal força determinante, que seja capaz de permitir a qualquer mortal desdenhar o código dos deuses, imutável e não escrito, que não é de hoje nem de ontem, mas que existe desde toda a eternidade, originário ninguém sabe de onde, cujas sanções seria temeridade minha desafiar aos olhos do céu, por temor à vontade de algum homem.....Eu sei que vou morrer, eu sei que isso é inevitável, mas eu morreria de qualquer forma, mesmo sem a tua decisão.Morrer antes da hora, devo dizer-te, não deixa de ser uma vantagem para mim.O que perde com a morte quem vive em meio à desgraça? Portanto, a sorte que me reservas é um mal que não preciso levar em conta. Muito mais grave para mim seria permitir que o filho de minha mãe jazesse sem sepultura.Tudo o mais me é indiferente.Se te parece que cometi uma loucura, devo dizer-te que talvez mais louco seja quem me acusa”.

2 comentários:

Anônimo disse...

sem comentários................excelente texto.....espero conseguir escrever assim um dia.

Anônimo disse...

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