Mesmo depois da
revolução sexual em meados da década de 60 do século passado, a civilização
ocidental se manteve preconceituosa e com uma série de equívocos em relação ao
sexo e ao amor.
Recentemente o Papa Bento XVI, na encíclica Deus Caritas Est (em português:
Deus é Amor), dividiu o amor em três partes utilizando os termos Eros, Ágape e
Philia.
Eros é o amor sexual, do mito de Eros e Psique, onde o amor físico e a alma
não se encontram, não se vêem, e quando a Psique (a Alma), por curiosidade quer
ver o rosto do amado, acaba por feri-lo e Eros (o Amor) foge.
Ágape (refeição festiva) representa o amor maior, o amor do Cristo pelos
homens, pois ele, através Transubstanciação, oferece na eucaristia seu sangue e
corpo como a refeição da alma, como se apenas o amor a Deus alimentasse a
alma.
Philia é o amor entre iguais, mas como a igreja condena o homossexualismo, ele
se refere ao amor pela humanidade, o amor de amigo. Um louvor à amizade. Vemos
assim o amor do deus cristão aos homens e destes a ele como o amor superior, a
amizade como o amor ideal entre homens e mulheres e o amor carnal (aquele que
foge da alma por mais que esta o busque).
A civilização ocidental não é muito diferente ao falar em amor e sexo, como se
pode observar em três visões da literatura. Há, por exemplo, os contos de amor
cortês nos quais o sexo era praticamente eliminado, como em Lancelot e
Guinevere, que se amam, mas não realizam o amor e, quando o fazem, a culpa que
recai sobre eles e os leva a uma vida religiosa e de recolhimento. Ou o conto
de D. Juan, o sedutor que arruína a vida de donzelas, pois seu impulso é sexual
e, após a satisfação de seus desejos, abandona as donzelas desonradas e é
condenado ao fogo do inferno cristão. Ainda na literatura, temos histórias de
amores plenos, mas estes sempre terminam em tragédia, como em Romeu e Julieta,
onde dois jovens se entregam de corpo e alma ao amor e, pela incompreensão dos
humanos ao amor, se matam, “vem liquido amargo, vem guia cruel, e eu como um
barqueiro desesperado lanço meu barco ao encontro das rochas” diz Romeu ao
tomar o veneno.
Quando penso em amor, o mito que mais me recordo é o de Tristão e Isolda, que
se entregam mutuamente e nada consegue destruir o amor de ambos, que fez com
que os amantes perdessem os bens, propriedades e honra mas nunca um ao outro.
Enfrentaram as mais cruéis necessidades e adversidades, mas sempre se buscavam,
misturando o amor de alma com o físico, vivendo todas as faces do Amor e, mesmo
que durante os séculos cristãos onde todos os antigos mitos e lendas foram
deturpados, este mito termina com um final trágico, afinal amar sem pudor e com
uma total entrega só pode mesmo resultar em tragédia. Os escribas não
resistiram e fizeram dos seus túmulos nascerem uma videira e uma roseira, que
se enroscavam e se emaranhavam sendo impossível separá-las, mostrando que nem a
morte consegue separar aos que amam de verdade.
Sempre me pergunto como conseguiríamos quebrar este dualismo que divide o amor
em amor bom e amor mau e que separa o sexo do sentimento e o corpo da alma ?
Como amar com todo o sentimento sem fundir a carne na luxúria, sem entrar em
êxtase e comungar com a amada o momento exato da criação do universo? Ou, por
outro lado, como é possível fazer sexo sem sentimentos, ainda que com técnicas
apuradas e pirotecnia, sem a partilha de sentimentos?
O que quero aqui é mostrar que o amor, como a deusa que o rege, tem muitas
faces e, se queremos viver o amor, precisamos saber que devemos viver cada uma
das faces de Cipris, a divindade que nasceu da ultima ejaculação do fértil
Urano, o terceiro Deus dos deuses da mitologia grega.
Portanto peço às musas que me inspirem, pois falar de Vênus, a deusa que se
mostra em plenitude nas noites insones dos amantes, é muito difícil, pois seu
maior mistério é justamente não ter mistérios. Vênus se mostra por inteiro a
nós todas as noites do ocaso até o amanhecer, percorrendo o corpo de seu pai, o
céu noturno, e mora na simplicidade dos beijos, na suavidade das carícias e
também no furor e urgência do sexo dos que se amam.
Por ser muito difícil falar dela, vou falar de palavras que derivam de seu nome
e que mostram a diversidade do amor pleno.
Veneratio
O amor só acontece quando existe a entrega, pois sem esta, ou sem confiança e
verdade, há apenas um simulacro do amor, que enquanto cópia reivindica sua
autonomia e deixa de depender do original, se liberta deste e se transforma num
substituto, e gera as distorções que vemos neste mundo pós-moderno em que
vivemos. Portanto é necessária a entrega, e esta estava para os romanos na
palavra “Veneratio” (Veneração em português) que muitos traduzem apenas como
adoração ou devoção estremada, e usada pelos católicos nos cultos marianos.
Porém para os romanos o “Veneratio” era muito mais, era uma entrega total a uma
divindade, o abandono do seu destino a ela, é a isenção do orgulho e de toda
presunção frente à divindade. O ser humano, no Veneratio, agrada aos deuses
para que fiquem encantados, seduzidos e fascinados por quem se dirige a eles, e
lhes dedicam atenção.
Um exemplo de Veneratio é o do cônsul romano Públio Décio Mure que, em uma
batalha quase perdida contra os latinos na Campânia, invoca aos deuses e se
entrega em sacrifício a eles, investindo sozinho contra todo o exército
inimigo, pedindo aos deuses que infundissem terror e pânico nestes, e desse a
vitória aos romanos. Tito Livio nos conta esta passagem no História de Roma -
livro VIII; 9;13: “Assim, o terror e o pânico penetraram com ele nas primeiras
fileiras do exercito latino e logo depois se propagaram a todo exercito. Ficou
provado que por onde quer que passasse seu cavalo, os inimigos se aterrorizavam
como se atingidos por um astro maldito. No momento que caiu transpassado pelos
dardos, as coortes latinas, tomadas de pânico incontrolável, debandaram,
deixando o terreno totalmente livre... ... No dia seguinte encontraram-no sob
um montão de cadáveres inimigos, crivado de dardos.”
Veneratio, apesar do exemplo aparentemente negativo acima, é dizer sim aos
deuses, é estar pronto para seguir o seu destino, e seguir o destino significa
deixar de lado conceitos morais e sociais. É um abandono aos ressentimentos,
pois afinal todo nosso passado já estava decidido pelas moiras. É se esquecer
dos preconceitos e de idéias pré-concebidas sobre os outros, afinal, estes
também só cumprem os seus destinos. Finalmente, Veneratio é não pensar no
passado ou futuro e viver intensamente o presente. A veneração é impossível se
não estivermos em paz com o mundo e com nós mesmos, com a época em que vivemos
e com o que e aqueles nos rodeiam.
Venerar Vênus é estar disposto a reconhecer toda a gama de manifestações da
divindade e aceitá-las. Castidade, orgia, matrimônio e prostituição, monogamia
e poligamia, heterossexualidade e homossexualidade não são realidades
incompatíveis entre as quais é obrigatório escolher de uma vez por todas, mas
situações a serem apreciadas no momento oportuno sem que isto seja considerado
pecado ou obrigatório.
Vênus se apresentava à veneração dos romanos sob duas formas (e suas variações)
aparentemente incompatíveis: como Venere Verticordia (A Vênus que abranda os
corações) e como Venere Erícina (da cidade de Erice). O culto da primeira tinha
a função de levar o ânimo das jovens e das mulheres à pudicícia; o culto da
segunda, de origem siciliana, mas, elevada à hierarquia de divindade romana e
venerada com a edificação de um templo no Capitólio, estava, ao contrário,
estritamente ligado ao exercício da prostituição. A atribuição de qualidades
tão diferentes à mesma deusa não deriva em absoluto de um comportamento
niilista ‑ que não quer comprometer‑se e por isso está ora de um lado ora de
outro, favorecendo ambos ‑, e sim de uma profunda intuição que se manifesta na
qualidade do culto. Conta Diodoro Sículo que os magistrados romanos, cada vez
que iam à Sicília, nunca deixavam de honrar o santuário de Erice com
sacrifícios e homenagens, "para comprazer a deusa, esqueciam a gravidade
do seu compromisso para divertir‑se alegremente em companhia de mulheres".
Veneratio, enfim, é dizer sim a si mesmo. Não exatamente aos próprios desejos,
aos próprios sonhos e aos próprios ideais: todas essas coisas estão muito impregnadas
de negação e de ausência, são muito abstratas e inconsistentes para poderem ser
tomadas de verdade como elementos ou aspectos de si mesmos. Venerar quer dizer
estar em paz consigo mesmo, exercer a vontade retroativamente. É transformar
nosso passado numa seqüência de fatos que nos fizeram ser o que somos hoje, sem
mágoas ou arrependimentos, mas apenas destino. A veneração é amor fati (Amor ao
Destino), aceitar aquilo que foi e aquilo que é, sem se fechar num círculo de
eterno retorno do igual, da mesmice, mas sim, viver o presente sem estar
condicionado ao seu conteúdo. Portanto, ao contrário de abandonar-se ao
destino, a veneração transforma qualquer acontecimento presente em destino,
mesmo porque todo o passado já foi marcado por ele.
Venia
Outra face de Vênus está em outra palavra derivada do nome da Deusa, “Vênia”,
que hoje vemos como um pedido de licença ou desculpas, mas que para os antigos
romanos significa muito mais.
Se o Veneratio é a entrega de sua vida aos Deuses, Destino ou a outra pessoa, a
Vênia é a aceitação dos deuses ou do outro, sem licença nem perdão, já que não
há o que desculpar ou perdoar. Portanto a Vênia é aceitação do Veneratio, é
consentir o amor e corresponder a este amor, também se entregando.
Quando falo em entrega, não imagino aquelas juras ditas nos casamentos
religiosos, as promessas de fidelidade e amor até que a morte os separe, mesmo
porque não acredito em amor que dure por si só. Já dizia Ovídio em seu Arte de
Amar: “a conquista é apenas parte do amor, pode ocorrer até por um lance de
sorte, porém manter a conquista é onde se encontra a verdadeira Arte” (e sorte,
como veremos abaixo, não é atributo de Vênus). Assim, amar é um exercício
diário de conquista, é a aceitação (vênia) do outro por inteiro com defeitos e
qualidades (todos somos humanos), é aprender a conviver com as diferenças.
Afinal, quando amamos nos sentimos unos ao universo, mas é o amor entre pessoas
e as influências da vida e da educação de cada um que formam a personalidade.
Portanto o amor acontece pelas diferenças, o que falta em nós e o outro
completa, e semelhanças que levam à identificação com o outro.
A Vênia é o sim dos deuses e da pessoa amada ao amor, pois sem esta aceitação
vai ocorrer o que vemos acontecendo o tempo todo entre pessoas; apaixonam-se
pelo outro e logo após a conquista buscam moldar o outro a sua cartilha, aos
seus costumes, mas ninguém consegue mudar realmente ao outro. Mudanças podem
ocorrer, mas serão porque o indivíduo percebe que pode mudar isto ou aquilo,
pela manutenção do amor e não por obrigação do amor. Mudamos sim, quando existe
a entrega e a aceitação de ambos e quando percebemos que erramos em algo e que
isto pode ocasionar conflitos.
Venerium
Apesar de deturpado por quase dois milênios, o verdadeiro sentido da palavra
Venerium não é sexual. Ele significava, para os romanos, o melhor lance no jogo
de dados, um lance de muita sorte, um Royal Street Flash no jogo de dados, e
conseguir um numa rodada era possível somente para aquele amado por Vênus. Às
vezes alguém conseguia mais de um, o que era muito raro. Porém, se este
ganhador se jactasse da sua sorte ou do amor da Deusa, perdia tudo rapidamente.
Porque Vênus não tem nada a ver com a sorte e para os deuses gabar-se e
exaltar-se é a expressão da insolência, algo que é exatamente o contrario do
espírito venusiano.
“Nec semper Veneris spes est profitenda roganti” Nem sempre a expectativa de
Vênus é um convite declarado. O charme venusiano está nas palavras de Ovídio
“Muitas cobiçam o que foge, e a quem as assedia oferecem desdém”. Ele aconselha
moderação, silencio, calma e cortesia para os que querem se desenvolver na arte
de amar.
Anquises, pai de Enéas, era amado pela deusa, mas ela o tornou aleijado por ter
se vangloriado aos amigos de se deitado com Vênus. Pompeu se dedicou à Vênus
Victrix, associada à vitória, inaugurando templos e cultos para sua protetora,
porém de nada isto adiantou quando seu inimigo foi César (da gens de Iulo –
Julia –, o filho de Enéas, neto de Vênus). Na véspera da batalha decisiva,
sonhou que enfeitava o Templo de Vênus e percebeu que o sonho não lhe era
favorável, então trocou sua divisa “Vênus Victrix” por “Hercules Invictus” e
perdeu a batalha de Farsalo.
César vitorioso, sabia que no charme venusiano, o próprio conceito de sucesso é
fruto de encantamento e em sua volta à Roma, ao invés de fazer um templo para a
Vênus Vitoriosa, ele o fez pra “Venus Genitrix” - a Vênus Geradora -, a Vênus
Mãe, numa demonstração clara de que ele sabia que a vitória é simplesmente uma
conseqüência da proteção venusiana.
Os benefícios dados por Vênus de forma alguma dependem de fatores aleatórios
como a sorte ou o azar, mas sim de “Charme” (feitiço, encantamento) da Deusa,
que dá aos seus protegidos a certeza da vitória não importando o tipo de empreendimento.
A deusa protege aqueles que lhe rendem culto, aqueles que fazem o Veneratio,
não apenas se entregando totalmente a ela como também se entregando totalmente
ao amor, sem pudor ou medo, pois a beleza é a mãe do amor. Vênus acolhe em seu
seio os amantes e jamais os desampara. Alimentando tanto a paixão quanto o
restante da vida terrena, aos amados de Vênus jamais faltará teto ou comida.
Porém, àqueles que se amedrontam com seus próprios sentimentos, fogem ou
desprezam os presentes de Cipris, ela reserva dor e lagrimas.
Ciúmes em demasia ou desconfiança afrontam a deusa, já que a paixão é presente
dela. Como num Veneratio, devemos nos entregar por inteiro e não nos
preocuparmos com mais nada, pois ela cuidará de tudo. Mas como no jogo de dados
devemos lembrar que o Venerium não acontece toda hora, e se esperarmos que ele
aconteça sempre cairemos na presunção que os deuses detestam e entregam a
Nemèsis, aquela que exalta aqueles a quem vai derrubar.
Venenum
A palavra latina Venenum tem o mesmo sentido da phármakon grega, ou seja,
“Droga”, que pode curar ou matar. É a mesma palavra para remédio ou veneno.
Isto parece indicar o caráter da Deusa que, como vimos no Venerium, dá e retira
suas bênçãos de acordo com seu humor. Mas não é somente esta afinidade com o
termo grego que nos leva a uma das principais características do charme
venusiano.
Também existia no grego uma muito próxima a phármakon, que fazia uma oposição
ao termo “Droga”: Pharmakós, que designava o bode expiatório sacrificado para
purificar a cidade dos males que a afligiam. O sacrifício de um cidadão, dentro
da antiga lógica de uma parte pelo todo (Pars pro totto) que existe desde a
pré-história, era aplicado na Grécia, tanto que suas cidades mantinham
malfeitores e degradados para quando alguma praga ou mudanças naturais ameaçava
a sobrevivência delas. Um membro da comunidade era sacrificado ou expulso para
que os outros se salvassem. Em Roma houve poucos casos de sacrifício ou
expulsão de cidadãos, e quando este acontecia, como o caso do cônsul Décio, era
uma entrega do próprio cidadão de seu destino aos deuses, pela cidade, pelos
seus cidadãos e por sua legião, como discursou em sua evocação o Cônsul.
Portanto o Venenum não tinha uma relação com o sacrifício tão direta quanto o
Pharmakós dos gregos, mas em uma frase de Isidoro de Sevilha, encontramos este
testemunho: “Veteres vinum Venenum vocabant” - Ao vinho os antigos chamavam de
veneno. Esta frase, unida ao estudo das festas romanas da Vinalia, destaca o
caráter sagrado do vinho como bebida venusiana e da substituição do sangue dos
sacrifícios pelo vinho em seus cultos. Pois nas tradições mais antigas de
Dionísio não se faz referências ao vinho; a embriaguez dionisíaca ocorre pela
dilaceração da vitima e pelo consumo de sua carne e sangue, numa referencia ao
sacrifício de Zagreus, o primeiro Dionísio pelos Titãs. Assim o a Homofagia
(comer carne crua), o sacrifício sangrento a Dionísio funcionava como o
Phármakon que restaura a ordem social e a paz (como na comunhão cristã). Na religião
de Vênus, ao contrário, o Vinum-Venenum é considerado o sangue da terra que
toma o lugar do sangue humano, e isto implica na recusa da violência no culto
da deusa.
O charme venusiano também esta ligado à aparência. Venenum também quer dizer
corante, tintura e cor, que por extensão nos remetem à maquiagem, cosméticos e
também à água tinta de mirto, que as matronas e as mulheres castas de Roma
usavam para se lavar nas festas da Veneralia (1º de abril) dedicadas a Vênus
Verticordia, onde castus que tinha o significado de aquele que segue aos ritos,
portanto purificado e limpo. E a todo 1ºde abril as Castae (mulheres castas e
puras) eram tanto as matronas romanas, quanto as prostitutas que celebravam os
ritos de Vênus.
Um antigo culto romano celebrava a Vênus Libitina, a deusa dos ritos
funerários, numa mostra da sabedoria dos antigos, pois este culto não celebrava
o lado trágico da morte mas fazia coincidir o aspecto cultural da morte com o
nascimento, fazendo com que o encanto de Vênus esteja presente no principio e
no fim da vida. E o charme* venusiano presente na vida inteira do ser humano.
Os
muitos nomes atribuídos a Vênus, mostram que ela reinou sobre uma ampla gama de
atribuições, chegando a espelhar-se com a grande mãe do neolítico em poder e
participação da vida dos humanos. Dentro destas centenas de nomes, muitos dos
quais ligados as cidades onde seu culto era feito, ou das suas atribuições em
cada face, escolhemos 13 que podem representar a maioria destas faces, pois são
momentos da vida humana, principalmente das mulheres. Os homens também sentem
estas influencias, porém é na mulher que Vênus mais se mostra.
Vamos trabalhar a cada jornada, com um destes epítetos e buscar a
compreensão do universo feminino, nesta que nos acompanha do nascimento ao
tumulo, e até além dele com a face Persephaesa ou Persefada, a rainha do
Submundo. Ou ainda aquela que caminha entre os túmulos a Vênus Epitrimbia.
Urania, a deusa da beleza universal,
como nos fala Plotino: “Tais belezas só podem ser vistas por aqueles que
vêem com os olhos da alma. E quando as vêem, experimentam um deleite, uma
alegria e um assombro bem maiores do que os experimentados diante das belezas
precedentes, pois nesse caso contemplam o reino da verdadeira beleza.” Tal como o amor que está acima do corpo, é aquele que a simples
lembrança do ente amado, faz que o coração dispare. É o amor que temos por nosso próprio sangue, como aquele que damos aos
nossos filhos e netos, o amor em si, aquele que não queremos nada em troca.
Pandemia, a de todos os povos, a das múltiplas aparições, mais tarde
considerada a Deusa dos da beleza e dos amores carnais e terrenos. Mas desde do
principio a deusa da beleza terrena, a que faz brotar os jardins, e que quando
caminhava sobre a terra a cada passo, brotava uma flor.
Vitrix, A que trás a Vitória, Uma variação da Vênus como a guerreira,
como a Armata, Area, Turan, que é o momento que para proteger os seus Vênus
veste a armadura e pega o escudo e a lança. Vênus Vitrix nasce da Vênus
Ericina, a da Cidade de Erix, na Sicilia, quando durante a primeira guerra
púnica, quando o cônsul romano na iminência da derrota, pede a Ela como Mãe dos
Romanos, por causa de Enéias, que lhe conceda a vitória. Que é aquele momento
que a mulher decide ir à luta, para se defender ou defender a quem ela ama.
Doritis, A Abundante, Com as bênçãos das Carites, Uma variação da
Pandemos que também além de todas as Artes das Graças, tem o poder de Cura,
pois ela cura os seus amantes. É um momento da mulher onde a sua força e
concentração, são capazes curar a alma e o corpo do amado. O a própria
capacidade de cura da mãe em relação aos filhos.
E assim seguimos até a Libitina, o Ultimo ato de Amor, que é a
preparação do morto amado para sua viajem pelo mundo subterrâneo. Depois disso
só a Vênus Perséfada, a Vênus subterrânea que poucos sabem sua funções e que ninguém ousa dizer o nome, mas deve ser
aquela que visitamos quando descemos aos ínferos mundos em vida, quando
perdemos um amor.
A busca de todas as faces da Deusa, nos levará a uma compreensão maior de Vênus como
deusa e impulso da vida, e o que ela influencia em nossas vidas.
*Charme é uma palavra que vem de Carmen, versos rimados e cadenciados
que eram também usados em encantamentos.
Bibliografia:
Tito Livio, História de Roma – Ab Urbe Condita Libri
Mario Perniola, Pensando o Ritual
Walter Burkert. Antigos cultos de mistérios
Ovídio, A Arte de Amar
Pierre Grimal, A Vida em Roma na Antiguidade