terça-feira, novembro 14, 2006

Tláloc




A "Tú mujer": Lupita Ríos
A los amantes puros y ciegos;
para ellos que son la alegría,
antes de las puertas de sombra


Arturo Jiménez
Tradução: Luciana Onofre

Canto da pradaria
Frio da montanha
O Deus tresloucado e voraz
Água que cai
Severa e sobre-humana
Sobre a virgem úmida
Nua
Essa moça seria
Como as estrelas plenas
De sinais;
Seu corpo conta o segredo
Do instante em que as coisa tornam-se perfeitas

Fala a Deusa e o Deus
Pela nossa boca
Como falas-te na voz dos nossos ancestrais
Os venerareis Mestres
Quando puseste a Luz
a orientação
A cor, a harmonia em suas antigas bocas

Aqui trago o louro
O Cogumelo Sagrado para o Divino Batráquio de insolentes olhos
O da boca da Amanita
A olherosa Muscaria, aqui se anuncia
Apresenta-se o duplo Divino o Dionisio
O Hunanpú, o Ixbalam

O duas vezes morto
O duas vezes nascido
O Sapo das musicais águas
O Divino Tláloc
O de língua envenenada
Aqui a noite, o cardo
O Cogumelo de rubras cores
Aqui te clamo, te nomeio

Deusa e Deus
Sob a redonda luz do peyote iluminado
Da noite ancestral
A Noite dos séculos transmutados
Diante da esférica luz de um espelho
de Cantos insondáveis
Cantos de solidão e distancias
Escuta minha voz
Toca meu rosto com tua mão de noturna viajante
Senhora da voz inerte
A meio caminho entre o amor e a morte
Sou teu servo
O que canta na penumbra dos frios presságios
Pleno de parábolas
Um abutre harmoniza círculos nos desfiladeiros
Nos abismos dos cervos e pó
Onde bordas transparentes fantasiam contornos de homens
Nas espirais que caem como a morte no seu bico

Ou a granada aberta em sua garra
De um Deus que cai idades acumulando
Em um instante poliédrico de sensuais presídios
Do olho saturado em maravilhas do tato
Onde canta o Cogumelo giratório sua madressilva cinza

E o horizonte empurra os volantes orifícios
quando chega a serpente voadora com as esporas azuis
E o verde pássaro de harmonizado pólen sob a pulsação
delirante
Assim veio a doce besta cheia de sinais na pedra

Atirando os tuberosos na água do pó
Até que os signos se tornaram redemoinhos
E a ascensão da pedra levantou a palavra
Em um motim de plumas enlouquecidas
Sobre a virgem manhã
Assim cantam os peixes em harmonias esféricas

Na água que sussurra angustias e aromas de solidão,
Quando os girassóis acendem as cadencias da água
Nos esgares divinos do Sapo
E nas selvas azuis das cigarras talhando demências
Porque quando a terra repousa nos caminhos

Foge de par em par a velha garra
Como se um Deus líquido jorrara sangue dos
Sedimentos pétreos
A ponto de soltar na inocência da água
O vértigo da luz violenta
O aroma da cópula arcaica
Entre os braços amantes da água e da terra

Como a névoa, como suave voz
Como a orquídea perfumada pelo vento marinho,
Coberta de verdes plumas, azuis e amarelas,
Estava o Grande Senhor, a Grande Senhora;

De sábios era sua natureza.
De canteiros e talhadores,
De escultores
No tempo do tempo,
No ar dos aromas rupestres,
A ansiedade da luz,
O pólen trovador de iluminados beijos
De um sol enamorado
Litúrgico e brutal;

Oh! Doce moça de encantos solares
Irmã das insondáveis águas,
Hoje
Sob as musicais sombras do milho,
A Lua cresce como um presságio novo em tua cintura...
Mulher,
Mulher que vens dos profundos sons,
Um vento de pássaros azuis se levanta
Como uma coroa de plumas sobre tua cabeça,
Mulher de barro úmido e rubro
Não és o pó que girava sobre as distantes nuvens?
A água transparente por trás do relâmpago?

Antes que você chegasse
O ar estava oco como um cântaro de espumas
E miragens
E entre a névoa sem forma
Como um peixe cego, obscuro, te aguardava,
Quem era?
Quem sou?
Um cataclismo de Sombras,
Uma ansiedade sem nome...
Irmã das águas insondáveis e das gêmeas angustias
Irmã com assas de cera,
Cúmplice dos odores marinhos
Gêmea das assas luminosas nas sombras da noite ancestral
Senhora amanhecida de suaves luzes.
Luzes lentas amigas,
Inimiga do abraço mortal,
Cintura que se levanta no âmbar rude da meia-noite,
Da foice luminosa
Oh! Deusa do sorriso muda

Esta é minha voz
Esta é minha lira, meu atabaque sonoro
Meu violão de obstinados acordes
Minha voz, meu canto,
Minha dança calada no influxo
Átono da beleza...

Oh, rosto de tremores incertos
Dos cabelos arrepiados
Sob tua mão congelada e pura,
Dançarei suavemente em altas horas,
Ali onde começa a morte
Onde começa o amor
A música,
Até que a adaga da magia,
Tua voraz cintura de mênade
Amorosa e brutal,
O beijo prazeroso do louro silencioso
A Amanita de pálida neve
A língua do Divino Batráquio
A doce flor dos sonhos do deserto
Ate que a Serpente Emplumada me acorde

Com sua luz cálida e dourada
Da magia do Canto, do Amor e da Noite.

Um comentário:

Luciana Onofre disse...

Quanta honra...
Traduzir é um dos prazeres que usufrúo até a última gota.
E o Sr. nem me disse que estava aqui!