quarta-feira, novembro 28, 2007

Díke e Hýbris a procura da justa medida.



Quando estudamos a mitologia grega muitas vezes esquecemos do equilíbrio que devíamos ter entre Díke a Piedade, que diferente do sentido cristão onde é vista como dó, significava para os antigos "Devoção" aos deuses e as leis divinas e a Hýbris é a ausência disso, é o Desmedido Orgulho e o Exagero e Excesso de Devoção que ultrapassa o metron (a medida de cada um).

Devemos portanto servir aos deuses de acordo com o nosso conhecimento e capacidade, ir alem disso cairemos nos braços de Ate (o engano) e exaltaremos nossa Hýbris e a inveja nos acompanhará e seremos abandonado por Aidós (a temeridade) e fatalmente cairemos nos braços de Nemésis, aquela que nos exalta e eleva, para em seguida nos derrubar, afinal, dói bem mais cair das alturas.

Um exemplo Clássico disso é o de Aquiles o grande herói da guerra de Tróia, cujo destino era morrer após a derrubada de Tróia coberto de todas as Glórias.

Ao matar Heitor, perdeu a Díke e exaltou a Hýbris, arrastando por três vezes o corpo do príncipe em torno da cidade troiana e negando o seu corpo a terra. O enterro de um Heroi é direito divino e o filho de Peleu, contrariando as Leis de Têmis (vejam Antígona, que luta pelas leis divinas contra as leis dos homens), deixou seu corpo como pasto as feras e pássaros carniceiros. Por sua Hýbris, quase pôs toda a guerra a perder dissipando sua glória e seu direito a tomada das muralhas e prolongando a guerra por mais um ano. Apolo aquele que tem em seu templo o aviso para os desmedidos e violentos: Apreenda a conhecer a ti mesmo, incorpora em Páris e abate Aquiles com uma só flecha, no calcanhar. Lembrando o que nos diz Aristóteles em sua Retórica ( 2,21) ou no ditado latino "memento, homo, quia pulus es" Lembra-te, homem, de que és pó.

Vários textos nos advertem contra a desmesura:

O poeta Teógnis (século VI a.c.) adverte seu amigo Cirno: "Nada persigas em demasia; um meio termo é a melhor de todas as soluções."

Ésquilo, na tragédia os Persas, traz do Hades o fantasma de Dario para reclamar da desmesura de seu filho Xerxes ao unir a Europa e Ásia, com sua ponte de barcos, contrariando a vontade dos deuses que criaram os continentes separados e Este declama no teatro de Dionísio em Atenas:

"E os cadáveres amontoados, na sua linguagem muda, revelarão aos olhos mortais, até a terceira geração, que o homem não deve Ter sentimentos orgulhosos, pois a Hýbris, ao amanhecer, produz espigas de erro e a seara ceifada será tão somente de lágrimas."

Pindaro ( seculo V-VI a.c.) define com precisão que o homem só pode se erguer até a sua limitação, controlando a sua Hýbris:

" Seres Efêmeros! Que é cada um de nós?
Que não é cada um de nós?
O homem é o sonho de uma sombra! ( Pitícas, 8, 95-97)

Por estas, podemos perceber os malefícios e o perigo que representava para os gregos ( e para nós) o arroubo provocado pela Hýbris.

Um comentário:

Efeito Rizoma disse...

Essa hora da noite, voila que encontro uma grande ajuda no seu blog.
Obrigado pela explicação. Estou lendo Mito e pensamento entre os gregos de Jean-Pierre Vernant e nao compreendia bem a Dike e a Hybris.
Saudações.