Me assusto em saber, que ainda que seja por meia hora, a sua consciência viaje no éter e que corro o risco de perder seus pensamentos no imenso infinito. Porém uma coisa me consola, já viajamos pelo espaço e percorremos o infinito e ainda assim no imenso universo, nos encontramos e nos mantivemos juntos.
Somos deus e deusa quando largamos nossos corpos e como no mar de Netuno e Salácia vamos nos encontrar e caminhar juntos.
Então na hora em que sua consciência se perder no ar, olhe para os lados e você vai me ver, vou pegar na sua mão e te trarei de volta.
Pelos Deuses, por Maya e por nós
Percorrendo os meandros viscerais até o âmago do ser humano, o inferno da mente. E dali retornar um novo ser, sem mais nenhum medo, vencendo as trevas da ignorância.
quinta-feira, novembro 29, 2007
Caetano Veloso - Eu Sei Que Vou Te Amar
quarta-feira, novembro 28, 2007
Díke e Hýbris a procura da justa medida.
Quando estudamos a mitologia grega muitas vezes esquecemos do equilíbrio que devíamos ter entre Díke a Piedade, que diferente do sentido cristão onde é vista como dó, significava para os antigos "Devoção" aos deuses e as leis divinas e a Hýbris é a ausência disso, é o Desmedido Orgulho e o Exagero e Excesso de Devoção que ultrapassa o metron (a medida de cada um).
Devemos portanto servir aos deuses de acordo com o nosso conhecimento e capacidade, ir alem disso cairemos nos braços de Ate (o engano) e exaltaremos nossa Hýbris e a inveja nos acompanhará e seremos abandonado por Aidós (a temeridade) e fatalmente cairemos nos braços de Nemésis, aquela que nos exalta e eleva, para em seguida nos derrubar, afinal, dói bem mais cair das alturas.
Um exemplo Clássico disso é o de Aquiles o grande herói da guerra de Tróia, cujo destino era morrer após a derrubada de Tróia coberto de todas as Glórias.
Ao matar Heitor, perdeu a Díke e exaltou a Hýbris, arrastando por três vezes o corpo do príncipe em torno da cidade troiana e negando o seu corpo a terra. O enterro de um Heroi é direito divino e o filho de Peleu, contrariando as Leis de Têmis (vejam Antígona, que luta pelas leis divinas contra as leis dos homens), deixou seu corpo como pasto as feras e pássaros carniceiros. Por sua Hýbris, quase pôs toda a guerra a perder dissipando sua glória e seu direito a tomada das muralhas e prolongando a guerra por mais um ano. Apolo aquele que tem em seu templo o aviso para os desmedidos e violentos: Apreenda a conhecer a ti mesmo, incorpora em Páris e abate Aquiles com uma só flecha, no calcanhar. Lembrando o que nos diz Aristóteles em sua Retórica ( 2,21) ou no ditado latino "memento, homo, quia pulus es" Lembra-te, homem, de que és pó.
Vários textos nos advertem contra a desmesura:
O poeta Teógnis (século VI a.c.) adverte seu amigo Cirno: "Nada persigas em demasia; um meio termo é a melhor de todas as soluções."
"E os cadáveres amontoados, na sua linguagem muda, revelarão aos olhos mortais, até a terceira geração, que o homem não deve Ter sentimentos orgulhosos, pois a Hýbris, ao amanhecer, produz espigas de erro e a seara ceifada será tão somente de lágrimas."
Pindaro ( seculo V-VI a.c.) define com precisão que o homem só pode se erguer até a sua limitação, controlando a sua Hýbris:
" Seres Efêmeros! Que é cada um de nós?
Que não é cada um de nós?
O homem é o sonho de uma sombra! ( Pitícas, 8, 95-97)
Por estas, podemos perceber os malefícios e o perigo que representava para os gregos ( e para nós) o arroubo provocado pela Hýbris.
quinta-feira, novembro 22, 2007
O Rapto de Ganimedes
Criado para vingar sua mãe que não pode lhe dar afeto, pois devia ignorar sua existência ou nada do planejado seria concluído. Júpiter não teve infância ou juventude, nascera para ser responsável, devia destronar Saturno, libertar seus irmãos, governar o mundo e espalhar seu sagrado sêmen criando linhagens capazes de governar os homens. Nunca pudera amar sem o compromisso de fertilizar, nunca pudera irresponsável, ser fecundo era sua sina.
Observava a graça do caminhar despreocupado do rapaz, o seu andar suave e sua corrida de ninfa que parecia flutuar sem quase tocar o chão. O corpo esguio e seus cabelos abundantes, que escapavam do gorro frígio que cobriam o alto da cabeça, flutuavam ao vento. O Ilíada tinha a carne macia e a pele sem jaça, como o das deusa e gestos suaves enquanto dançava ao som da flauta dos pastores que seus lábios tocavam suavemente.
Voltando a sua forma sobre humana, Júpiter se dirigiu a Ganimedes com esta fala:
- Ea, Ganimedes; já que chegamos onde eu tinha imaginado, me dá um beijo agora, para que vejas que não tenho bico encurvado, garras afiadas e nem tampouco asas, como me apresentei a ti, com aspecto de pássaro.
Não é possível. Como ele iria te achar ?
E com quem eu dormirei a noite, estou acostumado a dormir abraçado com as ovelhas, que eu vou abraçar ? Cupido ?
O senhor já não é adulto? Porque precisa dormir com alguém? Porque prefere comigo?
Ganimedes, sua beleza me enfeitiçou e e vou te ensinar algumas coisas que farão que durmamos mais tranqüilos.
Procurando Ganimedes
O surpreendente êxito iconográfico de São Sebastião remonta a Alta Idade Média. Uma peste se espalhou por Roma no Século VII e o povo acreditou que Deus enviava aquela epidemia como um arqueiro que lançava suas flechas ao acaso e acreditavam que como São Sebastião havia sobrevivido ao martírio das flechas, ele morreu depois por lapidação (mas, isto foi esquecido pela Igreja Católica) somente ele poderia salva-los da praga enviada através das setas divinas. Suas imagens se espalhavam em altares, afrescos e até mesmo em medalhas que eram usadas no pescoço.
Já nesta época existiam pintores como Perugino e Botticeli, que o usaram para exaltar a beleza e juventude da nudez masculina, independente da missão terapêutica do santo. Porém a grande revolução do tema ocorreu no Século XII no começo da era barroca, quando aparecem as primeiras visões de adolescentes nus e desfalecidos pintados com o único fim de agradar aos olhos. Se esqueceram completamente que Sebastião havia sido um capitão da guarda pretoriana do Imperador Diocleciano e o representavam como um efebo, mais afeito a languidez do que às armas. Guido Reni um dos retratistas mais sensuais de S. Sebastião, continua representa-lo de pé, porem já não se trata de glorificar sua resistência ao destino, mas sim explorar a sensualidade masculina, Os braços acima da cabeça e amarrados a arvore, descobrem seu Torax nu e a suavidade de suas carnes, oferecendo-se assim plenamente a contemplação estética do observador.Por que no Século XII um soldado vigoroso e marcial um oficial romano é convertido num efebo erótico? Por que os barrocos viram no mártir do século III uma figura conveniente para a sua arte?
Naquela época as pestes voltavam com maior vigor e devastavam varias cidades, e ao representar o santo nestas posturas desfalecidas e dolentes em nada lembravam o valor do amuleto que foi usado no século VII.
Não podemos nos esquecer que nos séculos XI e XII o fenômeno do amor romântico e as trocas dos menestréis varrem a Europa como outra peste e na pintura o espetáculo da beleza, da dor e do êxtase vão estar intimamente relacionadas. O corpo do santo que antes era retratado parcialmente vestido agora era representado quase completamente nu.
"Mata-me, faça-me Morrer" escrevia Tereza D’Ávila, quando narrava seus encontros com seu amante divino.D’Annunzio, que compôs um poema sobre São Sebastião, colocou estas palavras na boca do santo:
" Eu digo, eu digo, quem mais profundamente me fere, mais profundamente me ama."
Em ambos os casos, a mesma retórica sadomasoquista e a mesma busca do prazer na dor. A época era propicia, doenças e guerras devastavam a Europa, interessava mostrar o prazer no martírio e que a dor além aliviar a culpa, podia levar ao êxtase.
Tanto tormento, só pode levar a dois caminhos: ao mais estrito ascetismo ou a busca frenética do máximo do prazer que pode desfrutar o homem em seu curto período de vida. Se a morte é eminente, temos pressa de desfrutar a vida. As confusões da História e a angústia que estas produzem são refletidas no tema de São Sebastião, o que podemos chamar de um pessimismo hedonista. Um sentimento precário da existência, uma consciência aguda da fragilidade das coisas e da brevidade do tempo, amalgama do fúnebre com o voluptuoso, o abandono e o êxtase, uma sensualidade tremula. A união da morte com o amor, de Eros e Tânatos, que fica magnificamente representada na figura do jovem que padece o suplicio. (Resumo um trecho do livro de Dominique Fernandez; El rapto de Ganimedes, Editorial Tecnos, Madrid,1992)."
Creio que foi neste ponto que reencontrei Ganimedes, não exatamente na beleza adolescente ou plástica, mas no sentimento da Fatalidade (no sentido de destino) o de se entregar ao destino ainda que este seja adverso. Vejo a aceitação e a impossibilidade do humano perante aos deuses e a entrega sem resistência ao inevitável.
quarta-feira, novembro 21, 2007
Quando o Amor não Morre ...
Filemon e Baucis, um casal de velhinhos que em tempos difíceis foram os únicos a oferecer hospitalidade a Zeus Xenos (estrangeiro) que depois de visitar mais de mil casas juntamente com Hermes, e não serem recebidos em nenhuma delas, bateram no casebre onde estes anciões moravam desde a sua juventude.
Chovia e logo os anciões acolheram os deuses pensando estar acolhendo estrangeiros, que visitavam a sua terra. Logo cobriram os toscos móveis com peles curtidas e avivaram o fogo do braseiro, para aquecer os visitantes. Enquanto Filemon, servia-lhes um trago de vinho para que se aquecessem, Baucis acendia o fogão e prepara um repolho com ervas e um pedaço de um toucinho para oferecer aos hospedes.
Filemon, assustou-se ao ver que seu copo e o dos deuses se enchiam sem que ninguém os servissem e o vinho que estava no seu copo era em muito superior ao que lhes tinha oferecido, falou com sua esposa sobre o prodígio e ela disse para que matasse o ganso que era o único animal que possuíam, pois estes viajantes deviam ser emissários dos deuses.
Bem, enfim o ganso mais rápido que o velho, refugiou se entre as pernas de Zeus, e este o proibiu que o matassem e revelaram as suas identidade: somos Deuses e vamos leva-los para o alto da montanha e lá terão uma bela morada e alguns escravos para que tenham uma vida melhor em sua velhice, enquanto castigamos todo o restante desta ímpia aldeia.
Não, imploraram os anciões com lagrimas nos olhos, a vida aqui tem sido muito difícil, muitos roubos tem acontecido e a fome se espalha nos campos, se eles não os receberam foi por medo e miséria. Também não queremos uma vida melhor, já estamos velhos e tudo o que temos são nossas lembranças, foi nesta aldeia que nos conhecemos, aqui nos casamos, tivemos filhos, e os vimos partir ou morrer. Toda nossa vida está nesta aldeia, se a destruírem, destruíram também nossas lembranças de felicidade. Imploramos que não destruam nem castiguem nossos vizinhos.
Zeus coçou suas barbas, pensou e disse:
Que assim seja, mas a sua cabana vai se transformar num templo e vocês dois serão meus sacerdotes, seu vizinhos deverão honrar meu templo e alimentar aos dois. E nisto o telhado de palha amarelou até se transformar em ouro, as paredes viram mármore e o terreno em volta um jardim magnifico.
E para agradecer a vocês estou disposto a realizar os desejos que vocês fizerem, portanto digam o que desejam.
Filemon pensou e disse: Pedimos uma vida ainda mais longa, para que possamos ser seus sacerdotes e honrar seu nome, e também queremos morrer ao mesmo tempo pois sabemos o quando será doloroso se eu tiver que enterrar Baucis ou ela a mim.
E assim foi feito, viveram ainda muito tempo e um certo dia, Filemon percebeu que brotavam folhas em seu corpo e virou se e viu que acontecia o mesmo a sua esposa. Olharam um para o outro e antes que seus rostos fossem cobertos pelas folhas se miraram nos olhos e falaram a uma só voz: Adeus, Meu amor !
E foi a ultima coisa que disseram e durante muito tempo dois enormes e frondosos carvalhos guardaram a entrada do templo de Zeus Xenos !
Quando existe o amor, não existe nem velhice nem morte
quarta-feira, novembro 14, 2007
Porque eu escrevo?
As vezes eu fico imaginando o que acontecem com os textos que jogo na rede, será que servem para alguma coisa ?
Bem eu com certeza sei que para mim servem, afinal para escreve-los eu faço uma série de consultas, leio ou releio livros e estes são como labirintos a cada leitura descubro outros corredores, investigo alguma citação que não havia me interessado, avivo na memória alguns pontos esquecidos. Creio que escrever me faz bem e se assim é, porque me preocupar se os outros estão aproveitando algo?
Não sou cristão, não tenho vocação missionária (nem o paganismo tem) e nunca pretendi catequizar ninguém, como já falei anteriormente acredito que os textos que coloco são como garrafas jogadas no mar, nunca sabemos o que vai acontecer com elas, podem ficar anos sendo levadas pelas ondas até aportarem em alguma praia, se alguém vai ler a mensagem... nunca vamos saber, e se alguém vai fazer uso do que escrevi é ainda mais difícil.
Mas continuo escrevendo, creio que é como que se me obrigando a aprender mais, vasculhar a biblioteca em busca de uma referencia que queria colocar no texto ou para tirar alguma duvida. A mitologia me fascina, muitas vezes estou buscando algo especifico e me perco nos livros lendo e revendo coisas que não pensava no momento e chego mesmo a esquecer o que estava escrevendo e continuo lendo paginas e mais paginas sobre coisas que nem me passavam pela cabeça.
O fato de escrever na rede, embora as vezes eu ache inútil, sempre me traz muitos benefícios além o de aumentar meu conhecimento, de certa forma apesar do ato solitário da leitura e escrita, publicar os textos aumentou e muito meu circulo social, pois através da rede conheci várias pessoas, muitas mesmo. È claro que muitas destas passaram por minha vida sem deixar nenhum rastro, outras porém acabam fazendo parte da minha vida. Deve ser a tal da peneira, que deixa passar pelo crivo toda a areia, retendo apenas o que é metal precioso ou gemas. Então, penso que estas pessoas que passaram pela joeira, são realmente o joio, e as que ficaram são realmente trigo, que nos alimentam e nos fortificam. E se não fosse o ato de escrever eu teria perdido estes preciosos grãos.
É claro que entre os grãos perfeitos, os diamantes e o ouro que restou na peneira, também ficaram algumas pedras brutas, possíveis jóias que precisam de lapidação e algumas destas venho lapidando há anos e me dão uma imensa alegria ao ver que começam a brilhar, que com algumas centelhas e lampejos iluminam as trevas da ignorância que é característica do nosso tempo.
É por isto que continuo escrevendo, não por que seja bonzinho (isto não sou mesmo), nem para angariar discípulos (não tenho muito saco para isto), escrevo para ganhar conhecimento e conhecer pessoas e isto os deuses tem me dado, se tivesse medo de escrever errado ou repassar conhecimentos, não encontraria as pessoas maravilhosas que conheço, nem faria parte da tribo que me acolheu.
Escrevo porque sou hedonista e escrever já me deu grandes prazeres.
terça-feira, novembro 13, 2007
Ubi tu Gaius ego Gaia
Embora as feministas costumem resmungar (e elas resmungam muito) esta formula dita pela noiva, que fecha o casamento romano em nada tem de dominação patriarcal ou domínio machista. Ela simplesmente fecha um acordo onde o marido que aceitam não se tornará seu amo mas sim seu par. São a partir daí Janus, as duas faces de um mesmo ser. Ela nada tem a ver com a união carnal nem mesmo com a comunhão romântica de dois corações, mas sim, com o início de uma "societas", uma sociedade que ultrapassa cada um dos cônjuges, tanto por suas consequências, como por sua própria natureza. O casal é por si só um novo ser.
Este caráter do matrimonio romano, que considera o casal como uma realidade em si, de certo modo transcendente, aparece claramente na condição de um par sacerdotal. Assim como o do flamen e da flaminica um sacerdócio antiquíssimo que só podia ser exercido por um patrício casado, que remonta o componente ariano da urbe romana.
O casal a partir do casamento passavam a ser os sacerdotes do culto doméstico, levado em alta conta pelos antigos romanos. Apesar do culto oficial da urbe (cidade) existia a religião de cada gens (familia patrícia) com seus próprios deuses (antepassados) os antepassados carnais e os gênios familiares (daimons ou exús). Até o casamento tanto o Homem quanto a Mulher tinham como sacerdotes deste culto seus pais, e depois do casamento assumiam a condição de sacerdotes da familia que ali se iniciava, e seguiriam a religião da gens do marido. ( embora mais tarde haveria o casamento sem "manus" onde a mulher continuava devotada a religião da gens paterna.
Os antigos romanos se casavam muito jovens a idade legal para o casamento era doze anos para as mulheres e quatorze para os meninos em bora para os meninos este prazo se dilatava até os dezoito anos. A idéia é que a noiva não fosse apenas pura fisicamente, mas que tivesse também a pureza moral e não fosse expostas a conduta e aos cultos da família de seus pais, para assim se integrasse totalmente ao marido.
O casamento patrício era chamado de "confarreatio" e apresentava ritos que conservavam valores mágicos e outros que eram apenas herança incompreendida do passado distante. Em sua maioria tinham o objetivo de proteger a noiva neste momento importante da sua vida.
A cerimonia começava na véspera, quando a noiva abandonava suas roupas infantis e era vestida com uma túnica branca chamada de "tunica recta" (túnica reta) era uma túnica tecida em tear à moda antiga por um tecelão que trabalhava de pé ( num momento tão importante era melhor seguir as antigas tradições que arriscar uma inovação). A faixa que prendia a túnica à cintura era amarrada com um nó especial chamado "nó de Hercules" que no dia seguinte o noivo desataria.
Seus cabelos eram penteado de acordo com os rituais antigos: Uma mulher bem casada e virtuosa repartia os seus cabelos em seis tranças com a ajuda de uma "Hasta Caelibares" (uma lança de cabo curto com ponta de ferro afiado) que segundo Plutarco remetia a Juno a protetora dos casamentos, que em algumas configurações era uma deusa guerreira. O penteado era imutável, as seis tranças presas à testa com pequenas tiras de tecido e depois cobertos com o Flammeum, véu cor de laranja que caia sobre os ombros emoldurando o rosto – o Flammeum véu usado pelo flamem e a flaminica (cujo divórcio era proibido) tinha a cor de laranja que representava o amanhecer o começo de um novo dia – na manhã seguinte os convidados se reuniam na casa da noica onde faziam sacrifícios e se ouviam os "Auspices" (adivinhos, oráculos) e depois vinha o casamento propriamente dito as declarações e consentimento de ambos, cujas mãos, uma mulher "a Pronuba" unia solenemente. Este gesto, "Dextratarum Junctio" manifestava e simbolizava a união dos conjuges, que a partir disso se transformavam em um só ser. Pedia-se então aos deuses que abençoassem a união. Estranhamente os deuses invocados era um masculino e quatro femininos: Jupíter pelo testemunho dos céus, Juno a protetora dos casamentos, Vênus para a paixão, Fides a deusa da palavra empenhada e Diana a parteira para que viessem os filhos. Estas invocações nos mostravam que a mulher era a mais dotada dos poderes divinos.
Depois de outro sacrifício e banquetes se esperava até o anoitecer e o aparecimento da estrela Vesper.
Quando os amigos do noivo, talvez para lembrar um ato criador de Roma raptavam a noiva como os primeiros romanos fizeram com as Sabinas. A noiva fingia estar assustada, resistia e se refugiava nos braços da mãe, de onde era arrancada e seguiam em cortejo guiado pela "Pronuba" até a casa do noivo. Este alegre cortejo era acompanhado por cantos obscenos, pelo valor apotropáico para afastar o mal olhado e estimular a fecundidade do casal.
No cortejo a noiva era acompanhada por 3 animais que tivessem pais vivos e um deles carregava uma tocha de espinheiro-alvar e os jovens amigos do noivo tambem carregavam tochas para iluminar o cortejo. A noiva era acompanhada por duas criadas que levavam nas mãos uma roca e um fuso, simbolizando o trabalho doméstico da futura senhora – este era o único trabalho doméstico exigido da esposa nascida livre, até mesmo na casa de Augusto as suas tunicas eram fiadas e tecidas pelas mulheres da família.
Com a chegada do cortejo a casa do noivo, a noiva fazia preces as divindades do limiar, untava os batentes com óleo e prendia tiras de lã e depois erguida pelos rapazes ( para evitar um tropeço de mau presságio) atravessava a soleira e era então apresentada as divindades da casa.
O noivo que a esperava no Atrium oferecia-lhe Água e Fogo, os dois elementos vitais e indispensáveis aos ritos sagrados. E finalmente a jovem noiva dizia a formula que é o titulo desta postagem "Onde Fores Gaius, Serei Gaia" e começando sua nova vida oferecendo três moedas: uma ao marido, outra aos deuses do lar e a terceira aos lares na encruzilhada mais próxima.
Fonte: O Amor em Roma e A Vida em Roma na Antiguidade do Pierre Grimal e Curso de História Roma de André Alba
segunda-feira, novembro 12, 2007
Minha Mulher
Quem vê assim pensa que você é muito minha filha
Mas na verdade você é bem mais minha mãe
Meu bichinho bonito
Meu bichinho bonito
Meu bichinho bonito
Tudo é mesmo muito grande assim
Porque Zeus quer
Minha mulher
Minha mulher
Minha mulher
Quem vê assim pensa que você é muito minha filha
Mas na verdade você é bem mais minha mãe
Meu bichinho bonito
Meu bichinho bonito
Tudo é mesmo muito grande assim
Porque Zeus quer
Minha mulher
Minha mulher
Minha mulher
Quando eu for velho
Quando eu for velhinho
Bem velhinho
Como seremos?
Como serei?
Como será?
Meu bichinho bonito
Meu bichinho bonito
Meu bichinho bonito
Tudo é mesmo muito grande assim
Porque Zeus quer
Minha mulher
Minha mulher
Minha mulher
(Caetano Veloso – Minha Mulher)
quarta-feira, novembro 07, 2007
MARS VLTOR
O culto ao Divus Julios juntamente com o de Venus Genitrix visavam firmar a conexão dos governantes da Roma Imperial com os deuses da Cidade. Julio César depois da sua Vitória contra Pompeu ergueu no Fórum Romano um templo a Venus Mãe exatamente para homenagear a si mesmo e a "gens" a qual pertencia, a dos descendentes de Iulo (Ascanio filho de Enéas e neto de Venus) a Gens Iulios. Augusto ao elevar Júlio César á divindade reafirmava isto. Porém quando levantou o Grande Templo a Marte Ultor, Augusto consolidou a sua família (gens) ao deus fundador da Cidade.
Marte Ultor é o Marte vingador do sangue de Iulo e seu templo foi erguido depois que o ultimo dos assassinos de Júlio César foi morto, para mostrar que era da vontade dos deuses que o sangue de César fosse vingado.
Ultor é a palavra latina para Vingador e Marte Ultor é sua pesonificação divina. Ele é amante de Nemésis (Ultrix) e é acompanhado por seus filhos Fobos e Deimos (Medo e Terror) e pelas Fúrias enquanto caminha pela terra buscando a vingança de quem ofende aos deuses e a sua linhagem. É o ultimo epíteto de Marte, pois não existe mais nenhum após ele. Quando as leis humanas não condenam a um transgressor das divinas leis do universo regidas por Têmis é a Marte Ultor que vai cobrar a divida.
Aparentemente aterrador, só deve ser temido por quem despreza ou tenta se comparar aos deuses, para estes a sua espada vingadora decepa a cabeça logo apos ele Ter confirmado sua identidade no pergaminho que carrega. Para os demais ele se comporta como um soldado, é amigo dos amigos e os protege.
Ao contrario da Grécia que via em Ares um Deus estrangeiro proveniente da Tracia e como estrangeiro tratado como bárbaro, o Marte romano tinha varias configurações e era adorado em vários nomes e variadas funções. De Deus fundador da Cidade na forma de Quirino (um deus sabino representado por uma lança - Quiris). O culto foi criado por Numa Pompilio o 2º Rei de Roma na figura de Rômulo, o fundador da cidade que foi colocado no rol dos deuses da cidade como Marte Indígite (classe de deuses, que tinham apenas uma função e que eram os deuses originais de Roma – dii Indigetes). Quirino era epíteto de Marte e Jano, Augusto quando Imperador adotou este nome. As Quirinais, festas em honra a Rômulo, transformado em Quirino, eram celebradas em 17 de fevereiro.
Gradivus, Pater Gradivos ou Rex Gradivos cuja a raiz parece ter vindo de grandis, grandire, ou seja, crescer. É o deus que faz crescer as plantações, assim como os romanos o Mars Gradivo era Agricultor e depois se tornou guerreiro.
Marte, Marspiter (Pater Mars) ou Mavors, palavra que se assemelha mors (morte) eram nomes para o Deus da Guerra dos romanos. Seus cultos eram dirigidos por um Flamen* (flâmine) e seus sacerdotes chamados de Sálios que executavam em sua honra danças guerreira nos vários templos do Deus na cidade. O primeiro mês do ano Março era dedicado a ele e O local para treinamentos militares dos jovens romanos era chamado de Campo de Marte.
Foi identificado com o Ares grego, apesar da pouca semelhança que havia entre os dois.
AVE PATER GRADIVUS, que sua energia faça a força crescer em nós !
* Flâmines – classe particular de sacerdotes instituída por Numa Pompilio. Eram chamados assim pelo fio de Lã laranja que amarrava seus cabelos.
A principio eram 3 destinadas as maiores divindades de Roma: Jupíter, Marte e Quirino (Jano), depois seu numero foi aumentado para 15, os três primeiros Chamados de Flâmines maiores eram tirados do Senado, os demais os Flâmines menores eram escolhidos nas famílias plebéias.
Dialis Flamem era o maior deles e era o sacerdote de Júpiter.
terça-feira, novembro 06, 2007
Hecáte e Dionisio
O que parece improvável, pois geralmente consideramos Dionisio o deus do vinho e da alegria e Hécate uma deusa dos mundos inferiores, é perfeitamente cabível quando nos aprofundamos no mito de Zagreus o primeiro Dionisio.
Zagreus foi desmembrado e comido pelos Titãs, porém Athena com o rosto coberto por caulim se juntou aos titãs e subtraiu dos Titãs o coração de Dionisio, que continuou pulsando em suas mãos, e o levou a Zeus.
Zeus construiu uma imagem de Dioniso com seus restos calcinados pelo fogo, misturados aos restos dos titãs esturricados por seus raios e nesta imagem guardou o coração pulsante de Dionisio Zagreus, até que chegasse o momento de seu segundo nascimento.
Zagreus era um Deus e portanto imortal, porém, sem seu corpo deveria descer ao Hades, mas o seu coração pulsante dizia que ele ainda estava vivo, e não conseguiu atravessar a terra dos mortos para chegar ao tártaro onde são guardados os espíritos imortais.
Neste período vestiu seu espirito com uma pele de cabra preta e seguiu o cortejo de Hécate como Zagreus Melánagis (o da pele de cabra preta) sendo conhecido como Dionisio Niktélios o que caminha a noite.
O culto de Dionisio Melánagis foi iniciado pelas filhas de Eleutero para quem Dionisio aparece como um fantasma vestido com a pele negra, quando elas não o aceitaram e o injuriaram. O deus as enlouquece, para voltar a sanidade as moças são obrigadas a adorar Melánagis, o Dionisio escuro associado aos mortos.
Um outro culto que nos leva esta associação ente Dionisio e Hécate é o seu culto em Olímpia onde Dionisio era invocado com o titulo de Herói como corresponde a habitantes do mundo subterrâneo. Era invocado pelos gritos " Axie Taúre!" ( digno touro) e pelo cantico:
Vem Dionisio Herói
Ao templo á beira mar
Vem com as graças do puro templo
Vem Raivando, com pés de Touro
Ainda não podemos esquecer da ligação de Dionisio com Ariadne a Senhora do Labirinto, que muitas vezes é vista como mãe e esposa do Dionisio Cretence, uma deusa dos mundos subterranios que morreu e foi enterrada com um filho vivo no ventre, que nasce e trás de volta sua mãe a vida. Nesta visão de Ariadne como Perséfone fica mais clara ainda da ligação de Dionisio, ou pelo menos Zagreus, com Hécate.
quinta-feira, novembro 01, 2007
Ave Júpiter
Virgílio mostra Enéas e os seus companheiros presas de uma horrível tempestade e na iminência de perecerem. A deusa. Vênus, aterrorizada, implora a seu pai, o rei dos deuses. "Que crime cometeu o meu Enéias contra ti, e que fizeram os Troianos para que, após tanta luta, procurando chegar ã Itália, vejam toda a terra fechar-se diante deles? Entretanto, era deles que devia nascer Roma. Tu o prometeste; que te fez mudar, pai?" Então Júpiter acalma-a nestes termos
"Nada temas; o destino dos teus permanece imutável: como prometi, poderás ver a cidade e as muralhas de Lavinium e transportarás o magnânimo Enéas até o céu estrelado; não, eu não mudei de opinião. Sob os teus olhos, Enéas na Itália dirigirá rude guerra, aniquilará tribos ferozes; dará aos seus guerreiros muralhas e leis. Depois dele, seu filho Ascânio (que se chama também Iulo) deixará Lavínium para estabelecer o seu trono no rochedo de Alba que ele cercará de sólidas muralhas. A sacerdotisa, de família real, cara a Marte, terá dois filhos gêmeos. Depois Romulo, por seu turno, perpetuará a raça, erguerá os muros de Marte e dará o seu nome ao povo dos Romanos. Não limito o seu poder nem no tempo nem no espaço: dei-lhes um império sem fim"
Pelo que sinto, Júpiter cumpriu suas promessas, se não o povo romano, mas a igreja que leva o seu nome ainda mantém um Império, que esqueceu-se dos antigos deuses. Em nossas leis e costumes ainda encontramos a civilização romana. Devemos despertar novamente os deuses, para que eles façam que o mundo retome seu curso e o equilíbrio volte ao nosso planeta