quinta-feira, junho 23, 2011

Olho do Furacão



Há cinco noites eu não durmo, minha mente desperta, depois do sono mortal. Caminhei pelas trevas, desci ao poço mais profundo do Tártaro, vi o Tempo acorrentado, e olhei nos olhos dos Titãs presos aos grilhões. Vi o que os mortais nem imaginam em suas mais insanas fantasias.

Queimei toda a minha carne, calcinei meus ossos no magma, misturei-me as rochas ígneas e me purifiquei no Enxofre e refiz meu corpo nas chamas. Volto renascido, ainda mortal, mas finalmente invulnerável recriado no hálito de Tifon, nas profundas fornalhas de Tellus, no seu ventre, onde ela gera a vida.

Depois da longa descida, retalhando minha carne e alma em afiadas arestas de rochas, sofri dores indescritíveis morri muitas vezes morri a cada dia, como se pudesse contar os dias e noites enquanto caia no poço escuro da dor. As dores, mães de todo o sofrimento, foram uma constantes até encontrar o sol que existe dentro da terra, para nele mergulhar.

Volto renovado com o poder do bem e do mal. Mato e dou a vida, faço e curo as feridas, minhas setas espalham as pestes e minha musica pode salvar. Danço com a morte, jogo com a vida e se não posso recriar o universo, posso recriar a mim mesmo, sou um, mas sou todos, sou vocês e sou eu, em mim estamos todos nós.

Voce é capaz de dançar comigo? Você aguenta olhar nos meus olhos de sol? Eu cego, eu te mostro o seu lado negro, eu me conheço, me vi no espelho negro e nele minha luz se refletiu na negra obsidiana. Devoro Quimeras no café da manhã, almoço as Fúrias e no jantar eu sou o Dragão de Prata.

O sol brilha no meu peito e ofusca aos que querem me reconhecer, ninguém nunca me conheceu inteiro, quem me viu, viu apenas uma parte e nunca me conheceu inteiro, e agora não pode mais me conhecer.

Eu sou a loucura sã, a embriaguez sóbria, o touro e a serpente, a profundidade abissal dos oceanos, sou o amor, beleza e o lobo falcão. Sou aquele cujos olhos são multicoloridos, e não adianta me perguntar, pois te respondo com um pio cortante dos falcões...

Eu nasci no Olho do Furação

5 comentários:

Alluc disse...

Me identifiquei em cada palavra, somos todos um!
Belo, pois foi bela sua passagem pelo fogo, dolorosamente belo!
Feliz é seu retorno , pois na morte é que se conhece verdadeiramente a vida!

Abraços do Elfo! `^^´

Tânia Mara disse...

Que texto espetacular! Muito bem escrito. Dolorido e profundo. E tão verdadeiro! E tão absolutamente eu!
Obrigada, Dragãozinho!

JOSÉ IGNÁCIO GODOY disse...

SIM...Irmão, somos a essência,das tuas palavras todas refletidas no eu que eu sou!Magnífico!
Bruxo Godoy

Gruta de Sibila disse...

Me lembrou Apolo, e sinceramente esta com os dois irmãos Deuses com as mãos em você. que o brilho de um seja semelhante ao êxtase do outro!!!!
Parabens Dragão!

Rachel disse...

Você é fenomenal, sabia?