segunda-feira, outubro 08, 2012

VISTA DA LUA: UMA NOVA IMAGEM DO HOMEM Archibald MacLeish





            A CONCEPÇÃO que o homem tem de si próprio e de seus semelhantes sempre dependeu da ideia que ele fazia da Terra. Quando a Terra era o Mundo – o tudo todo que existia – e as estrelas eram luzes do céu de Dante, e o chão debaixo dos pés dos homens constituía o teto do Inferno, os homens viam-se como criaturas situadas no centro do universo, constituindo a única e especial preocupação de Deus – e, desse alto lugar, governavam, conquistavam e matavam como lhes apetecia.

E quando, séculos após, a Terra já não era mais o Mundo, mas um pequeno e úmido planeta a girar no sistema solar de uma estrela de pequena magnitude, ao largo da margem de uma galáxia insignificante nas distancias incomensuráveis do espaço – quando o céu de Dante desaparecera e já não mais havia Inferno (pelo menos já não havia Inferno debaixo dos pés), os homens começaram a ver-se, não como atores dirigidos por Deus no centro de um nobre drama, mas como vitimas indefesas, sendo que milhões deles poderiam ser mortos em amplas guerras mundiais, em cidades bombardeadas, ou em campos de concentração, sem um pensamento ou uma razão, salvo a razão – se a chamarmos assim – da força.
Agora, nas ultimas poucas horas, tal ideia talvez possa ter de novo mudado. Pela primeira vez em todo o tempo, homens viram a Terra: viram-na não como continentes ou oceanos vistos da pequena distancia de 100, 200 ou 300 quilômetros, mas das profundezas do espaço; viram-na inteira, redonda, bela e pequena como nem mesmo Dante – aquela “primeira imaginação da Cristandade”  – jamais sonhou vê-la; como os filósofos do absurdo e do desespero do século XX foram incapazes de supor que ela pudesse ser vista. E, vendo-a assim, uma pergunta assomou as mentes daqueles que a fitaram. “Será ela habitada? - perguntaram  entre eles a rir – mas, depois, não riram. que lhes assomou à mente a mais de 160 mil quilômetros no espaço – “metade do caminho ate a Lua” , como disseram –, o que lhes assomou a mente era a vida naquele pequeno, solitário, flutuante planeta: aquela minúscula balsa na noite enorme, vazia. “Será ela habitada ?” 
            
A ideia medieval da Terra colocou o homem no centro de tudo. A ideia nuclear da Terra não o pôs em parte alguma – colocando-o alem até mesmo do alcance da razão – perdido no absurdo e na guerra. Esta ultima ideia talvez possa ter outras consequências. Formada como o foi na mente de viajantes heroicos que eram também homens, ela talvez refaça a nossa imagem da humanidade. Não mais sendo aquela grotesca figura colocada ao centro, não mais sendo aquela vitima degradada e degradante posta ao largo das margens da realidade e cega de sangue, talvez o homem, finalmente, se torne ele próprio.
           
Ver a Terra como ela realmente e, pequena, azul e bela no silencio eterno em que flutua, e ver a nos próprios como passageiros unidos e comuns da Terra, irmãos naquele brilho encantador em meio do frio eterno – irmãos que sabem, agora, que são verdadeiramente irmãos.


sábado, outubro 06, 2012

Em Busca do Tempo Perdido



Às vezes, como nasceu Eva de uma costela de Adão, nascia uma mulher, durante meu sono, de uma falsa posição de minha coxa. Oriunda do prazer que eu estava a ponto de experimentar, imaginava que era ela que mo oferecia. Meu corpo, que sentia no dela meu próprio calor, procurava juntar‑se‑lhe, e eu despertava. 0 resto dos humanos se me afigurava como coisa muito remota em comparação com aquela mulher que eu havia deixado momentos antes; minha face estava ainda quente de seu beijo e meus mem­bros doloridos pelo peso de seu corpo, Se, como às vezes acontecia, apresentava os traços de alguma mulher a quem conhecera na vi­da, ia dedicar‑me inteiramente a este fim: encontrá‑la, tal como os que empreendem uma viagem para ver com os próprios olhos uma desejada cidade e imaginam que se pode gozar, em uma coisa real, o encanto da coisa sonhada. Pouco a pouco sua lembrança se dissi­pava, e eu esquecia a filha de meu sonho.

(Marcel Proust – No caminho de Swann)

Dialogo 7: DE HEFESTOS E APOLO*

(Do livro Dialogo dos Deuses de Luciano de Samósata)











HEFESTOS
Apolo, tu já viste o filho de Maia**, nascido há pouco? Como é belo, sorri para todos e já revela que há-de sair dali algo magnifico!

APOLO
Hefestos, um recém-nascido ou uma coisa magnífica, ele que é mais experiente do que Jápeto***, em artifícios?!

HEFESTOS
 (Admirado) Mas que mal é que um recém-nascido poderia ter feito?

APOLO
Pergunta a Poseídon, de quem ele roubou o tridente, ou a Ares, a quem ele tirou, às escondidas, a espada da bainha,
isto para já não falar de mim, que ele desarmou do arco e das Flechas

HEFESTOS
(Espantado) Esse recém-nascido, que mal se aguenta em 
pé nos seus cueiros, fez isso?!

APOLO
Já vais saber, Hefestos, basta ele aproximar-se de ti.

HEFESTOS
Mas ele já se aproximou.

APOLO
E então? Tens todas as tuas ferramentas e nenhuma delas e venceu-o imediatamente

HEFESTOS
 (Depois de conferir rapidamente) Todas, Apolo

APOLO
Ora vê bem.

HEFESTOS
(Verificando novamente e ficando aflito, de repente) Por Zeus, não estou a ver as tenazes!

APOLO
Mas hás-de vê-las nos cueiros do miúdo.

HEFESTO
 (Ainda incrédulo) Mas ele é assim tão ágil, como se ti­vesse exercitado a arte do roubo no ventre da mãe?

APOLO
De certeza que ainda não o viste a falar com desenvoltura e agilidade! E de resto, ele está preparado para acompanhar-nos. Ontem desafiou Eros e venceu-o imediatamente
na palestra, ainda não sei como. Depois, enquanto recebiaos elogios de Afrodite29, que o abraçava pela vitória, roubou-lhe o cinto e também o cetro de Zeus, enquanto ele se ria! E se o raio não fosse tão pesado, nem tivesse tanto fogo, provavelmente tê-lo-ia igualmente roubado.
HEFESTOS
Por essas coisas que dizes, é uma criança terrível.

APOLO
E não fica por aí — também é músico.

HEFESTOS
O que é que te faz pensar isso?

APOLO
Encontrou algures uma tartaruga morta e a partir dela construiu um instrumento musical. Adaptou e colocou braços, em seguida fixou as cravelhas e dispô-las por baixo do cavalete, esticou sete cordas e tocou tão graciosa e harmoniosamente, Hefestos, que até a mim, que toco cítara há tanto tempo, me causou inveja.
 E Maia dizia que à noite ele não fica no Céu, mas completamente tomado pela curiosidade, desce do Hades, certamente para roubar algo dali. Além disso é alado e inventou um bastão com um poder assombroso, com o qual guia as almas para os Infernos e faz descer os mortos.

HEFESTOS
Eu é que lho dei, para brincar

APOLO
Pois ele deu-te a recompensa, as tenazes...

HEFESTOS
Fazes mesmo bem em lembrar! Ora então, vou buscá-las ! Pode ser que estejam, como dizes, nos cueiros dele.


*A divindade de quem se fala neste diálogo é Hermes, filho de Zeus e de Maia e senhor do comércio e do roubo. São muitos e variados os episódios em que Hermes revela os seus atributos, desde a infância.
**Hermes
** Titã, Filho de Urano e Gaia, o Céu e a Terra
Por vezes a natureza rejeita sua própria criação, de tantas coisas que a natureza engendra, algumas não vingam. Infelizmente algumas destas malformadas criações insistem em nascer, como no caso do Arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, que excomungou a mãe, os médicos e outros envolvidos no aborto sofrido por uma menina de 9 anos, prenhe de gêmeos, após ser abusada sexualmente pelo padrasto.

A menina de 9 anos corria risco de vida, e qualquer idiota deve saber que uma criança não tem maturidade para ser mãe. Porém o Arcebispo é tão idiota que prefere seguir uma norma imbecil da igreja de manter a proibição do aborto mesmo em caso de estupro.

O padrasto da menina, um animal que deveria, assim como o arcebispo, ter sido abortado antes de nascer, saí ileso da condenação da igreja católica, e possivelmente por estupidez das leis brasileiras, sairá também livre da justiça dos homens, já que é primário.

Sou totalmente contra estes abortos da natureza humana, pessoas como este padrasto, deveriam ser castrados, para evitar que cometa outros atos de pedofilia, pois é claro que mais dia menos dia ele vai reincidir no crime.

A igreja católica já gasta milhões na defesa de seus padres pedófilos, agora vemos que a igreja defende também os pedófilos profanos. Será que tudo isto é uma interpretação errada das palavras do carpinteiro:

Vinde a mim as criancinhas.