quinta-feira, janeiro 05, 2012

Aquele Azul


* foto tirada com celular sem filtros nem Photoshop

Às Vezes a Natureza se mostra tão descaradamente linda na sua frente, que se você não fotografar, ela se recente e a beleza se esvai... Dizia eu para a Jane, minha aluna de “Olhar Fotográfico” quando ela comentava que ficou admirada com o numero de elogios que recebeu, por umas fotos de nuvens, que ela fez da janela do seu apartamento.

É admirável, perceber que ensinando nós passamos o conhecimento, mas para fazer isto corretamente precisamos aprender como passar coisas intangíveis. Como explicar aquela luz de fim de tarde, quase noite, em que o céu fica com um azul Royal profundo, e que dura apenas poucos minutos? Precisamos apreender de novo, lembrar quando vimos pela primeira vez esta luz, lembrar de cada sensação e de cada foto que tiramos neste momento. Recordar as emoções que aquele azul te fez sentir. Lembrar o cheiro do azul, do gosto, o som daquela cor e o reflexo daquele azul caído sobre a sua pele. 

É claro, que ela não sentiria aquele azul da mesma forma que eu. Eu conheço este azul há muitos anos, e ela esta conhecendo agora. Eu Fotografava, tinha que esperar terminar o filme, sim, porque você olhava muito mais e só fotografava o melhor, estudávamos o ângulo antes de clicar, passeávamos em torno do assunto, descobríamos a sua plasticidade e só então clicávamos, filmes e revelações eram caros, nós tínhamos que ver a foto revelada, antes de levantar a câmara e ajustarmos o foco, clicava muito menos, mas tirávamos fotos melhores, com o filme terminado, precisávamos terminar a viagem, voltar pra casa, levar o filme no laboratório, esperar alguns dias, para que ficassem prontas, não existia revelação em uma hora. Quando finalmente o envelope com as fotos estava na sua mão é que você via o resultado, se a foto saiu como você queria, era a maior alegria, algo te inundava o coração, tínhamos orgulho da nossa foto.

Hoje, com as câmaras digitais estas coisas todas se perderam... Clicam, clicam e clicam e depois apagam todas que não prestam por isto que as pessoas estão perdendo o Olhar Fotográfico.

E com todas estas facilidades de hoje, estamos perdendo também nossa maneira de sentir outras coisas e trabalhar com nossos sentidos, antes guardávamos telefones na cabeça, hoje nossas memórias estão guardadas no celular... E assim em tantas coisas que vivemos se perdem quando o HD do computador pifa.

Esta dificuldade de passar conhecimento, que falei no principio, começa a ocorrer em todas as áreas, veja que em qualquer estabelecimento comercial a contas, Mesmo as mais simples são feitas com calculadora, nem mais a tabuada ou somas como R$4,25 + R$4,25 ou seja dois maços de cigarros , são feitas nas calculadora, já que as pessoas perderam a capacidade de somar.

Na verdade o que eu queria dizer quando comecei este post é que não olhamos mais para o que a natureza nos mostra e em consequência disso, não olhamos de verdade nem para a pessoa que está ao nosso lado. Estamos nos individualizando cada vez mais, nos preocupando apenas com nós mesmos, e quando vamos ensinar ou explicar algo para alguém, fazemos com o que conhecemos, como se esta fosse uma verdade absoluta. Não nos importa se a pessoa compreendeu ou não. 

E é isto que está se transformando nossas vidas, não vemos mais as outras pessoas como víamos antigamente. Antes as observávamos buscando entender o que ela sentia e pensava. Hoje na maioria das vezes vejo que as pessoas só se importam com o que vêem e sentem, o outro é como uma foto numa câmara digital, se não gostamos de algo os deletamos.
Esquecemos do azul, esquecemos do encantamento, perdemos a paciência de esperar o dia seguir seu curso até que o céu se transforme. Queremos agora, temos pressa para tudo e o mesmo acontece com as pessoas que conhecemos, não temos paciência para esperar que ela se mostre, nem tempo para que o amor aconteça tudo deve vir pronto, instantaneamente.
Assim vamos perdendo o sentido da visão, hoje na paquera, poucos se olham, os rapazes vão agarrando as moças pelo braço e partindo para o beijo, outra vez como numa câmara digital, varias podem dizer não, mas serão tantas tentativas e as maquinas são tão automáticas que alguma foto sairá boa, como alguma garota ou varias aceitarão o beijo, pois o fenômeno não é só masculino, mas sim humano. Todos estamos perdendo nossa humanidade, nossa sensibilidade. Até onde vamos com isto? Sei lá, mas espero que acordemos logo deste sonho tecnológico, que tudo deve ser mais rápido, produtivo e que não podemos perder tempo.
Mas eu ainda gosto de olhar, dar voltas em torno do assunto, observar ângulos e facetas e esperar o momento de gloria da natureza eu prefiro esperar aquele azul, prefiro o encantamento que a pressa.

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