sexta-feira, abril 27, 2012

ÍTACA





Quando partir rumo a Ítaca, peça que a estrada seja longa,
repleta de aventuras e descobertas.
Não tema os lestriões, os cíclopes,
e nem o irado Poseidón. Você não encontrará tais seres 
em seu caminho enquanto mantiver o pensamento elevado
e uma rara emoção dominar o seu corpo e espírito.
Não encontrará lestriões, cíclopes
e nem o feroz Poseidón, se não os levar em sua alma, 
se a sua alma não os puser em seu caminho.

Peça que a rota seja longa.
Que sejam muitas as manhãs de verão 
Nas quais, com que prazer, que alegria, 
Chegará em portos onde nunca esteve: 
detenha-se nos mercados fenícios
E adquira belas mercadorias,
madrepérola, coral, âmbar e ébano,
voluptuosos e variados perfumes,
tantos perfumes voluptuosos quanto puder;
visite muitas cidades egípcias
e aprenda avidamente com os sábios.

Tenha sempre Ítaca na memória.
Chegar lá é a sua meta.
Mas não apresse a viagem.
Melhor que se estenda durante anos
e que você chegue já velho à ilha,
rico de tudo o que ganhou pelo caminho, 
sem esperar que Ítaca o enriqueça.

Ítaca já o presenteou com a bela viagem. 
Sem ela, você não teria partido.
Nada mais, porém, pode lhe dar.
E mesmo que a encontre pobre,
Ítaca não o terá enganado.
Sábio e experiente como se tornou, 
Você a essa altura já terá compreendido 
o que significa Ítaca.

(por Constantine P. Cavafy, 1911)

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