terça-feira, abril 04, 2006

No Outono




No outono colhemos os frutos do que plantamos, e este será o terceiro outono que colhi a mais saboroso dos frutos perigosos e proibidos. Creio que já na primeira mordida num abril passado, finalmente apreendi porque o amor é tão proibido, porque com ele tudo podemos, narcótico, entorpecente ele nos faz perder o sentido das coisas e ver o mundo de maneira inusitada. Ficamos amortecidos para as dores do mundo e se alguma coisa dói é a falta da pessoa amada.
O amor é proibido e castrado por quase todas as religiões, afinal quando amamos nos tornamos mais próximo dos deuses e o nosso credo é a paixão, nos entregamos ao ser amado e ao nosso destino sem duvidas ou medos, acreditamos na imortalidade da alma, pois uma vida é muito pouco tempo, quando amamos de verdade percebemos o valor da eternidade, porque depois que comemos este fruto nos sentimos realmente plenos e integrados ao universo.
Lisérgico e alucinógeno pois por mais que a nossa volta as paredes ruem envoltas em escuridão e névoa, conseguimos enxergar cores inusitadas e raras, deixando que todos os males escapem da caixa de Pandora e agarramos com força a esperança e ficamos com a esperança que podemos reconstruir tudo, que as nevoas se dissiparão e o sol voltará a brilhar. Como loucos nos agarramos a esperança, a ultima das dádivas de Zeus aos humanos, e por nossa fé e crença investimos contra os moinhos de vento até que todos os males se esvaeçam a vida retome seu curso.
Mais do que a primavera onde a natureza explode em flores e vida o outono é a recompensa pelo trabalho e a colheita do que plantamos, dos frutos que sonhamos e que tanto lançamos sementes, que muitas vezes pareceram vingar, mas que no entanto não frutificaram e feneceram a cada outono embora tivessem prometido tanto nas primaveras.
O amor colhido no outono não é temporão, mas sim o fruto colhido em seu esplendor de cor e sabor, que chega no tempo certo sem falsos fertilizantes ou implementos tóxicos, que contaminam e envenenam. Estes amores maduros colhidos no tempo certo, são a promessa de todos os que experimentam antes do tempo e que nunca nos satisfizeram. São a recompensa dos deuses, para quem perseverou no plantio e na escolha das sementes e que nunca perdeu a fé em Vênus e no seu filho Eros.
Os amores do Outono, estes sumarentos e doces frutos, trazem as lembranças da adolescência, de sítios bucólicos e frutas colhidas no pé, com sabor inesquecível como as goiabas da juventude, já que as de hoje. maiores e até mesmo mais bonitas, só trazem o enganador aroma de goiaba, porém insípidos, sonsos, sem sabor ou consistência da fruta verdadeira. Este gosto de infância e de regalo nos faz ter prazer em viver e nos rejuvenesce tanto que “venho até remoçando me pego cantando sem mais nem porquê”



Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente desse mundo
Ao encontrar você
Eu conheci o que é felicidade
Meu amor
(Antônio Carlos Jobim)

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