terça-feira, junho 17, 2008

ESPÍRITO DE BRUXA

Um texto da Bru

Oi tchurminha!!! (É assim que cumprimento meus amigos sempre que nos encontramos, então aqui não vai ser diferente.)

A minha apresentação foi feita pelo Gwydyon Drake e, além de relatar o meu curriculum vitae profissional e bruxal, meu “mui amigo” já me entregou legal nos bons e maus aspectos das minhas maluquices pessoais, rs rs rs . Então não vou tomar mais tempo de vocês com isso, quem quiser detalhes dá uma olhada lá.

Quero aproveitar este espaço para falar sobre coisas que eu considero fundamentais no comportamento dos neopagãos em geral, e dos que se consideram bruxos em particular, qualquer que seja a Tradição escolhida. Coisas que muitos talvez considerem simples demais, óbvias demais para que se perca tempo com elas, não apenas falando a respeito mas colocando em prática. Afinal, há tantos livros de autores renomados para ler, feitiços para decorar, instrumentos mágicos e amuletos para comprar e consagrar, rituais para executar com dia, hora, minuto e local marcados, listas de discussão na Internet onde precisamos expor brilhantemente nossas verdades incontestáveis. Tudo isso toma tempo, muito tempo. E esta passagem que chamamos de “vida atual” sempre nos parece curta demais para realizarmos todos os nossos propósitos, independentemente de qual estágio desta “vida” nos encontremos. Daí que perdemos tanto tempo ocupados em aprender teorias sofisticadas, em escolher UM SÓ E DEFINITIVO CAMINHO - descartando de forma radical, quase irada, as demais trilhas e seus seguidores - que muitas vezes nos esquecemos de que é o CAMINHO que nos escolhe, e que o caminho não está nem aí para nossa preocupação com o tempo, pois ele é eterno, pelo menos até a explosão da próxima bomba nuclear.

Esquecemos com frequência que a Mãe Terra é redonda e que vivemos clamando “que o círculo nunca se quebre”, talvez sem entender o que isto realmente significa. Estas palavras representam o moto contínuo, o rio que nunca é o mesmo enquanto rio que corre para o mar, mas que um dia rio novamente será, após ter sido mar, nuvem e chuva, rio que também é árvore, grama e fruta nascidas da terra que a chuva fertilizou, árvore, grama e fruta que alimentam os animais que são também alimento de outros animais, na infindável cadeia alimentar que é a base de equilíbrio da natureza sem a intervenção do Homo Sapiens. Se é isso que os bruxos realmente desejam, que “o círculo nunca se quebre”, precisamos antes de mais nada compreender que todos os caminhos levam à Grande Mãe, quer estejamos vivos ou mortos, qualquer que seja a trilha escolhida.

Bem, foi preciso teorizar um pouco para poder chegar à prática. Isso mostra que não menosprezo os estudos, os livros, os rituais, os debates salutares na troca de idéias e conhecimentos. Mas essa bagagem de nada me serve se eu não tiver – e não colocar em prática 24 horas por dia – aquilo que convencionei chamar de ESPÍRITO DE BRUXA. Porque de nada adianta escrever aqui o quanto é importante manter o planeta limpo, criticar as indústrias poluidoras e ao mesmo tempo jogar meu toco de cigarro para fora da janela do carro. Qual a validade de anos de exercícios xamânicos complicadíssimos para encontrar o “animal de poder” que nos dá dicas em sonhos ou visões, se não achamos espaço em nossas casas e em nossas vidas para um gatinho ou um cachorro de verdade? De que serve a nossa passiva revolta diante da TV ao vermos a Amazônia e suas nobres madeiras sendo dizimadas, se temos preguiça até de regar meia dúzia de vasinhos que são pedaços da Mãe Terra dentro de nossos urbanos apartamentos? Para que celebrar o ciclo da vida e da morte nos sabbats da Roda do Ano, se quando a vida em pessoa bate na janela de nosso carro pedindo uma ajuda saímos apavorados ou fechamos o vidro naquela cara subnutrida?

Incorporar o verdadeiro ESPÍRITO DE BRUXA é ir além da dedicação, da iniciação, da busca pelos graus sacerdotais e de poder dentro de cada Tradição mágica. Nada contra, é claro. Eu mesma pertenço à Fellowship of Isis desde 1992 e dentro do possível busco ser uma sacerdotisa da Lua estudiosa e dedicada, apesar da distância física (a sede da FOI é na Irlanda). Também sonho um dia conhecer a sabedoria dos Druidas fazendo o curso da OBOD, mas já tem sete anos que estou empacada no grau de Bardo, tantas são as minhas dúvidas e falhas no Caminho Solar. Mas nada disso me fez ou me fará uma bruxa. O que me faz ter a certeza de que dentro de mim existe um ESPÍRITO DE BRUXA é a compreensão de que a verdadeira magia é a capacidade de operar a ALQUIMIA DA TRANSFORMAÇÃO no dia-a-dia.

Voltemos aos exemplos da teoria versus prática. Da próxima vez que você for ao supermercado ou lojinha de doces, compre alguns pacotes a mais de biscoitos, especialmente aqueles recheados. Não precisam ser caros nem de marcas famosas, precisam ser apenas biscoitos recheados. Compre também balas e alguns chocolates. Tenha essas guloseimas sempre à mão no porta-luvas. E da próxima vez que um pequeno projeto de vida com carinha suja e olhos tristes bater na janela do seu carro em meio ao trânsito infernal, não se assuste: sorria e diga que não tem o dinheiro que ele está pedindo, mas que tem biscoitos recheados, ou uma barra de chocolate. E você verá o toque da Pedra Filosofal operar o milagre da transmutação da dor em alegria diante dos seus olhos. Porque uma criança é sempre uma criança, por mais que a realidade a empurre para a violência e o desamor. E não dá para imaginar uma infância sem biscoitos nem chocolate, lembre da sua neste instante e não dê a moeda que os adultos certamente lhes vão tirar, dê doçura e felicidade, devolva ainda que por alguns minutos a infância roubada e tenha a certeza de que os deuses da Fartura sempre lhe rodearão. Afinal, você tem o ESPÍRITO DE BRUXA dentro de você.

Tão frágeis quanto as crianças são os animais, estes talvez mais ainda, pois embora consigam sobreviver sozinhos no mundo muito mais cedo do que um filhote humano, sua carência e incapacidade de comunicação verbal geralmente são fatais em caso de abandono. Adote um animal de estimação. Mas esqueça raças e pedigrees, por favor. Há tantos bichinhos sem lar e sem chance de viver, e você vai pagar fortunas por um filhote encomendado, filho de “campeões”? Campeões de que? De subserviência à vontade do Homem, de andar em cima de arames, fazer o oito entre obstáculos, subir num tamborete? Campeão é o cão vira-lata que jamais abandona o mendigo e divide com ele a fome e o desabrigo sob os viadutos das grandes cidades. Campeão é o gatinho jogado fora, arrancado da mãe ainda mamando, mas que teimosamente sobrevive e mia noites a fio debaixo da sua janela implorando seu amor. Seja BRUXO (A), abra sua casa e seu coração para esses animais de poder e agradeça à Deusa por permitir que você conviva com essas criaturinhas tão especiais. E agora que você transformou mais uma vez a realidade, pegue seu bicho no colo e medite em busca do seu xamânico “animal de poder”. Garanto que será uma experiência inesquecível.

Para encerrar o papo de hoje, não poderiam faltar as plantas. Não desanime se suas tentativas anteriores de ter plantas em apartamento ou mesmo numa casa fracassaram. Você agora está incorporando o ESPÍRITO DE BRUXA e tudo lhe é possível!!! Comece com pequenos vasinhos de ervas e temperos, que não sejam tóxicos aos animais domésticos, e empenhe-se em fazê-los sobreviver por pelo menos três meses. Siga as instruções do vendedor, ou compre um livro se o assunto lhe interessa, ou pesquise gratuitamente na Internet. Não relaxe, a planta é um ser vivo assim como você, o gato ou o cachorro do parágrafo anterior, não pode sobreviver sem água nem torrando no sol ou mofando na escuridão. Observe suas reações à medida que ela cresce, vá criando intimidade, conhecendo suas particularidades, o que a faz florescer e o que a bloqueia. Não se engane com a aparência dessa plantinha minúscula e inofensiva. Reverencie-a diariamente, assim como aos animais, aos outros seres humanos e a você mesmo diante do espelho, e estará reverenciando a Grande Deusa Mãe Natureza na forma que ela mais aprecia: a troca de energia entre suas criaturas.

BRUXURSINHA

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Bru! Que falta que você nos está fazendo, moça!
Com saudades,

Luciana