sexta-feira, outubro 24, 2008

Venerdì



O Retrato

Grande pintor, vem e pinta o retrato da minha amiga. Eu a descreverei.

Pinta os seus longos cabelos, negros e macios, untando-os, se puderes, com um óleo que conserve o mais doce perfume. Pinta-lhe a fronte de marfim e as lindas sobrancelhas. Os seus olhos por vezes lançam chamas – olhos claros como os olhos de Atena, úmidos como os de Afrodite.

Para pintar-lhe o nariz e as faces, Porá leite de rosas em suas tintas. Os lábios dela sugerem o beijo. No queixo, nas espáduas, sente-se o sortilégio de todas as graças.

Depois cobrir-lhes-ás o corpo com uma leve púrpura, que deixara transparecer um pouco de sua carne idolatrada.


Os Presentes

Quase nada tenho, minha amiga, mas sou teu, de todo o coração, juro-o. E a dádiva que lhe faço vale mais que os presentes preciosos.

Recebe esta lã fofa e espessa, que a púrpura florida colora. Toma ainda este tecido rosa. Para os teus cabelos aceita o perfume que este vidro Glauco encerra.

Passarás num vestido gracioso, provarás que são hábeis suas mãos. Eu guardarei de ti uma perfumada lembrança.


A Amante

Dentro da noite, enganando meu marido, eu vim. A chuva pesada molhou-me toda. E agora? Vamos nos sentar, sem fazer nada? Vamos dormir?

Ora, como se aos amantes fosse permitido dormir?


Irene

Como se eles deixassem os dourados domínios de Cípris, os amores descobriram a terna Irene. Flor sagrada, Irene desabrochava. E nela então eles adoravam todas as graças virginais. E estendendo os nervos purpurinos dos arcos dardejavam inumeráveis flechas sobre os rapazes.


Afrodite de Ouro

Homero, que sempre falava bem, afirmou que Afrodite é de ouro. Foi a coisa mais justa que ele disse.

Trazes algum dinheiro? Ès amigo da Casa, nenhum porteiro te detém e não encontras nenhum cão no vestíbulo. Vens de mãos vazias? O Próprio Cérbero se levanta contra ti.

Ó Mulheres, criaturas ávidas: quem vos viu alguma vez desdenhar a riquesa, vós que com asco repelis a pobreza

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