terça-feira, dezembro 06, 2005

Aqueles que agem nas sombras, e tem nas mentiras suas armas




Esquecendo a conotação dualista das palavras, sombras em comparação a luz, o titulo acima fala dos dissimulados, dos covardes e daqueles que tem nas suas múltiplas mascaras os poderes com os quais buscam submeter as pessoas.
Gente que escreve anônimo, e se escondem em vários nicknames, circulam, xeretam, buscam pontos fracos e criam situações onde com suas línguas insidiosas introduzem mentiras em verdades transformando no verdadeiro em falso.
Um exemplo claro disso é um e-mail que recebia há semanas de uma ex namorada. Deixando bem claro que havíamos terminado numa boa e que mantínhamos um excelente relacionamento de amizade, que por si só reduzia e praticamente eliminava a dor da perda.
Pois bem, passados 3 meses do termino do namoro, eu percebi que do nada, apareceu um crescente clima de animosidade, e que algumas pessoas do meu relacionamento, passaram a me contar coisas que ela havia dito, (e como eu disse acima) entremeando verdades com mentiras, ou seja tinham bases verdadeiras, embora o resultado final resultasse em situações constrangedoras. Pois bem, e nós que já nem mesmo namorávamos, passamos de uma boa amizade para uma situação de beligerância, que durou praticamente 2 anos, até que os caminhos se separassem.
Passada a mágoa, creio que aos dois bateu saudade, não exatamente a saudade do relacionamento, mas sim das conversas, dos ideais e pesquisas comuns, afinal buscávamos a mesma coisa, um neopaganismo, muito maior que a apenas os aspectos religiosos, pois ambos viam, que mais religião o paganismo era uma cosmovisão, uma maneira de ver o mundo, algo como um movimento social e cultural, que resgataria valores pagãos e ancestrais, que o milênio de domínio do cristianismo e da sociedade dominadora que vivemos, nos impuseram.
Bem, no resumo da opera, houve algumas tentativas de resgatar este trabalho, mas neste período de resgate apareceram algumas magoas, que não haviam cicatrizado, e neste período começamos a descobrir que muitas destas magoas eram causadas por mentiras e fofocas. Algumas destas tão fortes que pareciam impossíveis de serem curadas.
Assim esta mensagem de semanas atrás, começa com um desabafo, carregado de raiva e dor, mas termina com uma possibilidade de paz. Uma paz cuidadosa e delicada, que precisaria ser levada com cuidado e com a revelação de todas as verdades, que olhadas por ambos poderia fazer sentido, e apontasse o que nunca falamos.
Um recomeço do que mais nos unia, a paixão por livros e história e as viagens que conseguíamos fazer quando discutíamos, (e eram discussões que muitas vezes durava semanas) quando os dois saiam enriquecidos e correndo em direção a uma biblioteca ou livraria se abastecendo de mais livros, para aprofundar as pesquisas.
Pois bem, no final da mensagem ela pedia que eu de coração pedisse desculpas por algo que eu tenho certeza não ter dito, ou pelo menos não disse na maneira ofensiva com a qual a versão superou o fato.
Apesar de não ter do que me desculpar, passei estas ultimas semanas, vendo de certa forma isto acontecer novamente, e já foram varias as vezes que isto ocorreu aqui na rede, onde pessoas sem rosto e com desvios de caráter, mentem e dissimulam tão bem, em busca de objetivos escusos e com inveja, deliberadamente buscam minar amizades e amores.
Pensei melhor e percebi que ainda existem amigos e amigas que perdi nestes 8 anos de vida virtual, por causa das maledicências e neste momento onde busco minha vida real, na verdade uma vidinha careta com a pessoa que amo, com poucos amigos sinceros e sem guerras estúpidas.
Então, minha amiga, independente do que eu tenha dito ou não dito, me desculpe, se por acaso algo que eu falei ou não falei, tenha te magoado, é realmente de coração, e publicamente, que eu peço que me perdoe.
É hora de desmascarar as falsidades e as provocações, vamos separar o joio do trigo, e deixar que a Ceifadora faça o seu trabalho, e cuide dos que se escondem nas mascaras.

quarta-feira, novembro 23, 2005

+ muito mais Azul




Quando você cantou pra mim aquela musica, olhando nos meus olhos e sorrindo. Os céus se abriram para que o sol voltasse e agora quando as trevas ameaçam a voltar, lembro do seu rosto e sorriso e olhos e coloco o CD que você deixou gravado pra mim e mesmo que a voz seja da Ana Carolina, mas a lembrança é de você, e tem o efeito de uma oração apotropaica que afasta as nuvens escuras e faz com que o sol brilhe e o sorriso volte ao meu rosto. E a vida percorra meu corpo como uma corrente elétrica fazendo que me coração bata forte e o sangue encharque meu cérebro, me trazendo devaneios e pirações malucas e gostosas das nossas de nossas noites e dias juntos.
Estou quase fazendo um patuá com esta letra para carregar pendurado no pescoço, para poder a qualquer momento apertar junto ao peito para aplacar a dor da distancia, quando passamos algumas horas separados.


Evidencias
(Daniel)

Quando eu digo que deixei de te amar
É porque eu te amo
Quando eu digo que não quero
Mais você
É porque eu te quero

Eu tenho medo de te dar meu
Coração
E confessar que eu estou
Em tuas mãos
Mas não posso imaginar
O que vai ser de mim
Se eu te perder um dia

Eu me afasto e me defendo
De você
Mas depois me
entrego
Faço tipo, falo coisas que
Eu não sou
Mas depois eu nego
Mas a verdade é que sou
Louco por você
E tenho medo de pensar
Em te perder
Eu preciso aceitar que não dá
Mais pra
Separar as nossas
vidas

E nessa loucura de dizer
Que não te quero
Vou negando as aparências,
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo
Se eu não posso enganar
Meu coração
Eu sei que te amo,
Chega de mentiras
De negar o meu desejo
Eu te quero mais que tudo
eu preciso do seu beijo
Eu entrego a minha vida
Pra você fazer o que quiser
De mim
Só quero ouvir você dizer
Que sim
Diz que é verdade que tem
Saudade
Que ainda você pensa muito
Em mim
Diz que é verdade que tem
Saudade
Que ainda você quer viver
Pra mim

Eu me afasto e me defendo
De você
Mas depois me
entrego
Faço tipo, falo coisas que
Eu não sou
Mas depois eu nego
Mas a verdade é que eu sou
Louco por você
E tenho medo de pensar
Em te perder
Eu preciso aceitar que não dá
Mais pra
Separar as nossas
vidas

E nessa loucura de dizer
Que não te quero
Vou negando as aparências,
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo
Se eu não posso enganar
Meu coração
Eu sei
Que te amo
Chega de mentiras
De negar o meu desejo
Eu te quero mais que tudo
Eu preciso do seu beijo
Eu entrego a minha vida
Pra você fazer o que quiser
De mim
Só quero ouvir você dizer
Que sim
Diz que é verdade que tem
Saudade
Que ainda você pensa muito
Em mim
Diz que é verdade que tem
Saudade
Que ainda você quer viver
pra mim
Diz que é verdade que tem
Saudade
Que ainda você quer viver

Un Vestido Y Un Amor (Fito Paez)




Te vi... juntabas margaritas del mantel
Ya sé que te traté bastante mal,
no sé si eras un angel o un rubi
O simplemente te vi.

Te vi, saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez, la llave de mandala se quebró
O simplemente te vi.

Todo lo que diga esta de más,
las luces siempre encienden en el alma
y cuando me pierdo en la ciudad, vos ya sabés comprender
Es solo un rato no mas, tendria que llorar o salir a matar.
Te vi, te vi, te vi... yo no buscaba nadie y te vi.

Te vi... fumabas unos chinos en Madrid
Hay cosas que te ayudan a vivir
no hacías otra cosa que escribir
Y yo simplemente te vi.
Me fui... me voy, de vez en cuando a algún lugar
Ya sé, no te hace gracia este pais...
Tenias un vestido y un amor...y yo simplemente te vi.

Todo lo que diga esta de mas,
las luces siempre encienden en el alma
y cuando me pierdo en la ciudad,
vos ya sabes comprender... es solo un rato no mas,
tendria que llorar o salir a matar...
Te vi, te vi, te vi... Yo no buscaba nadie y te vi.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Para minha Deusa




Quando te perdi, me esqueci dos deuses e o universo deixou de ter sentido. Penetrei num mundo amorfo envolto em brumas, e não reconhecia nem mesmo os sendeiros do meu próprio labirinto. Tateava pelas paredes buscando os caminhos para o centro que não mais existia, repetia de olhos fechados a dança do grou, que antes sempre me levava de volta ao meu trono, mas o que agora conseguia era apenas me estatelar pelas paredes de pedra, que mudaram todas de lugar.
Não reconhecendo minha casa, não me conhecia mais. Perdendo-te, perdi também a mim mesmo, perdi rumo e vontade, e sem mais referencias parei de reagir e caminhando sem os deuses na nevoa percebi, que você, que eu acreditava ser o meu derradeiro amor, era na verdade o primeiro, o único amor que tive, numa vida que julgava plena de amores.
Aí descobrindo o amor, depois que te perdi, acabei me redescobrindo. Percebi em mim as dores humanas e parte da minha humanidade perdida, e aí como homem reconheci meus erros. E embora sendo tarde demais, busquei você.
Ao te reencontrar vi nos seus olhos as escuras fontes de onde brotam as águas potáveis e límpidas, nascentes de toda a vida, e neles ainda existiam amor e não mais me importavam suas palavras, pois o seu olhar não conseguiu mentir pra mim, o nosso amor ainda era vivo e forte, e os deuses que eu havia abandonado, um a um voltavam a se aproximar.
Eros este pequeno demônio, filho da beleza e da guerra, que para Platão era filho da necessidade e penúria, pois era o ultimo dos sentimentos a abandonar aos homens, foi o primeiro a voltar e antes mesmo que eu recobrasse o juízo, arrancou meu coração do peito. Athena, que simboliza a razão, endureceu seu coração, para que os sentimentos ali não penetrassem, e você atendesse aos meus apelos. Hera que não admite rompimentos, me deu de presente a loucura, que tal qual a Dionísio, me dava gana de devorar a Terra, percorrendo as estradas sem destino para fugir da suas palavras e atitudes racionais. Por muito pouco não me perdi, pois, pouco conhecia do mundo que cerca o meu labirinto onde sempre fui o rei e o senhor.
Assim vazio e louco, tudo que eu queria era apagar minhas lembranças e esquecer você, mas fazendo isto, eu estaria negando a mim mesmo, e tudo de bom que existiu entre nós. E ao me negar, mataria aquele que me transformei ao te conhecer. Mas melhor a morte do ego, que a dor de viver sem você.
Planos feitos, durante minha insanidade, a minha vingança seria que você também me perderia, pois jamais eu voltaria a ser quem eu era.
Foi quando chegou Afrodite, que ao invés de suas bênçãos, me ofereceu a dor, pois me chamou a razão, como imaginar uma vida sem seus beijos, como imaginar o nunca mais? Nunca mais seu cheiro, nunca mais seu calor, nunca mais sua voz seus carinhos, e sua presença. Com isto a Deusa de Chipre, me despertou, pois muito pior que perder você seria nunca mais te ver.
Fui voltando da loucura lentamente, e me perguntando, o que havia acontecido conosco ? afinal, você já tinha me despertado a atenção na primeira vez que nos vimos, anos antes de nos conhecermos, de você se declarar minha pretendente e de nos conhecermos numa noite inteira de beijos. E mais de um ano de uma vida plena a dois.
Aconteceu, que eu me julgava um Deus capaz de controlar todas as minhas emoções, deixando minha lua em câncer, abandonada num canto qualquer. Sentir amor, sempre senti, sempre te amei, mas não o explicitava com as palavras que tanto te faziam falta. Meus atos duros e secos, não eram contra você, mas contra meus erros passados, e para nós, eu queria tudo diferente do que havia sido, e por querer diferente errei, e acabei sendo quem nunca fui, eu mesmo inteiro na relação, e isto me amedrontou, e com medo de tudo que sentia fugi de você.
Afrodite desvelou-se, e mostrou sua face negra, quando a beleza e o amor são instrumentos de tortura e assim, após perder você, perdi o medo de te amar, perdi também meu orgulho e minha força, e me mostrei humilde e fraco. E sem rédeas desembestei como um potro nascido livre a lhe dizer o que sentia e tudo aquilo que havia calado, falei de amores planos e de todas as loucuras que o amor nos leva a dizer.
Com isto descobri que nunca havia te perdido, a verdade é que me perdi de mim mesmo. E agora vejo que é impossível controlar o tempo, e que os erros do passado, só podem ser consertados no futuro e pergunto a você minha deusa:
Vamos recomeçar ? Você quer namorar comigo ?



SUPERHOMEM - A CANÇÃO

Gilberto Gil


Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter

Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver

Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh, mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe
O Superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher

Azuis



Pablo Neruda

Traduções de Ari Roitman e Paulina Wacht

POEMA 15

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,

e me ouves de longe, e minha voz não te toca.

Parece que teus olhos houvessem saltado

e parece que um beijo fechara a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias de minh'alma

emerges das coisas cheia de alma, a minha.

Borboleta de sonho, tu pareces com minh'alma,

como pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.

E estás como a queixar-te, borboleta em arrulho.

E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:

permite que eu me cale com teu silêncio agudo.

Permite que eu te fale também com o teu silêncio

claro como uma lâmpada e simples como um elo.

Tu és como a noite, calada e constelada.

Teu silêncio é de estrela, afastado e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.

Distante e dolorosa como se estivesses morta.

Uma palavra, então, um sorriso são o bastante.

E fico alegre, alegre porque a verdade é outra.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Labirinto



Já não tenho alma. Dei-a à luz e ao ruído,
Só sinto um vácuo imenso onde alma tive...
Sou qualquer cousa de exterior apenas,
Consciente apenas de já nada ser...
Pertenço à estúrdia e à crápula da noite
Sou só delas, encontro-me disperso
Por cada grito bêbedo, por cada
Tom da luz no amplo bojo das botelhas.
Participo da névoa luminosa
Da orgia e da mentira do prazer.
E uma febre e um vácuo que há em mim
Confessa-me já morto... Palpo, em torno
Da minha alma, os fragmentos do meu ser
Com o hábito imortal de perscrutar-me.


Perdido
No labirinto de mim mesmo, já
Não sei qual o caminho que me leva ...
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, outubro 20, 2005

A voz de Joana




È incrível, como podemos sentir tanta saudade da voz de uma criança, as vezes ando tão desesperado, para ouvir a voz da princesa Joana, que se encontra prisioneira de corpo e alma da Bruxa má do Oeste Ligo, vezes inutilmente e outras que ela fala muito pouco, pois a Malvada que a aprisiona, praticamente, domina sua mente.
Cercada de Espinhos impenetráveis, e guardada pela virago, vestida de magoa e ódio, não compreendeu que amor só existe a dois e que amor sem reciprocidade, não é amor, mas sim algo próximo da doença. Que transforma o amor em ódio, e de certa forma impede o contato e separa o sangue, algo que é castigado pelos deuses.
Amores que acabam, não devem se transformar em ressentimentos e fúria, a menos é claro que este rompimento fosse causado por mentiras e traições não apenas físicas, mas sim traições de alma. Que é a traição da confiança e falta de consideração.
Mas voltando a Joana, tenho feito o que posso pra não perder o contato, ligo, mesmo que assustada pela descrição que devem fazer sobre o demônio, consigo ainda arrancar duas ou mais palavras dela, ainda que sejam Pai Catacumba ou to vendo a Xuxa. Não vi a Princesa nem no seu aniversario, mas mandei presentes, e nem uma foto da menina com as roupas que mandei consegui ver.
A princesa cresce longe dos meus olhos, cercada de escuras brumas, que a escondem de mim no longínquo oeste, muito além do arco íris, so me resta a sua voz, pequena frágil e infantil a me dizer Pai, pai catacumba, vou ver a Xuxa, mas só isto, já me alegra, pois ela sabe que mesmo a distancia, existo, a amo e um dia ela ira crescer e o poder da bruxa má vai se esvair, e nos reencontraremos, mas eu já terei perdido toda a sua infância, mas ainda que triste sei, que meu sangue não se perderá, um dia a minha princesa menina vai se aproximar sozinha.

Até Pensei
Chico Buarque


Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caia, toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha
Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via
Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha
Eu andava pobre, tão pobre de carinho
Que, de tolo, até pensei que fosses minha
Toda a dor da vida me ensinou essa modinha

quarta-feira, outubro 19, 2005

Benvinda





Benvinda
(Chico Buarque)


Dono do abandono e da tristeza
Comunico oficialmente que há um lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor, ou venha coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o luar está chamando, que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança, comunico a toda gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui, ou venha pra se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Que o meu pinho está chorando, que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro, vem entrando com o ar puro
Todo novo da manhã
Oh vem a minha estrela madrugada, vem a minha namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Benvinda, benvinda, benvinda
Que essa aurora está custando, que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho
Certo de estar perto da alegria, comunico finalmente
Que há lugar na poesia
Pode ser que você tenha um carinho para dar, ou venha pra se consolar
Mesmo assim pode entrar que é tempo ainda
Ah, benvinda, benvinda, benvinda
Ah, que bom que você veio, e você chegou tão linda
Eu não cantei em vão
Benvinda, benvinda, benvinda. benvinda, benvinda

terça-feira, outubro 18, 2005

Lua Louca, Lua Lorca




MURIÓ AL AMANECER

NOCHE de cuatro lunas
y un solo árbol,
con una sola sombra
y un solo pájaro.

Busco en mi carne
Ias huellas de tus labios.
El manantial besa al viento
sin tocarlo.

Llevo el No que me diste,
en Ia palma de Ia mano,
como un limón de cera
casi blanco.

Noche de cuatro lunas
y un solo árbol.
En Ia punta de una aguja
está mi amor ¡girando!


MORREU AO AMANHECER

NOITE de quatro luas
e uma só árvore,
com uma sombra
só e um só pássaro.

Busco em minha carne
as marcas de teus lábios.
O manancial beija o vento
sem tocá-lo.

Levo o Não que me destes
na palma da mão,
Como um limão de cera
quase branco.

Noite de quatro luas
e uma só árvore.
Na ponta de uma agulha
está o meu amor girando!

segunda-feira, outubro 17, 2005

O Amor e a Lógica de Bibiana




Só naquele instante é que o padre percebeu que os Terras quase sempre principiavam suas sentenças com um mas; era o sinal de que estavam sempre discordando do que os outros diziam. Era a gente mais cabeçuda, mais teimosa que ele conhecia.
Eu sei que a Bibiana gosta desse homem. E muito.
Arrependeu-se de ter dito isso. Não podia violar o segredo do confessionário. Mas agora era tarde. A coisa lhe tinha escapado... Deus compreenderia. Deus não era cabeçudo.
Mas quem foi que lhe disse?
Não havia outro remédio senão mostrar as cartas.
Ela mesma me disse.
Como é que a Bibiana lhe diz coisas que nunca me disse?
Arminda ergueu a cabeça e soltou um balido de ovelha:
Ora, Pedro. O vigário sabe.
O Pe. Lara avançou:
Vosmecê já lhe perguntou alguma vez se ela gostava do capitão?
Não.
Pois aí está . . .
Pedro mexeu-se na cadeira. Viu uma lagartixa atravessar a parede, por trás do padre. Seguiu-a com os olhos, mas pensando em Bibiana. Por fim disse
Ela pode gostar um pouco dele. Mas vai acabar esquecendo.
Arminda ergueu a cabeça
Esquecendo? - repetiu. - A Bibíana é bem como a avó, dessas que só gostam dum homem em toda a vida. Essas nunca esquecem.
Pedro Terra suspirou, inclinou o busto para a frente, descansou os cotovelos nas coxas e apoiou a cabeça nas mãos.
É triste a gente criar uma filha com sacrifício para entregar depois ao primeiro canalha que aparece...
Já lhe disse que o governo não condecora canalhas! Vosmecê está sendo injusto. Um canalha vem da guerra com a guaiaca cheia de onças, de jóias e de coisas roubadas. O Cap. Rodrigo trouxe apenas o soldo que economizou. Não é muito. Eu vi.
Pedro olhava fixamente para o chão. O padre e Arminda trocaram um olhar significativo. Vendo que ela estava de seu lado, o vigário sorriu?lhe, agradecido.
Seja tolerante, Pedro - insistiu ele. - Receba o homem na sua casa, converse com ele, tenha paciência.
Pedro pôs-se de pé e gritou:
Bibiana!
A moça apareceu.
É verdade que vosmecê gosta deste tal Cap. Rodrigo?
Bibiana baixou os olhos. Viu as botas embarradas do pai, mas viu principalmente a face do Cap. Rodrigo. Tinha chegado a hora decisiva. Se mentisse, perderia o homem que amava. Se dissesse a verdade, poderia perdê-lo também, mas pelo menos ficaria ,com o consolo de não ter mentido. Aconteça o que acontecer - resolveu - vou dizer a verdade. Sem erguer a cabeça, balbuciou
Gosto, papai.
E vosmecê sabe que eu não gosto dele?
Sei, sim senhor.
E mesmo assim quer casar com ele?
Eu não sei se ele quer casar comigo . . .
Está visto que quer! Mas vosmecê está resolvida a arriscar a ser infeliz?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
Estou - disse, erguendo o rosto e encarando o pai.
O padre olhou para Pedro e sentiu um calafrio. O que via nos olhos, no rosto daquele homem era ciúme, um ciúme surdo, escondido, que ardia como brasa viva sob a cinza.
Vosmecê alguma vez falou com esse homem? - tornou a perguntar Pedro Terra.
Nunca, papai.
E se eu lhe proibisse de falar com ele, que é que vosmecê fazia?
Obedecia.
E ficava triste?
Ficava.
Ficava com raiva de mim?
Como é que a gente vai ficar com raiva do pai?
Mas não acha que um dia vosmecê podia esquecer esse homem?
Não acho, não senhor.
Por quê?
Porque sei o que sinto.
Escute, minha filha. - A voz de Pedro ficou mais branda e ele chegou a dar um passo na direção da moça. O padre olhou para Arminda e viu que as mãos dela tremiam. - Vosmecê nunca se interessou por homem nenhum . . .
Bibiana meneou a cabeça afirmativamente.
E vosmecê não sabe - continuou o pai - que esse homem não tem nada de seu a não ser um cavalo, um violão e uma espada? Que esse homem não tem nenhum ofício e nenhuma serventia? Não vê que vosmecê pode ser infeliz com ele, sempre com medo que ele possa abandonar a casa duma hora pra outra, e ir pra alguma aventura ou seguir outra mulher? Não sabe?
Sei.
E assim mesmo quer casar com ele?
Se ele quiser, eu quero.
O padre agora via na moça a decisão de Ana Terra: o mesmo jeito de falar, quase a mesma voz. Teve saudade da velha, com quem costumava manter longas conversas ao pé do fogão, nas noites de inverno.
Pedro Terra continuou:
E vosmecê sabe que este casamento vai me deixar muito triste ?
Sei, sim senhor.
E apesar disso ainda insiste em casar com ele?
A própria Bibiana sentiu que era Ana Terra quando respondeu:

Parece que é sina um de nós dois ficar triste. Veja só, papai. Se eu me caso com ele, vosmecê fica triste, mas eu fico alegre. Se vosmecê me proíbe de casar, não caso, mas fico triste, e me vendo sempre triste vosmecê vai ficar triste e a mamãe também. Não é melhor só um triste em vez de três?

( Erico Veríssimo – O Tempo e o Vento – Continente I – Um Certo Capitão Rodrigo )

sexta-feira, outubro 14, 2005

Simplesmente irresistível

Quem diria que meus posts inspirassem posts, mas este foi maravilhoso e confesso gostaria de te-lo escrito, mas deliciem-se.



Travessura...
Confesso que não fui visitar cliente nenhum naquela segunda-feira, era só uma desculpa pra atravessar a cidade numa manhã entediante e dizer “oi”. Estava com saudade.
Não devia, em tempos em que tudo é breve e esquecido em menos de uma semana, mas estava. Não me bastavam mais as fotos, estáticas, porém cheias de lembranças do que já conheço e aos poucos vai sumindo de mim, como seu perfume na minha blusa, como o gosto do seu beijo.
Confesso também que não sei respeitar os sinais vermelhos, as placas que me advertem, que gritam aos meus olhos para que eu mantenha distância.
Sou unicamente uma criança grande, que acaba de assumir uma travessura tão gostosa quanto matar aula de Matemática, pegar doces escondido da mãe, nadar na correnteza.
Que sentiu o coração aos pulos quando viu você, perdido em algum lugar dos seus pensamentos. Tão sério. Tão desejável.
Uma criança que não sabe fingir, que ainda não aprendeu a ser adulta, que se nega a jogar com os próprios sentimentos e com os de quem se aproximar.
Uma menina que quer brincar de novo com você.


Bjos a todas as "crianças grandes" do mundo!!!
Abençoadas travessuras...


Silene

quinta-feira, outubro 13, 2005

Um novo dragão, de novo




Tatuagem

(Chico Buarque/Ruy Guerra)

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega Mas não lava
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta Morta de cansaço
Quero pesar feito cruz nas tuas coisas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mãe Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo Mas não sentes






Tenho recebido varias mensagens em off, e-mails, mensagens do orkut e por msn. Estas algumas me congratulam pela coragem de expor sentimentos outras, quase como condolências por uma perda, e compaixão ( não no sentido cristão, de piedade e pena, mas sim, no seu sentido de compartilhar a dor, dividir comigo o que sinto) agradeço a estas amigas, porém, gostaria de deixar muito claro, que o que passo por estes dias apesar de dolorido, como sempre é dolorido reconhecer um erro que cometemos, não é de forma alguma preocupante, afinal, como já disse o pior sintoma é a perda de apetite, e estou emagrecendo todos os quilinhos que ganhei com a felicidade e o natural relaxamento que temos quando estamos comprometidos com nossa verdade. Ou seja, quando nos comprometemos com os nossos próprios sentimentos, amamos verdadeiramente, descuidamos um pouco da balança, temos prazer em viver, e com uma vida prazerosa, não recusamos um leve excesso de boa comida.
Portanto, não sendo Poliana, temos que ver os dois lados da situação.
Primeiro, a dor na separação, ou mesmo na crise que antecede ela, quando a paixão dos primeiros encontros volta redobrada, e nosso coração dispara a um toque de telefone, choramos num final feliz e babaca como o do filme “A Feiticeira”, andamos a flor da pele, e com a certeza até maior do que a realidade acreditamos que tudo pode “acabar bem”, ou seja que é possível um recomeço.
Depois sentir tanto amor e a conseqüente dor pela perda da amada, nos garante, que nenhum sentimento não foi em vão durante o tempo que passamos juntos, pois, procuramos inutilmente alguma mentira ou engodo que amenizasse a mágoa e não encontramos nada que nos que nos convença que tudo foi um enganos, o que nos dá a mais absoluta consciência que amamos e mais amamos muito, durante o período que estivemos juntos, e se vocês como eu, buscam o amor sem medo, podemos nos congratular, afinal, vivemos um grande amor.
E ainda mais na minha idade, quando a maioria das pessoas busca o recolhimento, tanto num casamento acabado, como em relações em que o casal se atura por medo ou se isolam e se conformam por não amar e ainda acham que isto é racional. Eu e alguns poucos, não nos conformamos com uma vida sem amor, e corremos sempre buscando a felicidade.
Assim olhando para o vazio que ficou em mim, separado de quem me preenchia, sinto que vivi um grande amor e só isto me conforta, saber que minha capacidade de amar está intacta, e que portanto, posso depois das feridas cicatrizadas, amar novamente, mais consciente e sem cometer alguns erros bobos de auto avaliação.
Assim sendo, não existe nenhum motivo para preocupação, mas sim esperar que o tempo (o mais lindo dos deuses como diz Caetano) faça o seu trabalho, e o gravar na pele em mais uma tatuagem, a lembrança desde amor que com certeza não devo esquecer, mas que um dia só será lembranças, enquanto o novo dragão, por mais que desbote, estará sempre gravado na minha pela, porque cada um de minhas tatuagens sempre representam um fim, e um novo começo, como o dragão negro da omoplata ou oroboros que marca o meu braço, a morte e o renascimento num ciclo continuo, e o crescente com a estrela, que me garante que sempre havera uma nova vida.

Eu Te Amo

(Tom Jobim/Chico Buarque)

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

domingo, outubro 09, 2005

Viver o Amor




"Ja Domnedeus no.m azir tan
qu'eu ia pois viva jorn ni mes
pois que d'enoi serai mespres
ni d'amor non aurai talan"

"Possa Deus nunca me odiar tanto
a ponto de eu poder viver dia ou mês
depois que como um estorvo eu for desprezado
ou não mais desejar o amor"


“Noih e jorn pes, cossir e velh,
planh e sospir; e pois m'apai.
On melhs m'estai, et eu peihz trai.
Mas us bos respeihz m'esvelha
don mos cossirers s'apaya.
Fols, per que dic que mal traya,
car aitan rich' amor envei,
pro n'ai de sola l'enveya.”

“Noite e dia penso, preocupo-me e velo,
choro e suspiro; e depois me acalmo.
Quanto melhor estou, pior me sinto.
Mas acorda-me uma boa esperança
que apazigua minhas preocupações.
Louco, por que digo que sofro?
Pois se desejo tão rico amor,
o próprio desejo é uma recompensa.”

(Bernard de Ventadorn ...1147-1170...)





Há muito tempo, em 1985, o Gabo, me emocionou muito com seu “Amor no Tempo do Cólera” onde Florentino Ariza que esperou cinqüenta e um anos por Fermina Daza, amando-a a cada dia se preparou e prosperou, enquanto esperava a viuvez de sua amada.
Depois, mais uma vez, em 1994, ele me encantou com o “Do Amor e Outros Demônios” sobre um visionário apaixonado pela história de uma noviça ruiva, que enlouqueceu de amor.
Agora o Gabriel Garcia Márquez, mais uma vez me surpreende com seu Memorias de mis Putas Tristes, um livro que é quase um conto de fadas na 3ª idade. È lindo lêr a história de um homem de 90 anos que após passar pais de 50 anos escrevendo uma coluna sempre igual e enfadonha num jornal, se apaixona, pasmem, por uma menina de 14 anos e virgem. E mais, cuja a vós ele nunca ouviu, pois e todos seus encontros ela estava dormindo. E depois deste encontro, que a principio tinha intenções sórdidas como conterei adiante, este senhor, que durante os seus noventa anos sempre fugiu do amor muda sua vida e sua coluna semanal, que falava sobre a cidade passa a falar de amor e faz com que ele conheça a popularidade e recomece a viver.
Em sua memórias, de uma vida sexual ativa com mulheres de aluguel, ele conta que no seu aniversário de 90, resolveu se dar de presente uma virgem, e faz com que uma Cafetina sua amiga, corrompa uma menina para colocar em sua cama. Pela menina estar muito nervosa, lhe deu uma dose de valeriana e a moça dormiu no encontro.
Uma relação de carinho e troca ocorreu entre a menina adormecida e o velho fauno, musica sussurrada no ouvido, juntamente com poesia e literatura, e mensagens no espelho do prostíbulo, e sem se falarem, aquele que julgava estar a beira da morte renasceu e com esta nova vida apaixonou a cidade toda, com sua colunas dominicais.
Bem, é melhor parar por aqui, é melhor vocês comprarem o livro, é pequeno, barato, e vale cada centavo.
Mas disse tudo isto para falar sobre uma frase do Gabbo, certa vês quando perguntado por um repórter, qual seria mais perigoso:
O Amor no tempo do Colera ou O Amor nos tempos de AIDS ?
Sorrindo, e com olhos sonhadores Gabriel Garcia Marques respondeu:
"Amar, independente do tempo sempre, foi e será perigoso."
E eu complemento, Amar pode ser perigoso, mas que é uma vida sem amor? Seca e triste como do ancião acima? Buscar não sofrer e fugir do amor é mais dolorido que as dores do amor, pois estas, fazem nosso sangue se embaralhar nas veias, nossa cabeça voar e ainda emagrecer, pois dores de amor nos deixam vazios e não é comida que vai nos satisfazer, apenas a lembrança sacia e preenche, alimentando e nos mantendo vivos.
Amar por mais que doa e seja arriscado nos faz sentir vivos, e mesmo nos finais a dor mais intensa é a das boas lembranças que temos do relacionamento. E estas memórias nunca morrem, voltando sempre a nossa lembrança, fazendo com que vivamos aquele amor que acabou, junto como outros mais antigos e outros mais recentes, até o fim de nossas vidas. Se perguntados no leito de morte se temos algo a confessar, podemos sorrir e repetir Pablo Neruda, no titulo de suas memórias: “ Confesso que Vivi ”




SONETO XXXIII
Amor, ahora nos vamos a la casa
donde la enredadera sube por las escalas:
antes que llegues tú llegó a tu dormitorio
el verano desnudo con pies de madreselva.
Nuestros besos errantes recorrieron el mundo:
Armenia, espesa gota de miel desenterrada,
Ceylán, paloma verde, y el Yang Tsé separando
con antigua paciencia los días de las noches.
Y ahora, bienamada, por el mar crepitante
volvemos como dos aves ciegas al muro,
al nido de la lejana primavera,
porque el amor no puede volar sin detenerse:
al muro o a las piedras del mar van nuestras vidas,
a nuestro territorio regresaron los besos.
( Pablo Neruda)

terça-feira, outubro 04, 2005

I am very happy




Here's a little song I wrote
You might want to sing it note for note
Don't worry, be happy
In every life we have some trouble
But when you worry you make it double
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy now

Don't worry, be happy Don't worry, be happy
Don't worry, be happy Don't worry, be happy

Ain't got no place to lay your head
Somebody came and took your bed
Don't worry, be happy
The landlord say your rent is late
He may have to litigate
Don't worry, be happy
Don't worry, be happy

Don't worry, be happy, Don't worry, be happy
Don't worry, be happy, Don't worry, be happy

segunda-feira, outubro 03, 2005

Lembrei tanto deste dia

[Segunda-feira, Abril 26, 2004]


Ver-te ao alcance da boca






Lindeza
Caetano Veloso


Coisa linda
É mais que uma idéia louca
Ver-te ao alcance da boca
Eu nem posso acreditar
Coisa linda
Minha humanidade cresce
Quando o mundo te oferece
E enfim te dás, tens lugar
Promessa de felicidade
Festa da vontade
Nítido farol, sinal
Novo sob o sol
Vida mais real
Coisa linda
Lua lua lua lua
Sol palavra dança nua
Pluma tela pétala
Coisa linda
Desejar-te desde sempre
Ter-te agora e o dia é sempre
Uma alegria pra sempre

sexta-feira, setembro 30, 2005

Corpo e Fala



É na sua arte que o artista encontra, pela imaginação,
um feliz compromisso com tudo quanto o feriu na vida
cotidiana, e não para escapar ao seu destino, como faz
o homem vulgar, mas para realiza-lo da forma mais adequada
e completa que lhe for possível. Senão, porque haveríamos
de ferir uns aos outros? Não, a Paz que eu procuro nunca
será dada, nem pelos olhos de Melissa onde a temperatura
brilhava, nem pelas pupilas ardentes e negras de Justine.
Tomamos todos nós, caminhos diferentes; mas aqui no
primeiro desastre da idade madura, sinto que a recordação
delas enriquece e aprofunda, para além de todos os limites,
os confins da minha arte da minha vida.
(Lawrence Durrell , Justine, 1º volume do Quarteto de Alexandria)



Eu não me sinto nem alegre nem triste; estou suspenso no ar como uma paina que é levada ao sabor das brisas pelos meandros da minha mente.
Como culpar alguém, pelo que aprendemos na juventude da nossa espécie? Durante o longo período glacial, os homens da Idade da rena os caçadores conversavam por sinais corporais, afinal, muito cedo os animais aprenderam a temer os sons humanos, e assim as caçadas eram em silencio, durante o cerco e a escolha do animal apenas sinais, jeitos de corpo e expressões faciais. Já as mulheres como coletoras desenvolveram a fala, para trocar informações sobre o que coletavam. Quem sabe por isto mulheres precisam tanto de palavras, que também são signos e sinais.

Assim enquanto o corpo masculino fala mais que o feminino, sutilezas que nos voltam do fundo da mente, e como o nosso corpo fala e para a linguagem do corpo não existem sinônimos nem tampouco variações de duplo sentido, o corpo fala e tudo que ele diz é verdade. Muitas vezes a mente masculina trava nas palavras, porem a pele e os músculos dizem tudo que queremos dizer.

Mas as mulheres precisam das palavras, ainda que tremendamente enganadoras, pois podemos falar uma coisa e dizer outra, e como palavras são signos elas se guiam por estes sinais. Um bom discurso romântico, por vezes diz mais a elas que todo o envolvimento de um abraço e beijos podem dizer mais que uma coletânea de poesias.

Muitas vezes quando pretendo ser inteiramente sincero, fujo das palavras, até porque o corpo nunca mente. Podemos até mesmo ser atletas sexuais, e podemos dançar uma coreografia de conquista, porem saciado o desejo nosso corpo rejeita ao outro, em gestos involuntários de recusa. Mas se soubermos trabalhar com as palavras e seus muitos significados, podemos ter melhores resultados, que um envolvimento e perfeito encaixe físico. Vai ver que é por isto que enquanto as mulheres buscam discutir a Relação, nós homens preferimos o corpo a corpo

Como hoje meu corpo que dizer mais que as palavras fiquem com John Donne poeta inglês nascido em 1572, e suas Elegias Amorosas, mais precisamente a Elegia XX – “A guerra do Amor” onde depois da conquista vem a o ato sexual, e neste ouçam este poeta que fala tão bem palavras, sobre dois corpos, que nem precisam de palavras.

Até que esteja em paz contigo, guerreia outros homens,
E quando eu tiver paz, poderei então deixar-te?
Todas as outras Guerras são escrupulosas; só tu
Ó bela Cidade franca, a ti própria te deves abrir

5 A quem quiseres: na Flandres, quem pode dizer
Se o Senhor oprime; ou os homens se revoltam?
Só nós sabemos, o que dizem todos os idiotas,
Sofre mais golpes quem participa na refrega.
A França na sua frivolidade lunática odiou

10 Sempre os nossos homens, sim, e o nosso Deus recente;
Porém confia bem nos nossos Anjos,
Que nunca voltam; não mais do que os que caíram.
A Irlanda doente está possuída de uma estranha guerra
Igual a uma Sezão - agora furiosa, agora em repouso

15 Que o tempo curará; porém far-lhe-ia bem
Se fosse purgada, e se da vã cabeça sangrasse.
As alegrias de Midas dão-nos as viagens a Espanha,
Tudo o que tocamos é ouro, mas não há comida para viver.
E no clima quente e abrasador eu ficaria

20 Reduzido a pó e cinzas antes do meu tempo.
Engaiolar-me num navio, é sujeitar-me
A urna prisão, com hipóteses de ruir;
Ou num claustro; só que ali os homens meditam
Num céu calmo, e aqui num inferno elegante.

25 Viagens longas são longas destruições,
E os navios são carretas para execuções.
Sim, elas são Mortes; Não a mesma coisa voar
Para um outro mundo, como o é morrer?
Aqui deixa-me guerrear; deixa-me ficar nestes braços;

30 Deixa-me parlamentar, arrombar, sangrar e desfalecer.
Os teus braços prendem-me, e os meus a ti;
O teu coração é o teu resgate; toma o meu por mim.
Outros homens guerreiam para o seu descanso conquistar;
Mas nós descansaremos para podermos de novo lutar.

35 Aqueles guerreiam os ignorantes, estes o experiente amor,
Ali estamos sempre vencidos, aqui vencedores.
Ali os Engenhos distantes suscitam um vero e justo medo,
Mais perto estocadas, piques, punhaladas ou balas não ferem aqui.
Ali é errado estar deitado; aqui é seguro ficar erecto;

40 Ali homens matam homens, nós faremos um de cada vez.
Tu nada; eu nestas guerras nem metade farei
Do quanto farão aqueles que de nós dois
Vão nascer. Milhares vemos que não partem
Para as guerras; mas, espadas, armas e balas

41 Em casa ficam a fabricar. Não farei então eu
Serviço, mais glorioso ficando para fazer homens?
(John Donne Elegias Amorosas)

terça-feira, setembro 27, 2005

Tudo Ficou no Lugar



Deusa, depois que nos separamos, desde o seu retrato na penteadeira, até o saco plástico com os livros que você me devolveu. Outras coisas ainda permanecem, um suave cheiro de canela, que chega as minhas narinas, daquelas flores secas que você me deu junto com a caneca de corações, ainda bebo meu café diariamente nela. Dedicatórias em livros que amo, tanto porque foram desejados, quanto por sua vontade de que nos péssimos momentos que vi não ficasse sem os meus desejos literários. Seu tubo de Hair Spray ainda na penteadeira, perto do seu sorriso, que olho todas as noites antes de dormir.

Na solidão das noites frias, encolhido e coberto, os lençóis não impedem que algo do aroma de nós dois, impregnado no colchão transcenda a fina barreira da cambraia, e durmo com você nos meus pensamentos, noite após noite, por sorte você ainda não invadiu meus sonhos, afinal, no sono é o único período do dia em que não penso em você. Ainda que acorde durante a noite, buscando seu corpo no pequeno retângulo da cama, até que volte das profundezas da mente e perceba que você não está mais lá e que vai ser difícil voltar.

Mas como você bem lembrou, eu sempre dizia, que a vida é feita de escolhas e eu escolhi te perder. Uma escolha dificil, entre a minha felicidade ou a sua, e eu preferi a sua. Já vivi tanto e tantas coisas que me trouxeram alegria e ventura, que de forma nenhuma pelo que eu sentia por você eu poderia ser tão egoísta nesta hora, afinal eu não podia alimentar sonhos que quem sabe eu não deveria mais sonhar.

Não, não abdiquei dos meus sonhos, mas sim, liberei você para os seus, para que você siga o seu caminho com os planos que você já tinha antes de me conhecer. Se minha escolha foi certa ou errada o tempo deve dizer, o tempo é o senhor da verdade só mesmo ele nos mostra a verdade. Porem... isto agora não importa tanto, oxalá você realize todos os seus desejos, e eu mais tarde te encontre radiante e feliz, pois apenas isto vai dizer que minha escolha foi acertada.

Sinto muito sua falta, mas como já disse antes, sei que jamais vou morrer de amor, embora em alguns momentos parece que errei ao falar isto.

Eu quero que você siga a sua vida e seus planos, mas, se você ainda acreditar que eu sou a sua vida, que ainda podemos fundir nossos sonhos, volta, nada mudou tudo ficou no lugar, você ainda é única.

Nada Ficou No Lugar
Adriana Calcanhotto

Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas chícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família

Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu rosto
Eu quero roubar no seu jogo
Eu já arranhei os seus discos

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha pra mim

Nada ficou no lugar
Eu quero entregar suas mentiras
Eu vou invadir sua aula
Queria falar sua língua

Eu vou publicar os seus segredos
Eu vou mergulhar sua guia
Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria

Que é pra ver se você volta
Que é pra ver se você vem
Que é pra ver se você olha pra mim

terça-feira, setembro 13, 2005

Pesos e Medidas



“O corpo, devido ao peso, tende para o lugar que lhe é próprio, porque o peso não só tende para baixo, mas também para o lugar que lhe é próprio. Assim o fogo encaminha-se para cima, e a pedra para baixo. O azeite derramado sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste: movem-se segundo o seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que não estão no próprio lugar agitam-se, mas quando o encontram, ordenam-se e repousam.
O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva.”( Sto. Agostinho- Confissões)


É incrível, mas limitados como somos. Nós humanos, nos julgamos capazes de dar pesos e medidas para coisas tão sagradas quanto o amor. Em jogos românticos, ficamos dizendo e abrindo os braços, tentando dar medida ao nosso amor que muitas vezes naqueles momentos é maior que todo o universo.

Discutimos e apontamos o dedo dizendo ao companheiro/a; que nós o amamos muito mais que este nos amou, ou que nunca ele/a nos amou de verdade.

Medimos o amor segundo os nossos conceitos, e dificilmente tentamos sentir com a experiência do outro, usamos nosso referencial e esquecemos que falamos de outra pessoas, que viveu uma outra vida, geralmente muito diferente da nossa.

Estas desmedidas medidas que muitas vezes usamos, nos afasta de quem amamos, pois quando medimos ou damos pesos para sentimentos, esquecemos que estes são coisas impalpáveis e que portanto não podem ser quantificados por nossa limitada mente.

Podemos apenas falar de nós mesmos e até porque o amor é confiança, e se não confiamos no amor do outro de certa forma é porque duvidamos do nosso próprio querer.

Relembrado neste fim de semana sobre um livro do Jean Paul Sartre, O Ser e O Nada, onde vemos que a razão de ciúmes e desconfianças sobre os amores passados vemos que ocorre é porque enquanto o ser amado, amava no passado, para ele não existíamos, e quando passamos a existir não aceitamos que outros sentimentos e outras pessoas já haviam feito aquele a que amamos sentir emoções que hoje queríamos que fossem todas as emoções e sentimentos fossem todos a nós devotados. Esquecendo que cada amor é único, e que cada sentimento, beijo e sonho é novo, é portanto maior e mais forte do que aqueles do passado.
Aí então pensamos que nossa dor é única e que por não sermos compreendidos e consolados o amor não existe, quando inocentemente aquele que nos ama por nenhum momento acredita que nosso ciúme tenha fundamento, o que só faz a dor aumentar.

Não percebemos em nossa dor, que com o nosso sofrimento causamos dor naquele que só queríamos dar felicidade, mas machucados e doloridos só olhamos para nós mesmos e sentindo pena pela nossa dor nunca imaginamos o quanto isto causa de dor no outro.

Assim, como o amor existe para trazer alegria e prazer, a dor só consegue matar o amor, as vezes devagar com muito sofrimento ou se encontramos alguém que mesmo ferido, não perdeu as esperanças da felicidade, que se vai nos deixando com a nossa dor e sai carregando as suas, já que é um sobrevivente e sabe que que a dor não mata e que um dia acaba.


"Notícia de Jornal"
Luís Reis e Haroldo Barbosa


"Tentou contra a existência
no humilde barracão
Joana de tal,
por causa de um tal João
Depois de medicada,
retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe,
ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma
mulata triste que errou
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou
Na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal."

quarta-feira, agosto 24, 2005

Inúteis Sonhos



Existem pessoas que não percebem os tempos verbais, vivem relendo cartas, escritos, dedicatórias e antigas mensagens como se a tinta ainda estivesse molhada e fresca sobre o papel que embora amarelado pelo tempo, continua pelos olhos de quem vê imaculadamente branco e liso, mesmo que amarrotado.

Estes que assim agem ignoram o tempo, não percebem que as dores que causaram, e que sofreram é claro minaram o que existia de bom em tudo que foi escrito. Não percebem, que o tempo curou muitas feridas e que outras que ainda sangram perderam o sentido em sangrar e se não cicatrizam é porque precisam ficar na memória para que os enganos ocorram novamente, o que é no fundo instinto de sobrevivência.

O passado é algo que não existe mais e é impossível resgatar um sentimento perdido, amores do passado, são apenas lembranças boas e más, que nos ensinam para o futuro, apenas isto. A arqueologia amorosa resgata apenas lembranças e histórias, como a arqueologia, não revive civilizações nem pessoas, apenas registra.

Estas pessoas que vivem no amor passado, agem como quem carrega um feto morto no ventre, porque esperam um milagre e temem nunca mais engravidar; apodrecem e morrem para a vida, caminham pelo mundo sem alma arrastando correntes e penas que nunca existiram.

Às vezes lamento por pessoas assim, que tem um mundo a descobrir e vivem numa escura e fechada tumba, não olhando nem para si nem os que a rodeia, gastando toda potencialidade do amor com o passado e se negando ao amor presente e real pelos que a rodeiam.

Voam e sonham com o passado, criam fantasias e fogem da vida. Ao invés de abrir as janelas e deixar que o vento renova as energias e miasmas e que o tempo cure todos os males.

Vivem como viveu Enone, percorrendo todos os dias as encostas do monte Ida, lendo seu nome enlaçado por um coração ao nome de Paris, que este escreveu por quase todas as arvores da região, mas que agora vivia no palácio real de Tróia, junto a Helena o seu novo amor. Enquanto Enone se remoía de ódio, buscando com as feiticeiras da Tesalia, os feitiços para apressar o fim de Tróia e que a flecha de Filoctetes, trouxesse Paris de volta.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Construindo um amor



Há anos que eu digo que não acredito em almas gêmeas ou amores a primeira vista, Não posso acreditar em alma gêmea, pois isto seria uma visão fatalista pois o seu sucesso amoroso iria depender da sorte de encontrar sua alma gêmea, ou do destino (algo fatalista) de te levar ao encontro de sua única possibilidade de amor durante uma existência com centenas ou milhares de vida.

Já o caso da primeira vista acredito (inclusive vivi muitas) em paixões a primeira vista, que podem, se houver investimento, se transformar em amor e porque não, num grande amor.

Eu sempre disse, e quem lê o que escrevo há mais tempo deve lembrar, que eu defendia (e continuo defendendo) a tese de que o amor é algo que se constrói devagar, com empenho e paciência.

A paixão é um sinalizador de potencialidade e possibilidade de amor. Coração disparado, falta de fome e vontade de entrar em forma, ginástica, malhação, cuidados com os cabelos, e às vezes até unhas feitas em manicura. Bobeiras, risos a toa nos congestionamentos, rapidamente interrompidos quando percebe que a senhora do carro ao lado te olha como com cara de espanto.

A paixão é algo tão bom, que gostaríamos que estas sensações fossem eternas e de certa forma achamos que amor é isto, afinal é tão bom estar apaixonado que acreditamos que paixão é amor, e quem sabe por isto esquecemos ou nem sequer aprendemos o que é amor.

Amor é muito mais que estar apaixonado, por isto que é muito mais difícil amar, que se apaixonar. Amor de certa forma é confiar tanto, que entregamos nossa vida ao outro e em contrapartida recebemos a vida do parceiro para cuidar.
E creio que vocês concordam comigo, ter uma confiança destas, não é coisa que se consegue do dia pra noite, cofiar a ponto de se deixar cair de costas e saber que alguém sempre estará lá pronto para te segurar, ainda que seja centímetros antes de se arrebentar no chão.

Amar é um exercício diário de se entregar ao outro, ainda que não falemos, amar é também cuidar do amor, independente de falarmos ou não eu te amo, devemos entender o amado e se possível sempre dar credito a quem amamos, afinal amor é algo de mão dupla e só amamos verdadeiramente quando somos amados na mesma intensidade. Quando existe uma disparidade entre o amor de um para o outro, possivelmente deixamos de falar em amor e começamos a imaginar algum distúrbio de personalidade, afinal amar sem ser amado é doença. E Amar é para ser feliz, sem felicidade não existe amor.


Para Viver um Grande Amor

Para viver um grande amor,
Preciso é muita concentração e muito siso,
Muita seriedade e pouco riso
- Para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser
Um homem de uma só mulher;
Pois de muitas, poxa!
É de colher...
- Não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor,
Primeiro é preciso
Sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
- Seja lá como for.
Há que fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
- Para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo,
É preciso atenção como o "velho amigo ",
Que porque é só vós quer sempre
Consigo para iludir o grande amor.
É preciso muitíssimo cuidado
Com quem quer que não
Esteja muito apaixonado,
Pois quem não está,
Está sempre preparado
Pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, na realidade,
Há que compenetrar-se da verdade de que
Não existe amor sem fidelidade
- Para viver um grande amor.
Pois quem trai seu amor por uma vaidade
É desconhecedor da liberdade,
Dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, "il faut ", além de ser fiel,
Ser bem conhecedor de arte culinária e judô
- Para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito,
Não basta ser apenas um bom sujeito;
É preciso também ter muito peito
- Peito de remador.
É preciso olhar sempre a bem-amada
Como a sua primeira namorada e
Sua viúva também,
Amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista
Um crédito de rosas na florista
- Muito mais, muito mais que na modista!
- Para aprazer o grande amor.
Pois do que o grande amor quer saber
Mesmo, é de amor, é de amor,
De amor a esmo; depois, um tutuzinho
Com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos,
Camarões, sopinhas, molhos, estrogonofes
- Comidinhas para depois do amor.
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha,
Para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito,
Muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
- Pra não morrer de amor.
É preciso um cuidado permanente
Não só com o corpo mas também com a mente,
Pois qualquer "baixo" seu, a amada sente
- E esfria um pouco o amor.
Há que ser bem cortês sem cortesia;
Doce e conciliador sem covardia;
Saber ganhar dinheiro com poesia
- Para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque
(com mau bebedor nunca se arrisque! )
E ser impermeável ao diz-que-diz-que
- Que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada,
Se nesta "selva obscura" e desvairada
Não se souber achar a bem-amada
- Para viver um grande amor.

*Vinicius de Moraes*

quinta-feira, julho 28, 2005

Perolas são para Poucos




Um dos spans que mais detesto, entre centenas de mensagens edificantes que pregam a bondade, o amor e a humildade, é aquele que fala que as perolas são fruto de ostras sofredoras, pois ostras felizes não fazem perolas.
Alem de um QI de ostra quem repassa coisas como esta com certeza nem leu direito o que está escrito, afinal o que existe de bonito ou de edificante no fato que só sofrendo muito, é que conseguimos produzir beleza.
Sempre achei que é um instrumento de dominação esta história de que somente o sofrimento nos redime, que apenas sendo um sofredor podemos pleitear um lugar no paraíso. E o que podemos entender é que sendo felizes seremos como as ostras felizes nunca produziremos uma perola, pois esta é a paga dos infelizes.
Também não entendo isto, afinal tive uma mulher que adorava perolas, e algumas vezes dei perolas para ela, e ela ficou muito feliz em recebê-las, creio que nem pensou no sofrimento das ostras, para produzir aquelas perolas. E o pior,um dos colares que dei, era enorme de perolas cultivadas, ou seja homens, jogaram dento da ostra uma conta, que se transforma em perola depois de algum tempo.
O que será que uma ostra sente quando um grão de areia se aloja nela? Ou o que será que ela sente quando sua concha é aberta e é arrancada com os dentes antes de ser mastigada e engolida.
Crueldade das mulheres que adoram perolas e crueldade dos homens que comem as outras cruas, para lembrar de suas mulheres, no aroma e no sabor da ostra. Se todos não gostassem de mulher como os comedores de ostra com limão, que na verdade engolem a ostra rapidamente e ficam apenas com o acético sabor do limão na boca.
Já os que gostam de ostra e de mulheres, foram possivelmente os que descobriram a perola, pois estes mordem e mastigam ao invés de engolir, buscam reter na sua boca o sabor feminino do mar, e por isto não engoliram as perolas junto com a ostra. Foram presenteados pela deusa mãe com seus tesouros, talvez por gratidão da Terra a um humanos que saboreia e entende o ctônico, e sente saudade do pântano salobro de onde veio a criação.



“O pântano ctônico feminino de Dioniso é habitado por invertebrados silenciosos e pululantes. Sugeri ser justificado o tabu ligado às mulheres, e que a infame “impureza” da menstruação se deve não ao sangue, mas às gelatinas uterinas nesse sangue. O pântano primevo é coalhado de albumina menstrual, a morna matriz da natureza, fervilhante de algas e bactérias. Temos uma comida que simboliza esse pântano: a ostra crua na concha. Há vinte anos, notei as fortes reações provocadas por esse pitéu, a que poucos são indiferentes. As atitudes comuns vão do êxtase à repulsa. Por quê? A ostra é um microscomo da higra physis feminina. É tão estética e psicologicamente inquietante quanto o albúmen menstrual. A informidade primitiva da ostra dá acesso sensual a alguma arcaica experiência do pântano.
A Vênus de Botticelli chega à praia numa concha. O amor sexual é um mergulho oceânico no atemporal e elemental. G. Wilson Knight diz: "A vida surgiu do mar. Nossos corpos são três partes água, e nossas mentes compostas de salgadas luxúrias" O corpo da mulher recende a mar. Ferenczi diz: "A secreção genital da fêmea entre os mamíferos superiores e humanos tem um distinto odor de peixe (odor de salmoura de arenque), segundo a descrição dos fisiologistas; esse odor da vagina vem da mesma substância (trimetilamina) a que a decomposição do peixe dá origem". Estou convencida de que as ostras cruas têm um caráter cunilingual latente, que muitos acham repugnante. Comer uma ostra recém-matada, mal morta, é um mergulho bárbaro, amoroso, no frio mar salgado da natureza”.
(Camile Paglia, em Personas sexuais)

quarta-feira, julho 20, 2005

Palavras Caladas



É estranho como as vezes como que do nada, através de uma musica, um cheiro, foto ou algum pequeno fragmento de memória nos acerta antes mesmo que a gente perceba, um vórtice nos atinge e em átimos de segundos somos arrebatados por uma fenda do tempo e revivemos uma situação ocorrida a milênios, quando a terra ainda era nova e eu anda acreditava em morrer de amor, coisa que pra quem leu o post abaixo sabe que não acredito mais. Porém quando estes loucos déjà vus criam um verdadeiro rendez-vous com nosso próprio passado.
Assim quando querendo assistir Ray, os primeiros acordes de piano, de Georgia On My Mind, me levaram para o primeiro ano da Década 70’ em Peruibe, litoral sul de São Paulo, num bar chamado Play Bar onde um conjunto chamado os Condors tocaram a musica, que me fez atravessar a pista e tirar uma moça pra dançar.
Uma deusa, cabelos castanhos escuros numa longa trança, grandona, um rosto misterioso, que conhecia aqui de Sampa, mas que até aquele momento não acreditava ter nenhuma chance. Mas acaso ou vontade dos deuses, ou o apelo da musica, mal começamos a dançar, nos agarramos e os lábios se tocaram, para que os beijos engolissem todas as palavras que poderiam ser ditas, e da pista de dança para um canto do bar, do bar pra praia e nossas bocas que nada falavam se consumiam ávidas, como se de cada beijo dependesse a vida. Respirávamos o ar um do outro e nossa saliva era a mais alucinante das bebidas que como um rápido vício criava dependência fazendo que fosse impossível falar sobre o que sentíamos.
Selamos com beijos a paixão, tudo que poderia ser dito foi falado através de toques, leves mordidas e lambidas. Uma noite inteira de beijos apaixonados repleta de desejos incontidos e promessas explicitadas em sussurros inaudíveis o que permitia que todos os sonhos fossem verdadeiros, e que todas as promessas que não foram feitas tivessem chance de serem cumpridas.
Mas naquela época eu acreditava que podia morrer de amor, e na semana seguinte quando voltei a praia para reencontra-la, já conheci outra no caminho, mas ainda assim passamos mais uma noite de beijos( poucas garotas faziam sexo em 1971) e na terceira viagem, ela foi que já estava conhecendo outro, e pra não ficar sozinho, também fiquei com outra.
Quem sabe se o medo de morrer de amor, afastou a gente, o medo de amar o medo de se entregar, de fechar os olhos e largar o corpo para trás sabendo que alguém que você confia estará ali, sempre pronta para te segurar antes que a cabeça se espatife no chão.
É claro que as vezes os deuses nos dão uma chance, e fazem com que algumas situações se repitam. É claro que a musica, o local e a pessoa não são mais a mesma, mas é nos dado uma nova oportunidade e agora passando tanto tempo, arriscar mais, e não fugir e quem sabe, o que não ocorreu com Georgia On My Mind, possa ocorrer com What Am I toYou? Cantado pela Norah Jones ? Afinal uma noite de beijos e de promessas caladas valem tanto, nestes tempos de palavras vazias, e os sentimentos e os sentidos valem muito mais que as palavras e os signos que esta carregam.


O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre
Composição: B. Guedes/F. Brant


O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar
Prá ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz

quarta-feira, julho 13, 2005

Amar o amor.



Quando descobri que não morreria de amor, percebi que podia amar muito mais, pois perdi o medo de amar.

Antes de tomar a consciência disso claro que doeu muito, e varias vezes acreditei que o amor me mataria, mas, por mais que doesse, não matava, por mais que o mundo ficasse escuro e sem graça eu também não me matava. E continuando vivo encontrava um novo amor.

E de paixão em paixão percebi que o amor, já que não matava, também ele não morria, vivia pra sempre. E percebi então, que podia continuar amando até mesmo com os amores que antes acreditei que me matariam, e estes já não incomodavam, mas sim, davam força para que eu continuasse amando cada vez mais e com mais intensidade.

O amor não morre quando uma relação acaba, ele continua vivo, e quando não aceitamos isto, o trocamos por ódio, desilusão e angustia, apenas porque não suportamos o simples fato de que a vida continua, e quem tanto quem amamos, possa ser feliz longe de nós. Somente o tempo nos mostra que também seremos felizes com novos amores, e bastando para isto dar uma oportunidade ao amor.

Quando não renegamos o amor ou fugimos dele, este passa a fazer parte da nossa vida e podemos amar quem já não convive conosco. Não amamos o passado, afinal o passado é o que deixou de existir e os momentos de amor que tivemos não deixarão de existir, continuarão vivos enquanto durar nossa existência, pois todo momento de amor é eterno e é quase impossível nos esquecermos deles, já que se entranham no nosso corpo e alma, se fundem a nós permanecendo sempre em nossas lembranças.

Assim de amor em amor, acumulando momentos e lembranças nos aperfeiçoam na arte de amar e amamos com mais intensidade, pois como dizia o Poetinha sobre o amor que teve: Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure.

Assim a cada amor aprendemos a amar mais e a cada novo amor o fazemos com mais intensidade, pois quando percebemos que amor não mata, passamos a viver de amor.


De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

terça-feira, julho 05, 2005

O Tempo



Hoje acordei e percebi que o mês havia passado sem que eu me desse conta.
Fora as contas que vencem mensalmente, nada mais indicava a passagem do tempo.
Não deu pra perceber que envelheci um mês, afinal já tantas cãs povoam minha cabeça que é impossível perceber se há novas, nem as poucas rugas que tenho (pelo menos eu não as vejo, devo ter me acostumado.), mas de qualquer forma o mês de junho passou sem que eu percebesse e já adentramos em julho.
E não foi apenas isto, foi um pouco mais, Maio também passou muito rápido, possivelmente Abril, Março, Fevereiro e Janeiro também, como se o tempo estivesse descontrolado e voraz como só mesmo o Tempo pode ser. Este abocanha rapidamente e engole as mordidas que dá na minha vida. E percebi que este ano inteiro que passou, e quem sabe o anterior também passaram rápida e placidamente, como nuvens que cortam o céu, sem rastros ou marcas, simplesmente se foram.
Será que vivi com tanta intensidade este ultimo ano, de uma maneira que dias e noites se fundiram com as semanas e quinzenas ?
Bem, pode ter sido isto, de certa forma fui voraz no amor. Amei com bastante força e intensidade este ultimo ano. Escrevi pouco, vi menos filmes, deixei realmente menos rastros de minha passagem na vida. Guardei poucas lembranças, já que neste período, tudo é tão vivo e presente, que nem gastei memória. Os cheiros do amor no quarto, nos lençóis encharcados de suor e impregnados de nós. O calor que fica na cama mesmo depois que ela se vai (onde me aconchego para sonhar com o que acabei de viver). O rastro de roupas, os sapatos e carregadores de celular esquecidos displicentemente pelo quarto, acrescidos pelo desejo de sua volta, não deixam que eu guarde na lembrança as noites que passam, pois só penso nas noites que ainda não vieram, não me lembro do que fizemos, pois só penso no que ainda faremos.
Talvez seja isto, tanto estou no futuro que o tempo passa ao meu redor e não me atinge. Esta sede, creio, faz com que as cãs retrocedem, afinal os velhos é que pensam no passado, eu só penso no futuro. Que é a próxima noite, ou seja Hoje.