quinta-feira, setembro 13, 2007

O MINOTAURO

A idéia de uma casa feita para que as pessoas se percam talvez. seja mais extravagante que a de um homem com cabeça de touro, mas as duas se ajudam e a imagem do labirinto convém à imagem do minotauro. Fica bem que no centro de uma casa monstruosa haja um habitante monstruoso.
O minotauro, metade touro e metade homem, nasceu dos amores de Pasífae, rainha de Creta, com um touro branco que Posêidon fez sair do mar. Dédalo, autor do artificio que permitiu se efetivarem tais amores, construiu o labirinto destinado a encerrar e a ocultar o filho monstruoso. Este comia carne humana; para seu alimento, o rei de Creta exigia anualmente de Atenas um tributo de sete mancebos e sete donzelas. Teseu decidiu salvar sua pátria daquele gravame e ofereceu-se voluntariamente. Ariadne, filha do rei, deulhe um fio para que não se perdesse nos corredores; o herói matou o minotauro e pôde sair do labirinto.
Ovídio, em um pentâmetro que pretende ser engenhoso, fala do bomem metade touro e touro metade bomem; Dante, que conhecia as palavras dos antigos mas não suas moedas e monumentos, imaginou o minotauro com cabeça de homem e corpo de touro (Inferno, X11, 1-30).
O culto ao touro e à acha dupla (cujo nome era labrys, que depois pôde resultar em labirinto) era típico das religiões pré-helênicas, que celebravam tauromaquias sagradas. Formas humanas com cabeça de touro figuraram, a julgar pelas pinturas murais, na demonologia cretense. Provavelmente, a fábula grega do minotauro é uma versão tardia e canhestra de mitos antiqüíssimos, sombra de outros sonhos ainda mais horríveis. ( Jorge Luís Borges – O Livro dos Seres Imaginários)

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