segunda-feira, janeiro 28, 2008

Seja razoável, pense o Impossível !

É engraçado que esta frase pichada nos muros da rebeldia mundial da juventude em 1968, mantém sua atualidade, urgência e coerência, em contrapartida com sua incoerência e fantasia.
Pensar o possível é acomodar-se e isto é o que os poderes constituídos, nos levam a fazer e sufocam todos os ideais e todas as bandeiras.
Temos que pensar na nossa segurança, já que nos fazem pensar que o crime é fruto das injustiças sociais, e nós como parte as sociedade, temos nossa parcela de culpa. E se somos culpados, é justo que tomemos um tiro num cruzamento da cidade.
Temos que pensar na nossa sobrevivência, trabalhar mais que 10 horas por dias, já que temos que contar o tempo que perdemos no trânsito, para chegar ao trabalho. Temos que internar nossos filhos em escolas mais caras e seguras, e para isto sacrificar o tempo que deveríamos usar para educa-los e conviver como família.
Temos que pensar na nossa saúde, pagar fortunas por planos de saúde e discutir com os convênios cada vês que precisamos usufruir do que pagamos com tanto sacrifício.
Temos obrigação de pensar o possível, dentro de todas as limitações que tornam impossível uma vida tranquila e saudável. Dentro desta linha estreita de possibilidades da civilização contemporânea, sonhamos com casas entupidas de aparelhos eletrônicos e confortos inúteis que a mídia nos vende como símbolos de status.
Temos que nos conformar que nossas casas virem prisões com muros altos, cercados por alarmes e equipamentos de segurança. Andamos de automóvel, com os vidros escurecidos e fechados, que impedem a entrada do ar e nunca mais vermos o sol, pois as películas que envolvem por segurança os vidros, nos impedem de perceber sua luz, tornando todos os nossos dias nublados e escuros.
Nossos sonhos ficam pequenos e amarrados pelo possível, nossa vida fica sem graça e tacanha.
O amor possível é chato e cansativo, já que o trabalho e as preocupações roubam todo o nosso tempo, fazendo que o sexo possível seja limitado e rápido como uma masturbação a dois. E o amor que é permitido aos filhos, se resume a poucos minutos de conversa nos fins de semana ou a diversões virtuais.
Num mundo que se acreditava impossível em 1968, onde a Internet e as comunicações criaram a impossível "aldeia Global" onde conversamos "on line" com qualquer ponto do planeta e vemos o mundo frente a tela do computador, o impossível se tornou a vida real.
Hoje, mais do que nunca, o razoável é pensar e sonhar o impossível.
Pensar que seu salário, deveria cobrir todos os seus gastos.
Que a hora do almoço deveria dar tempo para comer com a família, que as mulheres ou os maridos, porque não, deveriam ter tempo para cuidar da casa e educar os filhos.
Que o mundo podia ter mais justiça social, e que os que ganham além das suas necessidades, deveriam ganhar um pouco menos, para que os necessitados ganhassem um pouco mais.
Que as famílias se reconstituíssem e que pelo menos uma vez por mês pais e filhos se encontrassem com avós, tios e primos numa confraternização sem nenhum motivo além do gosto por estar juntos.
Que o sexo podia ser demorado, reservando um bom tempo para o namoro e beijos na boca e que depois do orgasmo, tudo pudesse começar de novo sem limite de tempo ou sono. Que cada um sonhasse com um amor de romance literário e que este durasse uma vida.
Que as igrejas voltassem a ser templos, onde os deuses falassem diretamente com seus fiéis, sem a intervenção de sacerdotes. E que a Terra voltasse a ser sagrada e em cada arvore morasse uma ninfa, em cada oceano morasse um Deus, e em cada floresta uma Deusa.
Não é absurdo pensar no impossível, nem disparatado querer que ele se realize, pensem:


É razoável pensar no impossível.



The Impossible Dream - (Joe Darion/Mitch Leigh)
Versão: Chico Buarque e Ruy Guerra
Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite provável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã este chão que eu deixei
Por meu leito e perdão
Por saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão


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