quinta-feira, abril 20, 2006

Aos Nefelibatas como Eu e Você.




Que palavra linda !!! Muitas vezes eu e a Deusa, ficamos falando de palavras e sons que gostamos, palavras sonoras como o nome do blog dela Água Potável, que soa maravilhosamente A-gu-a Pó-tá-vel, ou Sibilante, que nos lembra uma cobra esguia, ou o vento passado pelas arvores ou entre as pedras como na cova da Sibila de Cunas, e tantas outras como Libidinoso, Lúbrico e etc...
Como podemos dizer também o estado em que vivemos eu e ela nestes últimos meses em apenas uma palavra, felizes e apaixonados é muito pouco, estamos além disso. E do nada apareceu uma visitante aqui no blog, que por um acaso também adora Madredeus e me convidou para visitar o blog dela, que é outro labirinto pessoal, e nele estava a palavra que precisávamos, antiga e esquecida neste tempo de frases curtas e de lideres mundiais medíocres, nos dando a impressão que a inteligência abandonou o planeta.

Pois bem, lá vi a palavra que faltava para definir o estado que vivemos: somos nefelibatas, “do Grego nephéle, nuvem + bates, que anda”, ou seja vivemos nas nuvens, andamos flutuando no céu e acreditamos no amor. Não naquele amor ideal, que os incompetentes na arte de amar esperam que aconteça para eles: que uma alma gêmea caia do céu no colo deles. Mas sim o amor sofrido de superar as diferenças, de batalhar dia a dia para encaixar peças de um quebra-cabeça maluco onde aparentemente nada encaixa em nada. Mas, percebendo as sutilezas e as nuances de cada uma das peças, que cada um de nós dois com vidas pregressas completamente diferentes traz. Um amor de conhecer, compreender e aceitar as diferenças. Amor de mudar a vida, não por nenhuma exigência, mas por acreditar que a mudança fará bem ao casal, Amor que dói a cada segunda feira, depois do fim de semana juntos, separados pelo trabalho.
Andamos nas nuvens, muito acima dos mortais e mais próximos dos deuses, como nos diz Pessoa, travestido em Ricardo Reis, “Os deuses são deuses Porque não se pensam”, e juntos não nos pensamos, vivemos em um Olimpo só nosso; em que estamos no eixo da roda da fortuna, e a vida real gira em torno de nós dois. Embora o mundo esteja burro, o trabalho escasso e o dinheiro curto, isto no máximo nos preocupa, sem interferir no que sentimos quando estamos perto ou quando nossos lábios se colam em intermináveis beijos.

História longa que começou há 5 anos com uma troca de olhares, e depois de 3 anos de desventuras, nos reencontramos em uma noite de abril, que passou com dois cafés e um suco e beijos intermináveis e nos assustamos com o amanhecer, pois 8:00h se passaram num átimo de segundo, e prosseguiram no dia seguinte e nos 717 dias que estamos juntos.

É claro que foi difícil, tivemos maus dias, momentos horríveis, mas a cada dia que passou resgatamos nós mesmos, pouco a pouco, afloramos o que realmente éramos. Morreu um pouco do que a vida nos havia transformado, resgatamos nossa essência, nossos sonhos e muitos dos esqueletos que guardávamos trancados nos escuros armários da mente e nos mostramos inteiros, hoje somos quem sempre quisemos ser, humanos e apaixonados. Diferentes, afinal quem apostaria num romance de um Dragão com uma Deusa ? Apenas nós que somos nefelibatas e comemoramos nesta semana dois anos juntos.
Obrigado por tudo isto Deusa, por me devolver minha vida, ressuscitar muito do que tinha morrido em mim e tudo que eu largara pelo caminho. Eu tinha muita saudade de mim mesmo, você me trouxe de volta.
Parabéns para nos dois, e muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitos anos de vida para o que sentimos.


Ps. Ana Paula, obrigado por me lembrar a palavra e pelo seu Post Triste, que me inspirou a escrever este para responder a sua pergunta. A resposta é sim, ainda existem pessoas que não tem medo de se apaixonar e isto você pode ver nos outros labirintos pessoais que são os meus links, aonde vou linkar o seu Refúgio dos Infelizes, na esperança que você não perca a fé no Amor, que é o sentimento que nos aproxima dos deuses, mas... Que dá um trabalho insano.

Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! É de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o “velho amigo”, que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer “baixo” seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Texto extraído do livro “Para Viver Um Grande Amor”, José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

3 comentários:

Luciana Onofre disse...

Que siempre tengas inspiración para bellas palabras, y que los sentimientos sean inagotables!

Anônimo disse...

Lindo post e mais lindo amor... Abençoados os nefelibatas!

Anônimo disse...

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